Pino Gomes: “Prefiro estilo e atitude”

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Xenia Tchoumitcheva em imagem para o Swiss Development Group

Conselhos de mãe costumam ser sábios, e o que Pino Gomes ouviu da sua não deixou de moldar seu caminho pela fotografia, ainda que causasse arrepios em fotógrafos de outras áreas: “A câmera foi feita para fotografar gente e não paisagens, que não servem pra nada”, ensinou dona Ida, no que foi a primeira lição que Pino recebeu sobre essa arte. Carioca, 39 anos de idade, ele vive atualmente em Nova York, onde conduz uma bem-sucedida carreira profissional. Já visitou meio mundo fotografando, fez fama como “olho” de uma famosa marca de relógios suíça e está sempre ao lado da beleza e do glamour. Numa demonstração de que é menino bom e obediente, ele fotografa pessoas.

O episódio que deu origem a tudo isso, é uma história que Pino adora contar. Dona Ida era a fotógrafa da casa, sempre zelosa do álbum de família e com frases oportunas sobre o ofício que praticava com paixão: “Temos que fotografar os velhos e as crianças”, dizia. Uma ocasião, Pino tinha dez anos, chegaram alguns parentes de São Paulo. Foram todos à praia do Recreio. Dona Ida confiou sua câmera ao filho, cobriu-o de recomendações e pediu que tirasse algumas fotos dos primos e avós aproveitando a praia.

“Eu recebi a incumbência com muita seriedade, mas, quando chegamos na praia, eu escalei uma pedra que fica a poucos metros para dentro do mar. Como a maré estava baixa, foi fácil chegar até a ilhota. Escalei a pedra com o ímpeto de um desbravador e, quando cheguei lá em cima, no topo, tive uma visão incrível da então quase selvagem Barra da Tijuca e da praia do Recreio. Resolvi fazer uma foto dessa paisagem paradisíaca”, relata.

Dias depois, quando finalmente chegou o envelope com as ampliações, dona Ida puxou o filho de canto e aplicou-lhe um sermão, proferindo a frase lapidar. “Hoje eu lembro dessa lição com carinho… mas acredito que de certa forma ela moldou o meu espírito fotográfico”, reconhece Pino. “Hoje eu me pego às vezes economizando cliques numa foto de paisagem e dou risada quando penso na lição torta da minha mãe”.

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Foto de Pino Gomes para make de Frances Hathaway em Nova York

Frustrado em seus planos de ser um futuro Ansel Adams, o rapaz teve o consolo de ganhar logo em seguida uma câmera descartável, do tipo Love, de presente da avó. Brincava de fotografar usando primas e irmã como modelos, mas tinha sonho mesmo de ser ator de teatro. A família achou aquilo uma bobagem e o encorajou a tentar a sorte na fotografia. E foi assim que, aos quinze, fez seu primeiro curso profissional no Senac do centro do Rio. Dois anos depois, passou a prestar assistência. Auxiliou fotógrafos como Aderi Costa, Rodrigo Lopes, Ricardo Cunha, Vicente de Paulo, Claudia Jaguaribe e Clicio Barroso, os dois últimos em São Paulo.

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Pino Gomes virou “embaixador” de marca de relógios suíça (foto: autorretrato)

“Trabalhando com esses profissionais eu aprendi muitas coisas e pude entender como funcionava o trabalho de um fotógrafo profissional. Um dia, eu entendi que a fotografia era cada vez maior e mais presente na minha vida, e o teatro foi perdendo espaço dentro das minhas atividades. As duas coisas caminharam juntas por um tempo, mas um dia, aos 25 anos na época do nascimento do meu filho Pedro, eu tive que montar meu primeiro estúdio e começar a dedicar todo o meu tempo à profissão de fotógrafo. Desde então, nunca mais parei”.

Pino foi tentar a sorte na Europa. Como tinha conhecidos em Zurique, na Suíça, começou por lá. Fazia fotos de modelos para agências locais, realizou alguns trabalhos em Milão e em Paris, até que entrou nessa história o Smart Luxury Moments. Foi um divisor de águas. Na verdade, Pino considera-o uma verdadeira benção.

“Cindy Livingstone, CEO da marca de relógios suíços GC Watches, tinha feito um trabalho comigo em Zurique e logo em seguida o setor criativo da empresa estabeleceu uma estratégia e projeto de marketing muito interessantes e inovadores”, conta. A ideia era pegar alguns fotógrafos emergentes para fotografar um grupo de personalidades de destaque em momentos de “luxo inteligente”. O piloto foi feito na Inglaterra. “Logo em seguida, a empresa trouxe a ideia para ser testada na Suíça, onde os relógios são fabricados. Na Suíça eu fui o fotógrafo escolhido e fiz todo o processo, fotografei as personalidades em seus momentos de completa entrega em seus trabalhos. Escolhi usar o preto e branco como uma forma de unificar essa coleção de fotos e intensificar a emoção nas imagens”.

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Foto feita para a revista ‘Fiasco’, de Londres

Durante o lançamento da campanha, na feira Baselworld 2011, uma satisfeita Cindy Livingstone conversou com Pino sobre sua intenção de internacionalizar a campanha e concentrá-la toda em suas mãos. “E então, durante dois anos, eu tive esse trabalho maravilhoso, que foi um verdadeiro luxo inteligente pra mim. Durante o projeto eu virei uma espécie de embaixador da marca e participei de vários eventos ao redor do mundo. Foram 38 cidades em 24 países. Essa aventura culminou em um livro, chamado Smart Luxury Moments by CG Watches captured by Pino Gomes”, relembra o carioca, que agora vive com a esposa suíça em Nova York (EUA) e tem desenvolvido trabalhos especialmente na área de beleza. “Acabei me envolvendo intensamente com maquiadores importantes desse mundo: Romero Jennings, Frances Hathaway, Moisés Ramirez, Beau Nelson… Meu último trabalho foi uma campanha para a empresa Make Up For Ever, da Louis Vuitton”.

Segundo ele, o trabalho nesse segmento consiste em apontar tendências, o que deve ser feito com um olhar de moda, aliado ao domínio técnico. Analisando o próprio estilo, Pino percebe como diferencial o modo como dirige seus modelos: “Faz com que eles tenham uma certa atitude que é bem uma característica minha. Talvez, parafraseando a música [A fórmula do amor], ‘um certo olhar cruel de quem sabe o que quer’. Gosto de detalhes também”.

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O modelo Werner Schreier, foto feita em Zurique

Apesar da experiência internacional, que o credencia a assumir a condição de fotógrafo sem fronteiras, o envolvimento com um segmento absolutamente dedicado a promover a beleza e o luxo, que reafirma seus valores a cada clique preciso, tudo isso deve exercer uma pressão e tanto. Pino Gomes se esquiva dela adotando a postura de eterno novato:  “Todos os dias que vou fotografar alguém novo para mim é como se fosse a minha primeira vez. Fico nervoso e ansioso e quero que as pessoas fiquem felizes com o meu trabalho”, explica. “Eu estou sempre tentando coordenar o que as pessoas querem de acordo com o que eu tenho de melhor para oferecer, quase sempre dá certo. Eu faço o meu trabalho com muito amor e tenho muita fé de que nada é por acaso. Que me desculpem os belos, mas na minha fotografia beleza não é fundamental. Prefiro estilo e atitude”, arremata.

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Foto feita para a revista australiana ‘Culture’, com produção de moda de Patrick Hausermann

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