Haroldo Palo Jr. revê trajetória em livros

 

Aos 59 anos de idade, Haroldo Palo Jr. é uma testemunha privilegiada de nosso tempo. O engenheiro eletrônico que seguiu carreira como fotógrafo naturalista e participou de quatorze expedições à Antártida, foi chefe de uma das equipes da expedição de Jacques Cousteau à Amazônia, viajou pelo Brasil e ganhou o mundo, visitando lugares fascinantes pelo globo, completa 35 anos de atividades com a certeza de que, mais importante do que ter visto tanto, foi ter visto com o olhar de quem conhece.

Para celebrar sua trajetória singular, o fotógrafo nascido em Lins (SP) lançou no final de 2012 Haroldo Palo Jr.: Uma coleção de fotografias (cinco livros, R$ 75 cada), série que reúne uma amostra significativa do grande acervo que ele reuniu ao longo do tempo – são mais de 300 mil imagens. Publicados pela editora Vento Verde, do próprio autor, os volumes apresentam em torno de 600 fotografias, divididas por temas – Aves, Fauna, Flora etc.

Haroldo levou quatro meses editando os títulos, o que foi feito de forma independente: “Quis mesmo ter total controle sobre como fazer, o que mostrar e como dimensionar esses livros. Acho que foi uma escolha acertada”, acredita o naturalista, que fala um pouco sobre sua trajetória, a fotografia de natureza no Brasil e sobre os livros, na entrevista a seguir. Acompanhe:

Haroldo Palo Jr.: trabalhar com Cousteau abriu portas (foto: Evandro Fontana)

Você tem uma trajetória que só pode ser considerada muito bem-sucedida, com parcerias com Jacques Cousteau, documentários pelo mundo e por todo o Brasil. Que balanço você faz desses 35 anos de atividade? Fui premiado com ótimas oportunidades ao longo de minha carreira. Conhecer e trabalhar para o Comandante Cousteau abriu muitas portas para mim e mostrou logo no início qual é o nível de dedicação que essa profissão exige dos que querem fazer dela uma profissão. As quatorze viagens à Antártida e ao Ártico também permitiram reunir fotos e informações valiosas para meu aprendizado. Acho que o melhor de tudo foi poder conhecer nosso planeta. Mas não conhecer como turista e sim como naturalista. Sabendo os nomes de tudo que se encontra nas viagens. Seres vivos ou não. Entender o papel deles no meio ambiente e, principalmente, ter a chance de conviver com esses seres nem que seja por alguns segundos apenas. Trazer uma imagem deles de volta para casa já não conta tanto para mim.

E o que resta ainda buscar? Contar histórias para crianças. Fazê-las sonhar com a possibilidade de explorar e entender nosso mundo. Assim, com certeza, estarão realizando o que nossos ancestrais fizeram e lutaram para que hoje estivéssemos aqui.

Sua coleção de livros recém-lançada de certo modo celebra esses 35 anos de carreira, não? Qual foi o sentimento ao rever seu arquivo de imagens e, mais importante, como foi selecionar 650 imagens de um acervo de quase 300 mil fotos? Sim, depois de participar da edição de mais de 60 livros, esses são os primeiros que representam apenas a minha linguagem fotográfica. É uma recuperação da minha carreira em fotos. Trabalhei quatro meses na edição dessas imagens. Primeiro separei 4 mil delas para depois montar os cinco livros. Como são temáticos – aves, fauna, flora, paisagens e retratos e um deles em preto e branco – a escolha final acabou acontecendo sem muita dificuldade. Minha escolha foi baseada na diversidade da vida. Quero que os leitores se encantem com a quantidade e variedade de formas de vida que convivem conosco. Gostaria que percebessem também a riqueza das cores ou a “desnecessidade” delas nas fotos em PB.

Os volumes trazem também histórias dos cliques ou de suas experiências? Essas histórias estou escrevendo à parte e vou publicar em PDF para todos terem acesso. Como falar sobre as fotos e as fichas técnicas ocuparia muito espaço nos livros, preferi um design mais limpo nos livros e poder também mostrar mais imagens do escrever sobre elas. Isso posso fazer agora e abusar das facilidades eletrônicas atuais.

Jacques Cousteau no Rio de Janeiro, em 1982

 “Vivemos o paradoxo de termos a maior diversidade de vida da Terra em nosso país e apenas alguns fotógrafos que realmente vivem da fotografia de natureza”

Como foi o processo de produção de tantos volumes juntos? Essa produção foi totalmente independente e sem nenhum tipo de incentivo ou patrocínio. Quis mesmo ter total controle sobre como fazer, o que mostrar e como dimensionar esses livros. Acho que foi uma escolha acertada.

Como alguém que certamente influenciou muita gente a escolher documentar a natureza vê a fotografia de natureza no Brasil atualmente? Vivemos o paradoxo de termos a maior diversidade de vida da Terra em nosso país e apenas alguns fotógrafos que realmente vivem da fotografia de natureza. Acho isso muito triste. Quantas revistas de natureza temos no Brasil? Duas? Três? Quantas fotos ou matérias elas compram todo mês? Difícil de responder. O que sei é que são muito poucas. Infelizmente, é muito difícil iniciar uma carreira atualmente para se viver da fotografia de natureza. A “era digital” da fotografia proporcionou uma revolução fantástica na qualidade, na facilidade e na democratização da fotografia. Hoje, nossos avós fotografam, as crianças fotografam, todos fotografam. Dez anos atrás uma máquina fotográfica era uma caixa preta com conteúdo desconhecido e sua operação era segredo guardado por apenas algumas pessoas. Você se lembra de ter visto alguma pessoa se fotografar com uma máquina com filmes? Era perfeitamente possível. Mas ninguém se atrevia a fazer esse gesto. Mas uma coisa a maioria das pessoas ainda não aprendeu a fazer: ser cuidadosa e criteriosa no processo de salvar as imagens digitais. É preciso copiar duas a três vezes em mídias diferentes e guardar em locais diferentes. Senão, um dia se perde tudo.


E que recado você deixa para quem almeja seguir seus passos? Para ser um bom fotógrafo você precisa apenas praticar, ver o trabalho de outros bons fotógrafos e estar atento à evolução dessa linguagem. Agora, para ser bem-sucedido, precisa estudar. Não só fotografia. Saber um pouco sobre a origem do universo, origem da vida na Terra, as eras geológicas, história da nossa civilização, geografia do nosso planeta, filosofia… Enfim, estudar sobre tudo que possa lhe dar informações para melhorar sua fotografia, sua maneira de contar histórias através da imagem.

Artigos relacionados

Um Comentário

  1. Que bom ver essas maravilhosas fotos e imaginar entre tantas dificuldades o prazer de sentir-se realizado a cada clique.
    Obrigado amigo!
    Olegario