Ágatha Souza: o valor da oportunidade
Ágatha Souza tem apenas três anos de fotografia profissional, mas já experimenta um “recomeço” na carreira. É assim que ela entende a sua admissão, em fevereiro deste ano, na JHA Produções, uma empresa de Petrópolis (RJ), a sua cidade natal. Isso porque, em sua opinião, é difícil encontrar alguma porta aberta no seletivo mercado da moda.
A JHA é uma empresa do fotógrafo de espetáculos José Henrique Alonso e da administradora Vanessa Lomonte. Ágatha foi convidada a coordenar o setor de fotografia da casa. Entre suas incumbências, está o desafio de mudar uma mentalidade do mercado de moda local – que é bastante expressivo – em relação a projetos mais conceituais. Um recente editorial da empresa, The colours of the champions (publicado aqui no Photo Channel), vai nesse caminho.
“São fotografias artísticas/conceituais e levam um tempo para serem planejadas e executadas. Há estudo do tema, cores, iluminação, locação, maquiagem, cabelo etc. Procuramos sempre montar um caderno de referências que nos acompanha durante todo o projeto”, explica a jovem carioca, 20 anos de idade, que ainda destaca a necessidade de sintonia entre toda a equipe envolvida – fotógrafo, maquiador, modelo – para que a coisa toda funcione.
Apesar do esforço, esse trabalhão pode cair no vácuo, por conta do detalhe citado acima: “O mercado como um todo não dá a importância devida a trabalhos conceituais. Poucos são aqueles que entendem o que um trabalho de conceito pode agregar à sua loja e a importância de se criar identidade nos dias atuais”, ela lamenta. Daí o desafio.
Mas Ágatha pensa pelo lado da oportunidade. “Esta área de fotografia [moda e publicidade] exige um investimento muito grande e por isso durante um bom tempo me virei apenas com uma lente clara, rebatedores e um speedlight. Com o tempo fui aperfeiçoando isso, inventando outras gambiarras, dando o velho ‘jeitinho brasileiro’”, conta a fotógrafa, que é formada em design de moda e está concluindo pós-graduação em fotografia.
“Decidi que iria fazer uma faculdade de design de moda para entender esse meio e decidir em que área da moda eu realmente gostaria de trabalhar. No decorrer da graduação fui desenvolvendo um interesse muito grande pelas matérias ligadas à história da arte/moda e produção. Comecei a querer desenvolver meus próprios ensaios, montar cadernos de referência, pesquisar sobre fotógrafos de moda, ver vídeos de making-of de grandes editoriais e estudar como acontecia a execução desses trabalhos. Meu trabalho de conclusão de curso foi inspirado no Guy Bourdin e foi sem dúvidas uma das melhores escolhas da minha vida”, afirma a moça, que, entretanto, começou fotografando eventos. “Foi onde encontrei um retorno mais rápido, a princípio. Não que seja uma área mais fácil que a minha, mas foi onde as portas se abriram pra mim”, justifica, evitando tecer comparações entre os dois segmentos: para ela, cada nicho impõe dificuldades específicas e aponta meios diferentes de progredir.
Atualmente concentrada nas áreas que lhe interessam, Ágatha obteve o novo emprego após realizar um trabalho para Vanessa Lomonte, que resolveu apostar na jovem fotógrafa. “Estou encarando essa oportunidade como um ‘recomeço’ pra minha carreira, uma oportunidade de executar meus projetos com todo o suporte necessário. Ter alguém que acredite e aposte em seus projetos é muito difícil e eu realmente me considero uma pessoa de sorte por isso”, diz, reconhecida.
Mais ainda pelo espaço que encontrou para emplacar seus projetos conceituais. Segundo Ágatha, esse tipo de exercício é fundamental para a evolução do profissional, o que ela relaciona com a ideia de sair da “zona de conforto” e não se tornar apenas “mais um” no restrito mercado da moda. “Por isso que eu, como coordenadora de fotografia da JHA, faço tanta questão que a empresa esteja sempre engajada com projetos diferentes e eles me dão total apoio. Com certeza ainda temos que crescer muito, mas eu realmente acho que estamos em um bom caminho”, conclui.