Publicidade: a ética de Luciano Munhoz

Você já deve ter ouvido isto da boca de algum fotógrafo de publicidade: “Quem manda na foto é o diretor de arte. O fotógrafo só aperta o botão”. Com Luciano Munhoz não tem nada disso. O fotógrafo natural de São Paulo, 36 anos de idade e onze de profissão, refuta essa condição passiva do profissional diante do briefing: “Se fosse tão simples assim, era só pegar um chimpanzé para fazer”, declara.

Luciano chegou até a fotografia por meio do cinema. Esta era a sua paixão. Como assistente em uma produtora de filmes, descobriu a fotografia de cinema e decidiu que era isso o que ele queria fazer. “Mas não era tão fácil – e ainda não é – conseguir trabalho de assistente de fotografia de cinema”. Então, ele resolveu aprender a fotografar, de qualquer modo. Começou com livros, depois cursou o Senac, conseguindo emprego de assistente na faculdade. “Foi meu primeiro emprego na área. Logo depois peguei assistência com outro fotógrafo e depois mais um, até um dia achar que poderia ser fotógrafo por conta própria”. O cinema pontuou um ou outro momento da sua carreira, “mas fiquei na fotografia tradicional mesmo”.

Luciano Munhoz: apertador de botão, não! (foto: Felipe Gombossy)

Luciano fotografa publicidade, editoriais, moda e retratos. Curte bastante os editoriais, pela liberdade que encontra para criar, assim como moda e retratos. “Fotografando para editoriais você tem a oportunidade de conhecer pessoas, lugares e histórias incríveis”, destaca. Mas a publicidade tem a seu favor o fato de pagar melhor.

O fotógrafo também faz alguns trabalhos para si. Como a série de retratos em preto e branco que desenvolveu a partir de uma ideia “ridícula”, como ele afirma que ocorreu. “Tão ridícula que seria melhor eu inventar uma história incrível para valorizar. Mas acontece que esse trabalho era um casting de pessoas ‘diferentes’, com ‘personalidade única’. Pois eu tinha que conhecer a pessoa e, em cinco minutos com ela, sacar um pouco da personalidade, seu estilo, e tentar colocar isso num microensaio”.

O material rolou um tempo esquecido, até que uma faxina no HD do computador fez Luciano rever as fotos, sob outra perspectiva: “Comecei a brincar com algumas fotos, já pensando que tinha um material humano tão rico que não deveria jogá-lo fora. Quando converti para preto e branco, senti que tinha achado algo ali”.

Ele editou as melhores imagens e começou a publicar. Aí – milagre da internet – muitas daquelas pessoas que foram fotografadas toparam com sua imagem no site, e começaram a pintar elogios ao trabalho e pedidos de adicionamento em páginas do Facebook. “Do material que eu tenho no meu site hoje é dos meus preferidos, porque foi um exercício de direção fantástico”, reconhece.

Menos aleatório é seu trabalho profissional. E, como falávamos, Munhoz procura evitar que o briefing seja um impeditivo a deixar a sua marca. “Quem realmente ama o que faz e que se preocupa com sua carreira, sempre tenta dar o melhor de si, por mais banal que seja o ‘job’”, pontifica.

“Numa publicidade tem o briefing e o layout, que te engessam mais ainda, mas você precisa entregar a melhor imagem, a mais perfeita, porque o cliente está pagando caro, e vai fazer parte de uma campanha que tem muito dinheiro envolvido e uma expectativa de retorno muito grande por parte do cliente. Já o briefing de um editorial, uma reportagem, por exemplo, é muito mais aberta ao imprevisto, ao inesperado. Você vai para a foto sem saber o que vai encontrar”.

Luciano ainda salienta o fato de que, se o cliente encarregou o profissional de tamanha responsabilidade, é porque acredita estar contratando o cara certo. Para ele, isso já é motivação mais do que suficiente. “E, além do mais, seja na publicidade ou no editorial, sempre tem as ideias que surgem de última hora e que podem ser executadas”. Um bônus mais que bem-vindo.

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