Sensualidade ao alcance de todas
O imaginário dos homens não é o único suscetível aos ensaios sensuais das revistas masculinas. As mulheres também “viajam” nas fotos de modelos nuas. Com uma diferença importante, no entanto: muitas veem um belo nu de revista e se colocam na pele daquelas beldades sem roupa. E por que não?
“Quem não gostaria de registrar um momento da sua vida em que se sente bonita?”, pergunta Patricia Prado, 47, uma advogada carioca que optou pela fotografia e desde 2007 se dedica a atender ao desejo de mulheres que querem mostrar – seja para si mesmas, seja para seus parceiros – que não devem muito às modelos de revista.
Patricia tem uma agência chamada Photolounge, cujo site divulga o trabalho. Ela produz os ensaios e os entrega em formato de revista – como se fosse uma revista masculina mesmo. Também produz “Love cards”, objetivando os dias de namorados, e agora está enveredando pelo vídeo – oferece o making-of das sessões fotográficas.
“Era comum pedidos de amigas para fazer uma foto mais sensual para dar de presente para o namorado e, um dia, conversando com outra amiga dona de uma loja de lingerie, falamos sobre isso. Nessa conversa, chegamos à conclusão de que TODA mulher adoraria se ver em poses sensuais, isso mexe com o ego e com a autoestima”, acredita Patricia.
O mercado de fotografia sensual para mulheres “comuns” está em alta, e há bastante oferta – basta uma procura no Google por book sensual para confirmar. Patricia acha que o bom momento se deve, em boa medida, à mídia. Especialmente depois da novela da Globo “Viver a vida” (2009), que incluiu na trama uma fotógrafa (Natália do Valle) especializada em ensaios sensuais de mulheres maduras, o que ajudou a quebrar a sempre presente barreira do preconceito e a atiçar o interesse de mulheres em todo o país.
A novela de Manoel Carlos foi um caso de arte imitando a vida. A inspiração para a personagem veio do trabalho da agência Nude, das paulistanas Darcy Toledo, 40 anos de idade, e Jane Walter, de 34, especialistas em design gráfico e fotógrafas.
A parceria delas teve início em 2006, quando numa reunião de amigas discutiram o potencial de mercado das fotos sensuais: “Vimos que não existia no mercado uma agência que transformasse o ensaio em revista, seguindo os padrões das melhores publicações masculinas. Foi assim, de um bate-papo, que esse projeto começou a tomar forma e hoje se tornou a nossa realização pessoal e profissional”, lembra Darcy.
A agência atende a pedidos em São Paulo e no interior do estado. Também promove “temporadas regionais”, quando as sócias levam seu trabalho a outros lugares do país. Essa rotina deu a elas uma boa noção da mudança que haveriam de promover:
“Percebemos que no imaginário das pessoas o ensaio sensual era algo restrito às modelos e atrizes, mulheres extremamente sensuais e com corpos esculturais. A Agência Nude, desde o primeiro ensaio, veio romper com essa visão. A intenção não é competir com uma celebridade, mas revelar que toda mulher guarda, dentro de si, uma estrela pronta para ofuscar qualquer preconceito ou vergonha”, observa Jane.
Aos poucos, na medida em que mais profissionais aderiram ao mercado, o conceito começou a amadurecer.
“De certa forma ainda é novidade”, opina Mariana Beltrame, de 21 anos, sobre sua experiência em Belo Horizonte (MG). “Mas as pessoas vêm se mostrando muito interessadas nesses últimos anos. Virou pauta de conversas femininas, uma coisa que antes não acontecia devido ao pudor da sociedade. As mulheres estão se mostrando mais abertas, e sem medo. O engraçado é que todas elas, com exceção de poucas mulheres, gostam muito da ideia de ter um ensaio delas mesmas. O crescimento da procura por esse trabalho é cada vez maior, principalmente em épocas como o dia dos namorados”, observa a mineira, natural de Governador Valadares, e que oferece revistas, fotolivros, encadernações, quadros, videoclipes, dentre outros produtos (veja o site).
O curioso na história de Mariana é que ela começou tendo a si como modelo. Seus autorretratos, feitos quando tinha só dezesseis anos (ousados para a pouca idade, reconhece), chamaram a atenção de umas amigas. “Expliquei que tinha pouca experiência, mesmo assim elas toparam, e foi divertidíssimo. Meio louco, pois fotografei as três no mesmo dia, mas o resultado foi surpreendente pra mim, que não sabia que podia ir tão longe. Elas permitiram a utilização de algumas fotos e então apresentei como portfolio, o que me rendeu muitos outros trabalhos. Percebi que eu levava jeito e prossegui. Desde esse primeiro ensaio, ponto de partida da minha trajetória, eu não parei de realizar ensaios de nu e sensual”, conta a fotógrafa, que é formada em cinema e tem especialização em fotografia no exterior.
O perfil das clientes, segundo Mariana, não observa faixa-etária. “Já fotografei mulheres de 18 a 65 anos”. Porém, ela identifica em todas motivações semelhantes: “A autoestima em baixa, a necessidade de reconhecimento da sua própria beleza e o ideal de presentear o marido ou namorado. É uma opção bem interessante para quem quer surpreender o cônjuge. Nenhum deles imagina receber um presente assim, e certamente não há como desgostar”, garante.
Já Andréa Zayit, fotógrafa em Brasília (DF), 42 anos de idade, vê sua clientela como sendo de mulheres bem-resolvidas e crê que haja um componente naturalmente brasileiro de sensualidade que as impele a posar. Ex-professora e orientadora educacional, Andréa começou no fotojornalismo. Das colunas sociais passou ao estúdio que mantém no Lago Sul, bairro nobre da capital federal, onde desenvolve o projeto “Apaixone-se por você”, através do qual saem os produtos de sua linha sensual, que inclui álbuns convencionais e digitais e filmagens HD. Tudo rigorosamente controlado pela fotógrafa, pois discrição é um dos requisitos do negócio. “Ninguém tem acesso a esse material”, assegura.
Além da discrição, bom gosto e capricho na produção são fundamentais. Tudo é feito para que as clientes – e seus parceiros – tenham uma bela surpresa com o resultado do ensaio.
Patricia Prado busca inspiração na moda, entre outras influências. “Gosto de escutar os homens, do que gostam e procuro tirar o máximo do potencial das minhas clientes. Todas acham que nunca vão conseguir e tem algumas que chegam tímidas e surpreendem! A equipe toda se envolve, deixamos a cliente muito à vontade e, pelo fato de sermos mulheres, tudo flui com muita naturalidade”, garante.
A escolha da locação é outro detalhe que exige atenção especial: “Buscamos como locações os melhores hotéis e motéis, além de permitir que a cliente fotografe em sua casa ou outro local de sua escolha. Nesses ambientes, podemos garantir sua segurança e privacidade. As diversas opções em locação também permitem personalizarmos mais a sessão de fotos, de acordo com o estilo e personalidade da mulher que será retratada”, revela Darcy Toledo.
É interessante notar que, de uns tempos para cá, os maridos e namorados aderiram aos ensaios na condição de “coadjuvantes”.
“Como a foto é fio condutor de experiências, criamos também um pacote especial para casais, em que eles, depois de fotografados, podem passar a noite, a sós, curtindo um ao outro. O homem chegará ao set somente quando sua companheira estiver produzida e com um figurino que valorize seu corpo. Em seguida, ele verá sua mulher sendo fotografada antes de participar das imagens seguintes. Sabemos que esse é um fetiche masculino, observar a esposa ou namorada sendo fotografada em poses sensuais. Para a cliente, é uma realização, pois ela sentirá o mesmo poder de sedução das mulheres que estampam as revistas masculinas”, detalha Jane Walter.
Criar o clima ideal para a sessão fotográfica é a chave do sucesso e uma boa dose de psicologia cai bem. Andréa Zayit chama sua abordagem de “anamnese fotográfica”: por meio de uma entrevista é feito um estudo da personalidade da mulher, seu estilo de vida, gostos, sonhos e vontades. Será o ponto de partida da fotógrafa, que trabalha sempre em externas e com luz natural.
“Muitas vezes, durante o ensaio, enquanto não estou com a câmera em punho, elas deixam escapar detalhes interessantes da personalidade e cabe a mim saber observar isso também”, afirma Mariana Beltrame. “Como são mulheres ditas ‘comuns’, a paciência é muito bem-vinda, e numa forma bem romantizada. É necessário saber enxergar além da alma, além do que elas são capazes de nos contar, através das pistas que deixam”.
Outro aspecto que a natureza desses ensaios suscita é com relação à pós-produção. Virou lugar-comum, no que se refere às revistas masculinas, atribuir ao Photoshop – mesmo que não haja razão nenhuma para isso – a responsabilidade pelo que se vê nas páginas. Como se trata de mulheres cujo perfil nem sempre corresponde ao das modelos profissionais, a possibilidade de valorizar os atributos da modelo via uso extensivo da ferramenta digital pode ser tentadora.
Esse desvio não ocorre, afirma Mariana Beltrame. A pós-produção entra em cena, porém, com critério. “Não há como consertar uma foto ruim. Mas uma foto boa, com potencial, merece uma boa finalização. Um tratamento adequado de cor, contrastes e retirada de imperfeições, tudo com limites”, defende. Seu recurso para driblar algumas dificuldades está no adequado posicionamento da modelo: “Se você vê que alguma parte do corpo não a valoriza, procure um ângulo mais adequado, assim o tratamento no Photoshop não será para transformá-la em algo que ela não é, mas para evidenciar a beleza que você foi capaz de captar. Claro que lido com clientes, e todas elas têm exigências diferentes. Tento atender aos pedidos e orientar ao mesmo tempo, para que o trabalho final não fique artificial”, revela.
Todo esse cuidado com a produção, atenção reverente e sensível dispensada à modelo, preocupação técnica na busca do clique perfeito e esmero na apresentação do produto da sessão gera um círculo de satisfação que envolve não apenas a mulher, que se descobre bela e valorizada, e seu companheiro, alvo de um presente deliciosamente inusitado, mas a própria fotógrafa que proporcionou essa espiral de sentimentos e, por meio do seu talento, contribuiu para solidificar o segmento da fotografia sensual.
“É muito gratificante, a felicidade que sinto quando entrego um trabalho finalizado e olho os olhos daquela cliente que diz: ‘Nossa! Essa sou eu?’ é bom demais!”, resume Patricia Prado o sentimento geral.