Sobre a ética de fotografar moradores de rua

Você já parou para refletir sobre as milhares fotos retratando moradores de rua que vemos por aí? Afinal, para que elas servem? Isso é explorar alguém ou não? Chega a ser crime? O site The Phoblographer divulgou recentemente um artigo de seu editor, Chris Gampat, sobre a ética em fotografar moradores de rua. Publicamos ele na integra pra você.

“Todo fotógrafo já fez isso.
Correção: todo fotógrafo de rua já fez isso.
Estamos falando de tirar fotos dos membros mais infelizes da nossa sociedade em termos de status socioeconômico: os moradores de rua. Você faz isso. Eu tenho feito isso. Cada um que já escreveu para este site já fez isso. Mas existe a noção de que tirar fotos dos sem-teto é uma exploração da sua situação terrível. Fico pensando: você ia querer que alguém tirasse uma foto de sua situação terrível?

Foto: Chris Gampat
Foto: Chris Gampat

Os moradores de rua também podem ser vistos como alvos fáceis: eles estão fazendo algo que muitas vezes não é considerado normal e suas ações podem fazer com que uma foto capture uma fatia da vida que não é normalmente vista.

Mas isso é realmente exploração?

Foto: Chris Gampat
Foto: Chris Gampat

Vamos mais fundo na fotografia de exploração. Há objetificação: o que é outro grande assunto no mundo da fotografia. Mas explorar essas pessoas nas condições que estão é uma coisa totalmente diferente.

Começamos dizendo que, por estarem em público, é jogo justo. Se você está fazendo algo que você não deveria estar fazendo em público, alguém tem todo o direito de tirar uma foto de você. Já leu histórias sobre o metrô de Nova York e todas as coisas terríveis e ridículos que as pessoas fazem nos trens?

Se você pegar esses atos como eles acontecem, você tem todo o direito de capturá-lo. Novamente, você tem todo o direito de capturá-lo. Mas isso não é o que estamos falando.

Estamos focando se o que você está fazendo é exploração ou não. A resposta a esta questão tem a ver com as suas intenções, para começar. Então, vamos chegar a ela:

– Por que você está tirando a foto da pessoa?

– O que na cena atraiu você? Era a pessoa? Ou foi a cena como um todo?

– Você gosta do jeito que a cena aparece?

– Qual é o assunto principal da cena?

– O que você espera conseguir, tendo esta foto?

– Há outras pessoas na imagem, além do morador de rua?

– O que você pretende fazer com esta fotografia?

– Onde esta fotografia vai ser exibida?

Foto: Chris Gampat
Foto: Chris Gampat

Se qualquer uma das respostas a essas perguntas são por razões egoístas, então sim, é exploração. Se você não chegar em seu leito de morte e pensar: “Eu realmente gostaria de não ter tirado uma foto de um cara sem-teto indo a uma lata de lixo”, então você não tem nada para se preocupar. Mas, ao mesmo tempo, você deve se lembrar de uma coisa: você está tirando uma foto. A fotografia não é um crime e, de certa forma, você está documentando a vida como ela é. Documentar a vida não é um crime ou exploração. Se você pensa em criar um trabalho mostrando os tempos loucos em que vivemos, então suas fotos são simplesmente e nada mais do que isso.

E isso não é explorar, de qualquer forma.” (Artigo do fotojornalista e editor do site The Phoblographer, Chris Gampat, publicado originalmente aqui)

FONTE: THE PHOBLOGRAPHER

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4 Comentários

  1. Gostei muito do texto! ! Não sou fotógrafa profissional, mas gosto de fotografar pessoas anônimas, crianças, adolescentes e moradores de rua, e ficava me perguntando se seria ético.
    Seu artigo, me foi bastante esclarecedor.
    Obrigada