Paisagens imaginárias de Beto Riginik
Paisagens replicadas em séries de quatro, rebatidas, espelhadas, formando uma única imagem emoldurada. Desse modo que o paulistano Beto Riginik, 40 anos, elaborou a série Paisagem composta: do estático ao possibilismo de La Blache, trabalho que ele apresenta no Espaço Cultural Porto Seguro, nos Campos Elísios, em São Paulo, a partir de 27 de agosto.
A série apresenta doze obras, exibidas em grande formato, que fazem referência ao trabalho do geógrafo e pensador francês Paul Vidal de la Blache (1845-1918), cujo ponto de vista rejeita o determinismo geográfico alemão, segundo o qual as condições naturais do meio influenciam e determinam as atividades humanas, inclusive a vida em sociedade.
Ao invés disso, o pai da moderna geografia francesa defendia o possibilismo, que atribui ao homem a capacidade de modificar o meio natural, adaptando-o a sua conveniência.
“Nesta exposição eu reverto o politicamente correto e faço do fotógrafo um agente da natureza, um criador de paisagens imaginárias, e não apenas um observador”, explica Beto Riginik, cuja obra sempre evidenciou sua afinidade com a paisagem urbana.
Um “urbanoide”, na concepção do jornalista, colecionador, comerciante e curador de arte João Pedrosa. A ele coube escrever o texto de apresentação da exposição, que ficará à vista do público até 3 de outubro, com entrada gratuita.
“Os trabalhos são um comentário sobre a ecologia, fazem alusão à ilusão de paisagem que existe no planeta, mas que pode desaparecer. Idealiza paisagens que não existem, mas podem ser criadas, ou imaginadas”, observa João Pedrosa, explicando que as imagens que formam a série foram reunidas ao longo do tempo. Sem uso imediato, ganham agora unidade por meio do arranjo feito pelo fotógrafo, que espelhou cada imagem, de novo e de novo, formando o que parece ser, na opinião do jornalista, um caleidoscópio ou mesmo um moderno fractal, imagem de elementos em progressão geométrica criada por computador.
“Essa nova unidade faz alusão aos quatro pontos referenciais da geografia: Norte, Sul, Leste e Oeste, assim como aos quatro elementos fundamentais da natureza: ar, água, terra e fogo”, acrescenta Pedrosa. “O aspecto visual é propositalmente dúbio, apelando para o tipo de encantamento do olhar puro das crianças, que veem carneiros nas nuvens”, destaca, sem perder de vista o aspecto crítico da obra.
“A fotografia nunca é o reflexo da realidade. É sempre uma referência pessoal, e o que lá está (por trás da câmera) não é tão imparcial como se pode pensar”, define Beto Riginik, cujo trabalho se divide entre o autoral e o comercial. Neste último campo, o paulistano desenvolve trabalhos nas áreas de publicidade, editoriais arquitetura e moda, além de manter a agência Koletivo, especializada em fotografar eventos corporativos e sociais. Já a produção autoral, que tem a metrópole – seja Paris, São Paulo, Londres ou Nova York – como tema primordial, tem ganhado as galerias dentro e fora do país.