Todos os rostos de Jorge Bispo
Sempre se diz que um retrato, para ser bom, deve captar a alma do fotografado. Sua essência. Jorge Bispo não acredita muito nisso. No que ele acredita é em imagens poderosas. Fotógrafo com quinze anos de uma carreira mais que consolidada, 37 anos de idade, natural do Rio de Janeiro, Jorge Bispo faz ensaios sensuais, de moda e editoriais para as mais conhecidas revistas do país, entre elas Playboy, Trip e Vogue. E faz retratos.
“Sou retratista”, apresenta-se o fotógrafo, que possui uma galeria de rostos que impõe respeito: Chico Buarque, David Lynch, Seu Jorge, Michel Gondry, Spike Lee e David Byrne são algumas das personalidades fotografadas por ele. Entre seus projetos de caráter pessoal figuram Vestido de Noiva, de 2004, uma série de retratos de homens conhecidos na mídia vestidos… de noiva. E Apartamento 302, iniciado no ano passado, com nus de mulheres anônimas feitos em seu apartamento no Jardim Botânico.
Esse último surgiu de modo despretensioso. Acostumado a chamar seus amigos artistas para sessões “caseiras” de fotos, Bispo, que vem de uma família envolvida com teatro e começou ali o seu caminho na fotografia, fez alguns nus e resolveu explorar a ideia de convidar mulheres desconhecidas para posar em seu apartamento. “Sempre fiz retratos e nus aqui em casa e, depois de um tempo olhando as fotos, vi um conceito sendo desenhado, uma estética”, afirma.
A concepção das imagens é bem simples: sempre diante da mesma parede, praticamente no mesmo horário e com luz natural. Até o momento, ele fotografou 103 mulheres. Faz algum tempo, vem postando as imagens na internet, mas seu objetivo é publicar um livro sobre o projeto, o que deve começar a ser feito nas próximas semanas.
Pensando sobre o que as levou a participar desse trabalho, Jorge não concebe uma motivação única, “são razões diversas, não existe uma unanimidade”, ele acredita. Como não existe uma única faceta a ser capturada numa foto, também segundo sua crença: “Ninguém é uma coisa só, somos muitos”, diz. Adepto de um estilo mais espontâneo, sem muita preparação, Jorge Bispo põe a técnica de lado em favor de uma imagem forte, de impacto: “Um bom retrato pra mim é um retrato com presença, poderoso”, define, sem rodeios, o morador do apartamento 302.