Memórias de um início (quase esquecido) na fotografia

Qual a importância de guardar fotos impressas, ou mesmo manter com você os negativos que fotografou? Existem muitas respostas para essa pergunta, que vão desde não perder registros com a facilidade de um computador que estraga até a durabilidade do papel e do negativo.

Mas no caso do fotógrafo e cabelereiro Sidney Angelo, de Blumenau/SC, ter seus negativos guardados lhe proporcionou outra visão, uma surpresa com profundidade inesperada. Confira no texto do fotógrafo escrito com exclusividade para o iPhoto Channel:

“Vasculhando coisas guardadas há muito tempo, em uma caixa grande e velha, e querendo arrumar motivos para jogar tudo fora, deparei-me com uma caixa menor ao fundo. Uma caixa de um tênis que eu tinha comprado com certeza mais de 15 anos atrás, e nem me lembrava dela.

Quando abri, saltaram de dentro dela milhares de negativos de filmes de imagens capturas por mim. Então me questionei: Por mim? Sim, por mim mesmo, e naquele instante essa caixa velha se transformou em um pode de ouro das minhas memórias. Todas as recordações   vieram à tona em minha mente, todo o início das minhas duas carreias profissionais transbordaram em meus olhos naquele momento. E estavam esquecidas por anos, espremidas no fundo daquela caixa em um quarto escuro.

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Lembrei-me que naqueles velhos negativos com cheiro de mofo estavam registrados parte da minha carreira de Cabeleireiro, e as primeiras imagens feitas por mim como Fotógrafo. Todo o início do que me tornei hoje estava ali dentro de uma caixa.

Os primeiros clicks, as tentativas de iluminar um objeto, o primeiro casamento, o primeiro book… Claro, a modelo era minha namorada que hoje se tornou minha querida esposa. Cortes e penteados que realizava no meu salão de beleza quando morava em São Paulo, fotos de família e de passeios. Enfim, tudo registrado em velhos negativos de filmes fotográficos.

Aí eu me perguntei: Será que me esqueci de onde vim? Será que esqueci como eu era no início? Será que a tecnologia atual nos cegou pra verdadeira essência e glamour da fotografia?

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Todos os dias, vejo várias pessoas entrando no ramo da fotografia, pelos mais variados motivos que se possa imaginar, e isso é ótimo, não vejo mal nisso. Mas será que elas conseguem compreender o verdadeiro significado da fotografia?  Assim como eu e outros companheiros que começaram na fotografia de rolos de filme que conseguem me compreender, será que as novas gerações conseguem compreender que fotografar vai além de apertar o botão da câmera, e ou colocar uma marca d’água em uma imagem com auxílio de um programa de um computador?

Bem, depois que me deparei novamente com todas as minhas essências naquela caixa, tive um pouco de sensação de vazio no atual cenário da fotografia. Não no sentido de imagem, pois cada vez mais vemos qualidade. Mas no sentido do por que fotografamos, ou por que estamos nesta profissão?

Lembro-me de quando cai meio por acaso na fotografia, de quando tive em minhas mãos minha primeira câmera, uma Canon AE-1 e um flash Vivitar 285. Antes de dar um click, sempre pensava no custo que isso ia me gerar, no porquê de fotografar tal assunto, qual sentido aquilo me faria, e principalmente na magia que era ver um negativo revelado.

Hoje, o vazio que eu senti é sobre isso que eu vivia no início da minha carreira de fotógrafo. Vejo a proliferação de indivíduos e suas câmeras no mundo da fotografia profissional sem ter essa essência, sem ter esses mínimos motivos. Apenas no interesse de ganhar um dinheiro fácil, o chamado “compre uma câmera, aperte o botão, vire um fotógrafo e ganhe dinheiro”.

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Canso de ver conhecidos e clientes meus nas redes sociais que do dia para a noite compram uma câmera em alguma loja e criam uma página e um perfil de “Fulano de tal…. Fotografias”. É incrível ver esse tipo de proliferação.

O mundo é livre, as pessoas são livres, fazem e compram o que quiserem. Entram e saem a hora que quiserem. Mas a questão é: Por que estou entrando? Será que é porque é legal e todo mundo vai ficar rico e famoso fazendo isso? Ou porque é fácil…. É só apertar o botão e a foto sai bonita, daí posso cobrar menos da metade do valor médio da maioria dos profissionais para ter mais trabalho que eles?

Pois bem, hoje eu fiquei feliz em ter aberto a minha caixa de velhos negativos e ter recordado o porquê me tornei fotógrafo. E acredito que muitos de meus companheiros deveriam fazer isso também, abrir suas caixas e se lembrar de onde vieram e o porquê fazem o que fazem, o porquê começaram nesta tão importante profissão. E para os novos que não tiveram o prazer de ter vivido na glamorosa época dos filmes fotográficos, numa época que se pensava muito antes de se apertar o botão, eu lhes convido a fazer apenas uma pergunta: Por quê?

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Um Comentário

  1. Eu ainda tenho os meus negativos e álbuns antigos guardados em caixas, de tempos em tempos pego para dar uma olhada, lembrar como era minha visão e como foi evoluindo.
    Ter tido essa experiência me faz pensar antes de cada clique, me faz poupar equipamento e tempo para selecionar as melhores no final. Quando vejo fotógrafo usando a câmera como se fosse uma metralhadora me da desespero.