Acervo de Vivian Maier é alvo de disputa judicial
Vivian Maier é mais um exemplo de como a celebridade costuma chegar tarde. Ela só ficou conhecida – e seu talento como fotógrafa reconhecido e comparado ao de ícones do peso de Diane Arbus e Weegee – pouco depois de morrer, aos 83 anos de idade, na miséria, em 2009. Porém, a sua herança agora está sendo motivo de disputa judicial.
Babá por quase a vida inteira, Vivian cultivou por anos o hábito de fotografar: clicava pessoas na rua e fazia autorretratos, com uma câmera Rolleiflex. Jamais mostrou seus negativos para ninguém. Em algum momento, porém, se desfez do arquivo. Em 2007, um corretor de imóveis de Chicago chamado John Maloof, que andava em busca de fotos antigas da região onde morava, comprou numa casa de leilões local uma caixa com cerca de 30 mil negativos. Pagou 400 dólares. Eram fotos de Vivian Maier.
Impressionado com a qualidade das fotos, Maloof se dedicou a desvendar a história da misteriosa fotógrafa e a garimpar o seu acervo, divulgando a descoberta em galerias, exposições, no livro Vivian Maier: uma fotógrafa de rua, lançado em junho no Brasil, e no documentário Finding Vivian Maier (assista ao trailer abaixo). Tem em mãos um acervo valioso, considerado um dos mais importantes legados fotográficos do século 20.
Maloof viajou até a França, onde a fotógrafa tinha raízes, e adquiriu de um suposto parente os direitos sobre a obra. Mas, recentemente entrou na história um antigo fotógrafo comercial e advogado chamado David Deal. Ele entrou com um processo na justiça em junho, contestando o direito de Maloof de dispor do acervo. Deal diz ter localizado outro parente da fotógrafa em Gap, cidade alpina da França, o qual teria direito sobre a herança da agora famosa parente.
O advogado afirmou ao New York Times que soube de Vivian Maier enquanto cursava direito e decidiu localizar um herdeiro ao saber que imagens do seu acervo – que soma atualmente cerca de 100 mil negativos e que vale uma fortuna – estavam sendo vendidas por terceiros. “Como fotógrafo e advogado, a situação em incomoda”, disse David ao Times.
Com o imbróglio, o acervo passou ao espólio do estado e lá ficará até que uma decisão judicial seja tomada. Enquanto isso, qualquer ação ou comercialização da obra pode acarretar processo. Assim, exposições em andamento terão que ser canceladas. Como o caso deve levar anos para ser concluído, até lá o trabalho de Vivian voltará, de certo modo, à sombra.
“É meio triste. Tenho forte apelo emocional ao trabalho dela”, comentou John Maloof à reportagem do Times (reproduzida pela Folha. Leia aqui). Segundo disse, apenas agora começava a ter retorno do capital que investiu na preservação e digitalização do acervo.
“Nenhum desses caras têm direitos autorais”, alegou David Deal, referindo-se ao outro grande detentor de obras de Vivian Meier, Jeffrey Goldstein, que possui 17,5 mil negativos e já congelou os acordos que tinha com as galerias que vendem as imagens. “O que eles estão fazendo representa uma violação das leis federais”, acrescentou Deal.
Enquanto isso, Francis Baille, funcionário público aposentado que o advogado afirma ser o legítimo herdeiro da fotógrafa que ele jamais conheceu, mas que pode deixá-lo milionário, aguarda o desfecho em relativo silêncio. Apenas seu advogado francês falou ao jornal, afirmando que seu cliente está “muito, muito surpreso”. Não é para menos.
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