Mercado editorial é machista, diz fotógrafo
Não é de hoje que as mulheres vêm ocupando cada vez mais espaço no mercado de trabalho. E isso inclui os segmentos da fotografia profissional. Embora não se tenha dados confiáveis a respeito, basta comparecer em qualquer evento de instrução, como os congressos de fotografia que ocorrem pelo Brasil, para se fazer uma ideia da sua expressiva participação.
Por outro lado, ainda é característico na vida profissional da mulher certa dose de discriminação, traduzida principalmente em desníveis salariais e imposição de obstáculos à obtenção de cargos mais elevados. Pode ocorrer ainda de algumas empresas depositarem seus contratos de trabalho preferencialmente na mão de homens.
Um dos setores que praticam essa última modalidade discriminatória, na opinião de Daniel Shea, um artista e fotógrafo nova-iorquino, é o das grandes revistas norte-americanas. Shea apresentou seu ponto de vista em um longo artigo publicado em seu Tumblr. Segundo ele, sua conclusão tem por base conversas que teve com diversos editores de fotografia e a decisão de falar sobre o assunto visa abrir um debate a respeito.
O fotógrafo cita uma das justificativas que ouviu, de que “a maioria da mídia, arte e literatura é feita para atender a uma perspectiva masculina, e talvez seja por isso que os homens estejam mais aptos a fotografar esse conteúdo”. Paradoxalmente, ele também percebeu que a maioria dos editores de revista é composta por mulheres. A explicação que ouviu para isso é que elas possuem um cuidado natural que as habilita a essas funções. “Independente disso, o conteúdo que está sendo produzido, as fotos mesmo, são tiradas por homens, que têm uma posição de maior visibilidade nesse negócio”, constata.
Tal como Daniel esperava, seu artigo repercutiu. Conforme destacou o blogue da Photo District News (PDN), a fotógrafa Elizabeth Weinberg entrou na conversa, afirmando que “as revistas para as quais eu costumava fotografar agora não contratam mais mulheres. Nenhuma”. E propôs uma explicação, baseada na percepção do colega: “A maioria dos editores de fotografia e art buyers são mulheres. Mulheres tendem a não gostar de mulheres”, afirmou.
Essa opinião foi endossada por outra fotógrafa, Erin O’Brien, que escreveu: “Mulheres não costumam ajudar outras mulheres em negócios, mesmo se isso beneficiar a ambas”, acrescentando que muitas vezes seu trabalho fica relegado a segundo plano, enquanto fotógrafos obtêm as capas e reportagens especiais.
Se a questão envolve a falta de corporativismo feminino ou a noção equivocada de que a mulher não é “talhada” para absorver alguns dos aspectos mais complicados e tensos da profissão, conforme sugere Daniel Shea, o fato é que esse tema deve dar pano para a manga. Será que por aqui também?