Autoral: um dentista no caminho da fé

O ano está sendo de muitos planos para Roberto Faria. Seu empenho está em lançar o segundo livro ainda em 2013, mas já há mais dois outros em vista, parte de uma longa série sobre festas religiosas que ele vem elaborando. Outra meta é entrar no circuito fine art, especialmente nas galerias paulistas e do exterior. Isso tudo sem esquecer a rotina do consultório.

Sim, Roberto é dentista, tem 44 anos de idade e mora em Salvador (BA). Mas é também fotógrafo, dono de um olhar que remete à tradição dos grandes nomes da fotografia baiana. Artístico, mas que nasceu de uma necessidade puramente técnica: documentar os pacientes em tratamento durante seu curso de especialização em estética.

“Como a fotografia clínica é muito difícil, acabei aprendendo e evoluindo muito rápido na fotografia”, explica Roberto, que hoje se considera mais fotógrafo que dentista.

Sua primeira experiência profissional, porém, ocorreu há uns doze anos, quando começou a fotografar regatas de oceano. Na época, a Baía de Todos os Santos recebia as mais importantes do mundo e Roberto, um apaixonado por velas, assumiu mais essa difícil especialidade: “Eu fico num barco que balança bastante, numa lancha ou no próprio veleiro que está competindo, e tenho que me concentrar na técnica fotográfica, na linha do horizonte, que não pode estar torta, e nas velas do barco, que não podem estar murchas. O risco de cair no mar também é muito grande!”, relata como era.

Mas foi a partir disso que ele se aproximou do seu atual foco, que são as manifestações da cultura popular, ao documentar os saveiros, barcos seculares que foram responsáveis pelo desenvolvimento do Recôncavo Baiano durante muitos anos, mas que estão se acabando. “Nos anos de 1930 existiam mais de 1500 desses barcos na Bahia, hoje restam apenas 18”, afirma.

Roberto tem expandido o alcance da sua fotografia. Da Bahia, passou a fotografar pelo país, mas mantendo o eixo temático descoberto a partir dos saveiros, o que fala da relação do povo com a fé e as festas populares. Assim, esteve no Círio de Nazaré, na Romaria do Padre Cícero, na Semana Santa em Ouro Preto, no Bumba meu Boi em São Luís, nas Cavalhadas em Pirenópolis e no Maracatu Rural em Nazaré da Mata.

“Esses dois temas [a religião e as manifestações populares] me encantam e me motivam porque mexem com o íntimo do povo”, alega o fotógrafo-dentista, que é também professor de fotografia na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia.

Apesar das andanças, Roberto Faria é essencialmente um fotógrafo do espírito baiano. Da Bahia de Pierre Verger, Jorge Amado e Dorival Caymmi, influências de primeira hora da sua fotografia. Com um grande e organizado arquivo de imagens com vistas ao mercado editorial, ele concorda que haja um jeito bastante particular de se fotografar a “Boa Terra”, em função de sua natureza exuberante e do temperamento festivo do povo: “Acho que essa somatória de situações favoráveis faz da Bahia um dos melhores destinos para os fotógrafos amadores e profissionais”, acredita.

Seu próximo livro, tal como o primeiro (Bahia de todas as cores, de 2011), fala dessa relação. Será o segundo de uma série de seis volumes, cujo título diz muito: Bahia que não me sai do pensamento. Futuramente, pretende publicar outros dois livros com imagens que captou fora do seu “celeiro”, um sobre as maiores romarias do Brasil e o outro sobre o Carnaval e as festas populares das pequenas cidades. Porém, é com o acervo que construiu em sua terra que planeja ganhar o mundo. Segundo ele, este é o melhor caminho para a fotografia artística, não só da Bahia, mas de todo Norte-Nordeste, cuja produção vem conquistando cada vez mais espaço e reconhecimento: o mercado fine art.