Viagem etnográfica de Mario de Andrade

A Vitória do Madeira, 1927 (fotografia, acervo IEB USP)

Em 1927, o escritor Mário de Andrade (1893-1945), um dos expoentes do Modernismo brasileiro, empreendeu uma viagem etnográfica pelo norte do país. Segundo o intelectual paulistano, foi uma “viagem pelo Amazonas até o Peru, pelo Madeira até a Bolívia e pelo Marajó até dizer chega”. O que descobriu nessa aventura ele documentou por meio de fotografias e textos: impressões acerca da paisagem, do homem e da cultura daquela região.

As fotos hoje pertencem ao Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da Universidade de São Paulo, que disponibilizou 60 delas para a mostra Mário de Andrade: etnólogo-fotógrafo-poeta, em cartaz na Caixa Cultural de São Paulo (Praça da Sé, 111 – Centro) até 5 de maio, com entrada gratuita. A curadoria é da pesquisadora Adrienne Firmo.

Mercado Ver-o-Peso, Belém do Pará, maio de 1927

Mário demonstrou especial interesse pelo universo do trabalho e dos trabalhadores, como fica evidente no conjunto de imagens expostas. Há registros das lavouras de cana e café e da criação de gado, do transporte de madeira e alimentos pelas populações ribeirinhas, do comércio entre citadinos e indígenas, entre outros.

“As fotografias demonstram também o empenho do escritor em transmitir por meio de elementos plásticos aquilo que é retratado, fundindo a informação ao valor artístico, além de registrar cada imagem com títulos e legendas que as explicam ou esclarecem, aliando, dessa forma, a ação do turista-etnógrafo à do fotógrafo-poeta”, escreve Adrienne.

Essa não foi a única expedição etnográfica de Mário de Andrade. Em 1928, o artífice da Semana de 22 partiu em nova viagem pelo país, sobre a qual foi escrevendo ao Diário Nacional, na coluna intitulada “O turista aprendiz”. Suas experiências como fotógrafo de viagem, contudo, datam de antes: em 1919 ele já havia feito alguns retratos em Minas e, em 1924, fez o que chamou de “viagem de descoberta do Brasil”.

Além de expor as fotos, a Caixa promove dia 13 de abril o lançamento do catálogo da mostra, junto com uma conversa com Adrienne Firmo, que falará sobre sua proposta curatorial, e a pesquisadora Bianca Detino, sobre a importância artística e cultural do arquivo Mário de Andrade. As inscrições para essa atividade podem ser obtidas pelo fone (11) 3321-4400.

Bahia, 1927
Tuiuiú, 1927

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