Vernaglia: “Exif não serve pra nada”

De tantos em tantos acontece: posto alguma fotografia em redes sociais e alguém pede o Exif. Acontece igualmente com outros fotógrafos e em grupos de fotografia pela internet é uma verdadeira mania – a maldição do Exif.

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Para quem não sabe, Exif é o conjunto de informações gravado pela câmera no arquivo, que inclui abertura de diafragma, tempo de obturador, sensibilidade ISO, entre outras opções da câmera que o fotógrafo escolheu para realizar determinada foto.

O problema é que o Exif não serve para nada, nadinha, nada mesmo.

Antigamente, nos tempos do filme, em cursos básicos, recomendavam que o aluno anotasse num bloco as regulagens foto a foto, e sabe de uma coisa? Isso já não servia para nada naquele tempo, nem para achar os pretensos erros do fotógrafo – essa era a argumentação padrão do professor daquele tempo e deve ser o que dizem hoje para justificar ficar lendo Exif.

Não adianta nada saber a regulagem de uma câmera sem saber qual era a luz do lugar. O Exif é só a regulagem, não diz se o lugar era claro ou escuro, se a luz tinha mais ou menos contraste, se as sombras eram mais ou menos densas, não diz nada do que a coisa era; apenas diz o que estava regulado na câmera.

Luz é interpretação, a luz acontece lá, na hora da foto, e só está sendo vista pelo fotógrafo. Fotógrafo não tem que decorar regulagem, tem que aprender a olhar para a luz e pensar como quer que a luz seja registrada, se igual, mais clara, mais escura, contrastada, suavizada, com as sombras pretas, com brilhos atenuados, enfim, como afinal quer o registro da luz que está vendo em sua fotografia.

Esse raciocínio nenhum Exif dá. Por isso, é melhor não se preocupar com ele.

Vai pedir o Exif da pintura de um Vermeer ou de um Caravaggio, vai pedir o Exif do Beijo de Doisneau ou do garoto carregando garrafas de vinho do Bresson…

O bom da pintura é que pintor tem que pensar, imaginar a luz e então realizar as ideias. Já fotógrafo tem essa bobagem de se prender em besteira e não enxergar a luz, não imaginar a luz. O grande mestre da direção de fotografia Edgar Moura já dizia isso no documentário Iluminados, de Cristina Leal: “O que tem muito na pintura que não tem tanto na fotografia é o estudo da luz”. Verdade absoluta, fotógrafo estuda pouco a luz.

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O Exif não mostra como eram as condições de luz no momento do clique

Somos bobos perto dos pintores, achamos que somos rápidos por ter uma câmera que faz o trabalho por nós e eles lá têm que ficar pincelando. A máquina em sua velocidade de um piscar de olhos nos deixa com uma preguiça danada de olhar com mais calma, entender brilhos e sombras, pensar no que queremos dizer com a imagem, se queremos esconder algo numa penumbra ou algo assim. Chegamos e clicamos, pronto, está registrado.

Ver a luz, entender a luz e saber transpor suas ideias sobre luz para dentro da fotografia é uma habilidade que leva anos, e que está muito, mas muito além de conseguir achar uma combinação bem bolada de abertura, tempo e ISO.

Saber regular essas três coisinhas é o mais elementar e básico da fotografia, qualquer um acha uma regulagem que deixe o fotômetro ali bem centrado. Agora, enxergar a luz e, mais do que isso, interpretá-la, aí é outro papo.

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11 Comentários

  1. Concordo com tudo o que foi dito sobre luz, composição, influencias das artes etc.

    Sou um mero amador, principiante, e se me permitir a ousadia , ou quem sabe a audácia, gostaria de debater um pouco sobre a inutilidade do EXIF, vamos lá.

    Vamos considerar um fotógrafo não profissional, em fase de aprendizado / estudo, que viu uma foto LINDA e gostaria de aprender a técnica, pelo menos entender os motivos que levaram o profissional à aquele uso do equipamento / luz / cenário / modelo, etc.

    Até hoje não encontrei nenhum fotografo que se desse ao trabalho de explicar o seu processo ou pensamento fotográfico:
    – usei esta abertura para fazer isso
    – coloquei o flash desta forma, com esta potência pois queria obter tal efeito
    – usei tal tempo de exposição pois queria valorizar tal aspecto

    Então, na busca por um conhecimento sobre o processo fotográfico, a unica coisa que nos resta ao mero amante da fotografia, é tentar ADIVINHAR o processo fotográfico analisando o EXIF.

    Eu , particularmente, acredito ter chegado à algumas conclusões (talvez óbvias para um profissional), avaliando EXIFs de fotos que gostei muito.

    espero ter contribuído

    Wilker

    1. Olá Wilker, bom dia,

      O problema dessa valorização do exif para aprendizado é que ela inverte completamente o sentido da analise fotográfica e prejudica o estudo, vou explicar.

      Se você observa uma foto e ela tem um desfoque de fundo, uma profundidade de campo curta, essas características podem indicar diafragma bem aberto, uma lente longa sendo usada, além de uma relação de distância específica entre fotógrafo, fotografado e fundo.

      Se você vai pelo exif, você acredita que é a combinação de abertura e lente que deu o efeito mas isso ignora a relação de distâncias que é o ponto mais importante, e que não está no exif. Além disso, ignora os motivos do fotógrafo, e que você não precisa saber os dele, precisa saber os seus.

      Você tem que pensar se quer desfocar para isolar uma pessoa do fundo ou se quer mais foco para incluir a pessoa em seu cenário, isso é uma decisão sua, o fotógrafo da foto observada teve a decisão dele, você tem que ter a sua, o processo do exif é um processo de aprendizado por cópia de regulagens e não por pensamento fotográfico, copiar uma regulagem não é fazer uma foto igual pois não sabemos do contexto.

      E tem mais, a regulagem lhe indica um caminho técnico para uma situação que não sabemos qual é por não sabermos a luz e as distâncias.

      Se você pesquisar pelo grande fotógrafo Steve McCurry verá fotos lindas, belíssimas, a maioria feita com a câmera no automático, estamos falando de um cara que publicou dezenas, talvez centenas de capas da National Geographic feitas no automático.

      O raciocínio do exif super valoriza dados sem importância. Quando pensamos nisso, o importante é o que o fotógrafo vê e como compõe isso, o dado técnico muitas vezes a câmera é capaz de fazer sozinha.

      Vale pensar, como todos os grandes gênios da fotografia aprenderam a fotografar sem isso? Como Cartier Bresson, Robert Doisneau, Sebastião Salgado e tantos infinitos nomes puderam aprender e ser os gênios que são ou foram sem isso? É provável que signifique que o exif pouco importa e o que importa é o raciocínio fotográfico. A facilidade do exif é enganosa, não aprendemos nada com ele mas ficamos com a impressão de ter aprendido algo, é um engano, isso mais vai atrasar seu aprendizado do que acelerar no final.

      Vai por mim, e esquece o EXIF. 🙂
      []’s
      Armando Vernaglia Jr

  2. Já comentei sobre exif e continuo com a mesma opinião: serve para quem está iniciando, não ensina, mas como ponto de partida leva a pensar e estudar mais profundamente. Eu era hobbista, consegui uma slr de filme sem pretensões profissionais, me baseava só pelo fotômetro da máquina sem entender para que servia abertura e velocidade. Me recomendaram anotar o que eu fazia e foi à partir daí, à partir do “exif” comecei a ver o que mudava se eu alterava abertura ou velocidade. Com esses valores de referência comecei a entender como usar abertura e velocidade, além da diferença de lentes. o “exif” me ajudou muito no início, depois que aprendi a ver melhor a luz ele realmente é dispensável, mas no início do aprendizado sempre é útil, basta que o aprendiz entenda que são valores de referência e não para serem copiados. Aprendem com o trabalho dos outros, como comparativo (pode pegar fotos de dois fotógrafos feitos no mesmo lugar, porquê não?) e nesse comparativo ver o que abertura e velocidade, além de distância focal, distância do objeto, pode proporcionar em melhorias. Não se pode pressupor que todos apenas irão copiar o exif e tentar fazer igual, tem muita gente que pega esses valores apenas como referência, apenas para entender as mudanças que cada regulagem faz. Já ensinei muita gente com base em exif mostrando diferenças, deixando claro que não tem como copiar porquê a luz é diferente, mas o exif foi muito útil para mostrar porquê uma foto estava mais “borrada” que outra ou até mais escura que outra apesar de tanta semelhança entre os locais, ou no mesmo local. Acho que em sua opinião está generalizando achando que todos copiam o exif para fazer igual. Existem outras formas de aprendizado usando referência, cópia não é a úncia forma. Alguns aprendem primeiro na teoria e depois na prática, mas tem outros que começam pela prática e depois partem para a teoria. O resultado final dirá se ele aprendeu ou não. Não existe uma única forma de aprender e muita gente se beneficia do exif para aprender e ensinar. Entendo sua forma de pensar, mas devemos considerar que mesmo na pintura tem várias formas de aprender. Alguns fazem o esboço antes, outros fazem a pintura direta, sem esboço. Quem está errado e quem está certo se os dois são artistas consagrados? E olha que detesto aquela coisa de todo mundo perguntando qual o exif porquê só ele não basta, mas reconheço a utilidade como ponto de referência e comparativo para quem está iniciando.

    1. Olá Oziel, conversamos quando da primeira publicação deste artigo então me lembrava da sua opinião, e você também deve se lembrar da minha, sendo assim seguiremos discordando amistosamente! 🙂 Penso no EXIF como ferramenta de backup, ele armazena um dado, que acho mais importante por conter o número de série da câmera e que pode ajudar em prova de autoria de imagem em casos que acabem parando na justiça, já na parte fotográfica sigo com a opinião, que é a que postei no artigo e em uma resposta anterior, não parto do princípio que todos irão utilizar para fins de cópia, mas parto do ponto que se muitos dizem que ele importa, ou que esses dados façam diferença, entramos num looping negativo onde se começa a pensar em função dos dados, é como começar a estudar fotometria partindo do histograma, ou seja, estudar a arte, ou mesmo o ofício da fotografia partindo de dados que são posteriores à captura e não aos pensamentos e razões que são anteriores à captura em meu modo de ver serão sempre um erro. Mesmo por acidente ocorra um aprendizado, há mil formas didáticas mais interessantes antes de chegar no exif.
      []’s
      Armando

  3. Perfeito! Concordo plenamente. Exif não traz a subjetividade do fotógrafo e nunca acreditei ser útil pra aprendizado de nada. O pior é ainda dar a ilusão de um aprendizado, só que na contra-mão.
    Abraços,
    Ana

  4. Entendo sua posição. Digo, agora compreendi sua posição contra a mania do EXIF. Já analisei muito EXIF pra escolher lente – profundidade de campo, distorção de grande angular – mas pra ‘aprender’ fotografia nunca me levou a nada.

  5. Excelente texto! Cai como uma luva numa época de receitas de bolo! Nunca entendi uma aparente obsessão que existe pelo exif, e como a ocultação dessa informação soa antipático para muita gente! Parabéns pela facilidade que vc tem de simplificar as coisas, sem no entanto as tornar simplórias!

  6. Também acho que a curiosidade em testar, acertar, errar…ou até mesmo acertar com o erro em uma cena, nos leva a mundos bem mais criativos e interessantes!

  7. Nossa! Sempre pensei nisso, mas nunca elaborei uma exteriorização em palavras! Perfeito!

    Tanta gente que quer copiar um resultado, vá lá, experimente várias luzes, vários ajustes.

    Acho que querer saber com tanta obsessão o exif é por preguiça pura de não buscar o conhecimento! Seja teórico ou prático.

  8. Vernaglia,

    Venho acompanhando suas publicações e seus videos do Youtube há algum tempo e nada me deixa mais feliz em saber que não estou sozinho na minha linha de pensamento.

    Fiz um curso de fotografia em uma escola de SP que se dizia “top” por oferecer o MTB, porém “pobre” em recursos e fundamentos sobre fotografia.

    Cansei de entregar trabalhos e mais trabalhos tendo que anotar todas as informações atrás de cada foto e ninguém se preocupar realmente com o processo criativo e o entendimento da luz.

    Obrigado pela publicação e pelo embasamento do texto!

    Abs!

    Altair

  9. Vernaglia, o EXIF serve para provar que a foto é realmente sua no caso de alguém se apropriar e vender sua imagem. O Exif prova que fotografia foi executada com sua máquina. Abs