Sebastião Salgado: conheça a trajetória do mestre da fotografia
Em 08 de fevereiro de 1944 nascia em Conceição do Capim, Aimoré/MG, Sebastião Ribeiro Salgado Júnior, que viria a se tornar um dos maiores fotodocumentaristas do mundo. Em 1964, o jovem mineiro graduou-se em Economia pela Universidade Federal do Espírito Santo e em seguida realizou pós-graduação na Universidade de São Paulo. No mesmo ano, casou-se com a pianista Lélia Deluiz Wanick, com quem teve dois filhos, Juliano e Rodrigo. Em 1968, trabalhou no Ministério da Economia.
Em 1969, engajados no movimento de esquerda em plena Ditadura Militar no Brasil, Salgado e Lélia emigraram para Paris. Em 1971, ele concluiu seu doutorado e passou a trabalhar como secretário para a Organização Internacional do Café (OIC) enquanto Lélia estudava arquitetura. Foi durante as viagens de trabalho para a África que realizou sua primeira sessão de fotos com uma Leica que pertencia à Lélia. Em 1973, retornam a Paris e Salgado passa a se dedicar totalmente à fotografia.

A carreira como fotojornalista começou trabalhando para as agências de fotografia Gamma e Sygma. Entrando para a agência Gamma, em 1974, realizou uma série de imagens sobre a Revolução dos Cravos em Portugal e a guerra civil em Angola e Moçambique. Na agência Sygma (1975-1979), viajou por mais de 20 países da Europa, África e América Latina, cobrindo vários eventos. Em 1979, tornou-se membro da renomada agência Magnum, fundada em 1947 por Robert Capa e Henri Cartier-Bresson, entre outros.
Em 1986, publicou o livro “Autres Ameriques” sobre camponeses na América Latina. No mesmo ano, passou a trabalhar para a Organização Humanitária Médicos sem Fonteiras. Salgado retratou durante 15 meses os refugiados da seca e o trabalho dos médicos e enfermeiros voluntários na região africana de Sahel da Etiópia, Sudão, Chade e Mali. As fotos resultaram no livro “Sahel – L’Homme en Détresse”. A série “Workers”, sobre trabalhadores em escala mundial, entre 1987 a 1992, correu o mundo em exposição.
Entre 1993 e 1999, Salgado dedicou-se a retratar a emigração massiva de pessoas no mundo todo, dando origem às obras “Êxodos” e “Retratos de Crianças do Êxodo”, em 2000, ambos alcançando grande sucesso mundial. No ano seguinte, no dia 3 de abril de 2001, Salgado foi indicado para ser representante especial do UNICEF. Em colaboração com a entidade internacional, o fotógrafo doou os direitos de reprodução de várias fotografias suas para o Movimento Global pela Criança.


Gênesis
Em 2013, Salgado apresentou os resultados do seu ambicioso projeto “Gênesis”, que impressionou pela escala monumental e o apurado uso do preto e branco. Nele, o fotógrafo visitou as regiões mais afastadas do contato com o homem civilizado, por mais de 30 países. Ao longo de oito anos, ele conviveu com tribos de costumes ancestrais e viu paisagens que poucos tiveram a oportunidade de conhecer.
Além da exposição fotográfica que rodou o Brasil e o mundo, apresentando cerca de 250 fotos, o projeto contempla o livro de mesmo nome. Publicado pela Taschen, com 520 páginas o livro tem 33,50 x 24,30 cm e pesa 4 kg. O projeto conta ainda com um documentário, “A Sombra e a Luz”, dirigido pelo cineasta alemão Win Wenders, com colaboração do filho do fotógrafo, Juliano Salgado.
“Gênesis” representou algumas mudanças na trajetória do fotógrafo brasileiro. Pela primeira vez, Salgado registrou imagens de animais e de paisagens naturais. Uma decisão que ele atribuiu à profunda desolação em que afundou ao cobrir o genocídio em Ruanda, em 1994, durante o qual pelo menos 800 mil pessoas foram assassinadas. Parte das fotos que retratam os efeitos do genocídio compõem o livro “Êxodos”.

Outra mudança foi que o projeto marcou a adesão de Sebastião Salgado ao digital. Uma transição forçada, uma vez que já não suportava mais os transtornos causados pelos aparelhos de raios-x dos aeroportos. Porém, apesar de adotar a nova tecnologia, continuou fotografando do mesmo jeito que fazia com filme, editando as fotos do projeto em folhas de contato, com lupa.
“Suas imagens agradavelmente em preto e branco são compostas com muita minúcia, são dramaticamente teatrais e apresentam um uso da luz semelhante ao da pintura”, escreve a jornalista Susie Linfield.


Cavaleiro Sebastião Salgado
Em 2016, Sebastião Salgado foi nomeado cavaleiro da Légion d’Honneur, honraria concedida pelo governo francês a personalidades de destaque, desde os tempos de Napoleão. No ano seguinte, o fotógrafo tornou-se o primeiro brasileiro a integrar a Academia de Belas Artes da França, instituição que tem origem no século XVII e uma das cinco academias que compõem o Institut de France, templo da excelência francesa nas artes e nas ciências.
Em 2019, lançou o livro “Gold”, onde revisitou suas icônicas fotografias da Serra Pelada, no Pará, capturadas na década de 1980, mas publicadas em nova edição com curadoria de sua esposa, Lélia Wanick Salgado. A obra reflete sobre as condições desumanas dos garimpeiros e a exploração de recursos naturais, mantendo a relevância de suas denúncias. Ainda em 2019, Salgado recebeu o Prêmio da Paz do Comércio Livreiro Alemão em Frankfurt, reconhecendo sua contribuição para a fotografia e a conscientização global. Em 2024, foi premiado pela Organização Mundial de Fotografia em Londres por seus 50 anos de carreira, reforçando sua influência global.
O último projeto fotográfico de Sebastião Salgado
Em 2021, Sebastião Salgado lançou o Livro e Exposição “Amazônia”, o último grande projeto fotográfico de sua carreira. Salgado passou anos documentando a floresta amazônica e seus povos indígenas. A obra, publicada pela Taschen, celebra a biodiversidade e as comunidades tradicionais, ao mesmo tempo que alerta para a destruição ambiental. Exposições em cidades como Paris, Rio de Janeiro e São Paulo em 2022 ampliaram o alcance dessa mensagem, promovendo a conscientização sobre a preservação da Amazônia.
Sebastião Salgado ministrou sua última palestra há 15 dias no Rio de Janeiro

A última palestra da vida de Sebastião Salgado foi a Reunião Magna da Academia Brasileira de Ciências (ABC), intitulada “Amazônia Já! Sem tempo a perder”, realizada nos dias 6, 7 e 8 de maio no Rio de Janeiro. Nessa ocasião, Salgado apresentou uma palestra com o tema “Amazônia”, acompanhada por suas fotografias emblemáticas da região, ao som das Bachianas Brasileiras de Heitor Villa-Lobos. O evento, coordenado por Helena Nader e Adalberto Val, destacou a urgência de preservar o bioma amazônico, integrando ciência experimental e conhecimentos tradicionais de comunidades indígenas, quilombolas e locais, em antecipação à COP30, marcada para novembro de 2025 em Belém.
Essa palestra foi um dos últimos momentos públicos de Salgado antes de sua morte em 23 de maio de 2025, e reflete seu compromisso contínuo com a preservação ambiental e a fotografia como ferramenta de conscientização.