Cão em Quadrinhos: fotografias de estimação
Um gesto de compaixão foi o que levou as irmãs Ana Carolina, 29, e Manoela Dutra, 27, ao mercado da fotografia. Elas são as proprietárias do estúdio Cão em Quadrinhos, de Porto Alegre (RS), especializado em fotografia pet. Ao lado dos ensaios de mascotes e seus donos e de fotos para campanhas de empresas do setor, as duas seguem fazendo o que as encaminhou na profissão: ajudar animais em situação de abandono.
Tudo começou em 2006. Uma cadela de rua apareceu no bairro e as irmãs resolveram adotar, após vencer a resistência dos pais. “Era inverno, fazia muito frio e não aguentávamos mais vê-la naquela situação”, conta Manoela. Levaram-na ao veterinário e descobriram que teria filhotes em breve. Resolveram esperar que nascessem para fotografar e oferecê-los para adoção. Ninguém resiste a filhotes, raciocinaram.
O conhecimento fotográfico foi obtido na faculdade de design, que as duas frequentaram (aprimorado mais tarde em curso de especialização na Escola Superior de Publicidade e Marketing – ESPM-Sul). Terminado a graduação, elas abriram um escritório de design gráfico, atendendo a pequenas empresas e usando a câmera para compor o portfolio da firma.
A iniciativa deu certo: apenas a mãe e um dos filhotes permaneceram com elas. De quebra, a experiência as motivou a publicar um blogue, para divulgar informações relativas a comportamento, vacinação, saúde e resgate animal – além de exercitar sua recém-descoberta paixão pela fotografia: “Com o tempo, estávamos tão felizes com esse novo hobby que passamos a enxergá-lo como negócio”.
De blogue, o Cão em Quadrinhos entrou com tudo no segmento de fotografia pet, um mercado que está crescendo no sul do País, especialmente nas agências: “É incrível, as poucas empresas que temos por aqui estão valorizando cada vez mais a publicidade, o que não acontecia pouco tempo atrás”, percebe a moça.
Ao lado das campanhas para as marcas do setor e dos ensaios para os proprietários de mascotes, Ana e Manoela promovem campanhas, como o projeto “Amizade não se compra”, segundo o qual elas dedicam um dia na semana para fotografar animais abandonados. “Neste projeto, a protetora ou ONG entra em contato para agendar um horário com a gente e fotografar os afilhados (cães e gatos) que esperam por um lar. O serviço é gratuito e as imagens são divulgadas pelas redes sociais do Cão em Quadrinhos e das próprias protetoras”, Manoela informa.
A dupla também promove cursos de fotografia. No início de novembro, as irmãs vão palestrar no Estúdio Evolution, congresso brasileiro de fotografia de estúdio que ocorre pelo terceiro ano em São Paulo. Na opinião de Manoela, será uma “superexperiência”: “Estamos muito ansiosas e queremos levar novas dicas e novas práticas que não usamos em nenhum de nossos workshops ainda” – a principal será como conduzir os bichos no estúdio, “até porque isso não existe em lugar nenhum. Nenhum livro especifica como dirigir os animais no set fotográfico”, ela afirma.
Segundo Manoela, não basta achar cães e gatos “fofinhos” para se credenciar a fotografar animais. “Além de compreender o assunto fotográfico, precisamos ter calma e paciência. Também precisamos ser assertivos, seguros e mostrar ao animal que temos controle do ambiente. Os animais se deixam controlar desde que você mostre que sabe como fazer. Se não souber, ele vai assumir, e é aí que surge o perigo”, adverte.
Os bichos reagem ao estado emocional das pessoas: sentimentos como nervosismo, ansiedade ou medo podem provocar uma reação hostil – e resultar em mordida. Essa circunstância é tão importante que orienta a divisão de trabalho das duas: “Com a experiência, percebemos que a pessoa que está dirigindo o animal deve estar calma e é claro que tem dias que estamos mais tristes, inseguras ou nervosas, então passamos a usar este ‘estado de espírito’ como o sinal de quem fotografa e quem dirige, e tem dado certo, por isso alternamos muitas vezes os papéis”.
Vale lembrar também que animais podem promover uma bela bagunça no estúdio. É preciso evitar que equipamentos, fios e acessórios fiquem ao alcance deles. E tem que limpar a sujeira, aspirar pelos e higienizar o local com bactericidas. Para minimizar os custos de manutenção, elas pintam o set do estúdio com tinta lavável – “se acontecer um xixi, basta passar um pano!”
Apesar de reconhecer que a luz contínua causa menos sobressalto nos bichos, a gaúcha explica que no Cão em Quadrinhos prevalece o flash. O set preferencial inclui um softbox e duas tochas. “Em alguns momentos utilizamos apenas um flash, ou três flashes, mudando um pouco a iluminação, mas nossa estética é bastante clean, exploramos muito o fundo branco e compomos com ele. O animal é o nosso foco na imensidão branca!”, brinca.
Completa o kit básico das irmãs uma câmera D7000, uma lente 50mm (“nossa lente coringa”) e uma 24-70mm. “Acreditamos que equipamento, principalmente lentes, é algo bastante pessoal, depende muito do gosto de cada fotógrafo. Isto que é o mais legal da fotografia: não existem regras, é uma expressão pessoal do artista. O aparelho nos dá possibilidades e vai de a gente explorar e tentar esgotar esse programa embutido no aparelho”.
Claro que algumas boas referências sempre ajudam. As inspirações em vigor atualmente no estúdio gaúcho são Sharon Montrose, que fotografa animais exóticos em estúdio, Tim Flach e Grace Chon. “Mas também olhamos bastante referências de fotógrafos de outras áreas, como Carissa Gallo, Katerina Plotnikova, Jarred Seng, We are the Rhoad. Mas a cada dia surgem novas boas referências, e estamos sempre de olho”.
Do ponto de vista da missão assumida desde que essa história começou, Manoela acredita que houve importantes avanços, especialmente após a prefeitura de Porto Alegre instituir uma secretaria especial de direito dos animais (Seda): “Mas ainda existe muito abandono, então nossa luta continua”, conclui.
TRABALHO PRAZEROSO DE SE FAZER E SEM TANTO STRESS, A NÃO SER POR PARTE DOS PAIS DOS MODELOS, RSRS. TRABALHAR COM ANIMAIS É ALEGRIA PURA !
Amei a matéria, comecei a fotografar pet, quero ajudar também alguma ong. pelos animais.