Viajante usa fotografias como moeda

Humberto Furtado na exposição de suas fotos na antiga senzala da Casa da Fazenda do Morumbi: impressões em papel feito com fezes de elefante

Conhecer o mundo inteiro tendo como moeda apenas a fotografia. Esse é o objetivo do catarinense Humberto Furtado, de 26 anos, que já esteve na África e na Ásia e conheceu boa parte do Brasil dessa maneira, vendendo fotos na rua. Humberto idealizou o Esmola Fotográfica, projeto cuja meta é para lá de ambiciosa: documentar todas as etnias do planeta.

Furtado começou sua aventura em setembro de 2011. Após reunir algum dinheiro, ele partiu para a África. Ficou durante quatro meses e percorreu cinco países. Lá, recebeu o convite de uma norte-americana para trabalhar como voluntário em um santuário de elefantes na Tailândia. Dali, partiu para o Camboja, para fotografar moradores de um vilarejo flutuante em Siem Reap e também os santuários de Angkor Wat.

De volta ao Brasil, o catarinense “sossegou” por apenas três meses. Logo, seguiu para um encontro de culturas tradicionais na Chapada dos Veadeiros (GO), depois para o Tocantins, onde teve contato com manifestações da cultura afro e participou da romaria do Nosso Senhor do Bonfim e, finalmente, foi a Salvador (BA).

Exposição itinerante do projeto na praia de Ipanema, Rio de Janeiro

Faz poucos dias que Humberto retornou a Jaraguá do Sul (SC), onde mora, depois de outra excursão, que incluiu Rio de Janeiro, São Paulo e Minas. Ao todo, foram quase dois anos na estrada, durante os quais ele sobreviveu vendendo fotos em locais públicos. E conversando com as pessoas.

“Acabo vendo uma identificação muito legal de todos com alguma foto que ali está pendurada, todas as classes, todas as opiniões possíveis, e questionamentos que jamais teria se não estivesse ali disponível”, diz Humberto, que iniciou sua carreira como fotógrafo de moda, destacando o fato de as pessoas se reunirem ao seu redor para ver as imagens e ouvir histórias de suas viagens.

“Meu objetivo nessas andanças não é buscar uma resposta e registrá-la por meio de fotos, mas sim estabelecer perguntas. Dessa forma, defino meu caminho como algo completamente livre, sem destino, sem tempo, sem qualquer tipo de roteiro pré-formatado, para me dar o direito de me surpreender com o que vejo”, afirma.

Foto impressa no Elephant Dung Paper para a exposição em São Paulo

Humberto também chegou a fazer uma exposição de suas fotos. Foi na Casa da Fazenda do Morumbi, em São Paulo, e organizada pela Academia Brasileira de História, Cultura e Arte. Interessante é que utilizou um suporte diferente para as impressões: um papel especial feito com as fezes dos elefantes tailandeses.

“O Elephant Dung Paper é a última etapa do que é conhecido naquela região como o ‘Ciclo do Elefante’, que, basicamente, se constitui nas seguintes fases: plantar a cana-de-açúcar, colhê-la, alimentar os elefantes, recolher os dejetos, produzir o papel, vender o papel para gerar subsídios para a plantação da cana-de-açúcar e para investimentos diversos no santuário, reiniciando o ciclo”, explica o viajante, que fabricou ele mesmo os papéis que utilizou.

Claro que viver como andarilho tem seu custo. Com a câmera “já nas últimas” e contando apenas com uma pasta com cerca de 200 fotografias para se manter, Humberto Furtado sabe que sua missão será difícil realizar. Mas não parece disposto a desistir. Pelo menos, não até demonstrar a sua teoria de que “existe a possibilidade de um indivíduo caminhar e passar por todos os tipos de classes, culturas, religiões, sem medo, sem fronteiras, sem muros”.

“Lua Cheia”, elefante do santuário de Surin, na Tailândia, onde Humberto trabalhou como voluntário
Vilarejo flutuante em Siemp Reap, Camboja
Ilha de Krabbi, Tailândia
Dona Maria, Chapada da Natividade (TO)
Livingstonia, no Malawi (África)
Ilha de Moçambique
Kleimonda, África do Sul

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Um Comentário

  1. Confesso que chorei ao ver a foto da minha avó (Dona Maria- Chapada de Natividade) que faleceu dia 08/09/2013.
    Já tinha visto antes esta foto neste site, mas agora fiquei emocionado ao ver novamente.