Simone Silvério: “Neném não é boneca de pano”

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A paulistana Simone Silvério, de 47 anos, é um dos nomes referenciais do emergente segmento de fotografia de recém-nascidos aqui no Brasil. Fotógrafa de primeira hora, ela atuou um bom tempo no mercado financeiro antes de abraçar sem arrependimentos a profissão atual, que divide com o marido e também fotógrafo Jaiel Prado.

Uma das primeiras a ver futuro na newborn photography, Simone observa o segmento tomar corpo por aqui, com muitos profissionais se especializando e pais em maior número ainda interessados em deixar registrados os primeiros dias de seus filhotes. Porém, é um tipo de fotografia que exige absoluto cuidado com a segurança e conforto dos bebês, cuja condição frágil impõe limites à ação do profissional. Esse tipo de preocupação motivou, inclusive, a criação de uma associação, da qual ela participa. Outra contribuição sua são as oficinas e palestras que ministra – em novembro, por exemplo, Simone estará entre os palestrantes do Estúdio Evolution, congresso de fotografia de estúdio que ocorre em São Paulo.

Apesar dessas peculiaridades, para ela o domínio técnico deve prevalecer: “Antes de qualquer especialidade, você precisa ser fotógrafo”, defende. Na entrevista a seguir ela explica melhor o seu ponto de vista. Acompanhe:

Como que uma executiva de banco internacional decide dar uma guinada assim na carreira e se tornar fotógrafa? O que motivou essa mudança? Houve insegurança em algum momento? A transição deu-se em duas etapas. A primeira foi sair do banco: estava grávida de minha terceira filha (ainda teria a quarta!), estressada, trabalhava como uma louca e já no quinto mês comecei a ter contrações! Aí deu. Conversei com meu marido, que me apoiou totalmente, e decidi deixar o mercado financeiro. A segunda etapa veio algum tempo depois. Decidi retomar minhas paixões de adolescência: cursei arquitetura (formei-me na FAU-USP aos 44 anos!) e, simultaneamente, fotografia, na Escola Panamericana de Artes – junto com meu marido, também fotógrafo, Jaiel Prado. Em 2010, decidimos então voltar a trabalhar juntos (já havíamos feito isso por quase cinco anos no banco), montamos um estúdio em Alphaville e, desde então, venho focando nos recém-nascidos. Insegurança sempre há, porém a determinação, a paixão e o apoio da família me ajudam a superá-la. Sou muito feliz, nunca senti um pingo de arrependimento ou saudade da minha “outra vida”!

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Quando ocorreu o seu contato inicial com a fotografia e o que a aproximou tanto dessa área a ponto de influenciar seu futuro profissional? Fotografo desde a adolescência. Já queimei muito filme, sempre fui apaixonada pelo assunto. A vida me levou ao mercado financeiro por razões familiares – meu pai era executivo de banco, ganha-se muito bem! – mas assim que pude, voltei. Ficava encantada com o trabalho da Anne Geddes e queria muito fazer algo semelhante, só que do meu jeito.

Como está estabelecido o seu trabalho atualmente, no que diz respeito a estúdio, equipe etc? Nosso estúdio tem dois sites: a Simone Silvério Fotografia (voltado à maternidade e bebês) e a Studio Trend (ensaios e eventos). Nossa equipe tem três fotógrafos (todos participam de tudo, porém eu cuido especialmente das grávidas e bebês, o Jaiel e a Milena Fontes dos ensaios e eventos). A Ana Paula nos ajuda na administração do estúdio e nas assistências durante as sessões com os bebês e a Ariane cuida da pós-produção. Além disso, temos uma série de parceiros externos. Está dando certo, trabalhamos feito loucos, estamos crescendo e nos divertindo muito!

Você é uma fotógrafa de família, mas tem o nome bastante relacionado à fotografia de recém-nascidos (ou newborns, como gostam de chamar). Quando foi que você decidiu explorar esse segmento e como estava esse mercado quando iniciou? Você foi uma das primeiras, eu imagino… Antes de qualquer especialidade, você precisa ser fotógrafo, depois você escolhe uma área para atuar. Quando comecei a fotografar recém-nascidos (eu prefiro assim, em português mesmo), só achava referências fora do Brasil (talvez já houvesse outras fazendo isso, porém era um mercado praticamente inexistente por aqui). Viajei muito para conhecer pessoalmente o trabalho da Laura Brett, Carrie Sandoval, Brittany Woodall, Kelley Ryden e Tracy Raven (EUA), Amber Shereen (Canadá) e Danielle Hamilton (Austrália). Nessa época, outras fotógrafas começaram a fazer o mesmo, o mercado começou a florescer e hoje já temos alguns nomes excelentes nessa área – vide a turma da Associação Brasileira de Fotografia de Recém-Nascidos (ABFRN).

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E como está esse mercado atualmente? Principalmente, como você analisa a maneira como ele tem evoluído, no sentido de que muita gente tem procurado entrar nesse filão? Está satisfeita com o que tem visto ou tem se preocupado com a forma como o mercado tem se conduzido? O mercado está em franco crescimento, a busca por conhecimento profissional é muito grande, a mídia em geral descobriu o assunto e com isso ganhamos muita visibilidade. Isso é bom, pois aumenta a concorrência, que estimula a criatividade e nos força a buscar aperfeiçoamento constante. Por outro lado, aumentam os riscos de fotógrafos se aventurarem nesse ramo sem o devido preparo e conhecimento técnico essencial à prática da fotografia de recém-nascidos. Um acidente com um bebê – Deus nos livre! – e todo o segmento seria impactado negativamente. É preciso ter muito cuidado, estudar muito, praticar conscientemente e respeitar as boas práticas profissionais antes de apresentar-se como “fotografo de recém-nascidos”. Creio que a criação da ABFRN é um passo significativo para a conscientização, divulgação de boas práticas e desenvolvimento profissional na área. É boa para fotógrafos e clientes.

E o que é preciso para que o profissional esteja preparado para ingressar nesse ramo? Quais os maiores desafios e precauções a serem tomadas? Primeiro, trate de entender de fotografia. Depois mergulhe a fundo no universo dos recém-nascidos, conheça suas características, fisiologia, psicologia etc., atenda ao maior número de cursos e workshops que puder, pesquise, converse com quem já faz. Só então comece a fotografar. Tenha sempre alguém para lhe dar assistência (a mãe não é exatamente a melhor pessoa), concentre-se no bebê o tempo todo, mantenha-se tranquila, respeite o bebê (ele manda!), mantenha-o sempre seguro e ao alcance da mão. Higiene e boas condições ambientais são mandatórias; não tenha nunca frescuras com cocô e xixi (eles vão fazer em você) e, finalmente, ame profundamente o que faz. Ah, e por último, mas não menos importante, tenha muita, muita paciência!

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Simone Silvério: “Primeiro, trate de entender de fotografia”

Tratando-se de um tipo de fotografia que é limitado pelo próprio motivo (criancinhas muito pequenas e frágeis), parece haver um repertório limitado de imagens que se pode fazer, talvez por isso haja uma sucessão de imagens parecidas. Você concorda com isso? Há uma uniformização na fotografia newborn? Como você faz para distinguir o seu estilo e apresentar a cada cliente um registro único dessa fase especial? Em suma, como ser criativo nesse tipo de registro sem, por outro lado, perder de vista os critérios mais importantes, como a segurança dos pequenos, por exemplo? De fato, o número de posições é de certa forma limitado, pois é fundamental respeitar a saúde do bebê – a grande maioria das poses reproduz aquelas que ele experimentava no útero materno. Neném não é boneca de pano. A diferenciação deve ficar por conta da criatividade na produção, figurinos, objetos, cenários, situações, composições, tratamentos etc., cujas possibilidades são tão infinitas quanto as de quaisquer outros ensaios fotográficos. A Anne Geddes está aí há quase trinta anos e continua nos surpreendendo. Eu procuro também incluir referências pessoais da família, seja da profissão de um dos pais, hobbies, detalhes da decoração do quarto, objetos de família carregados de valor sentimental… Essas imagens são as mais importantes e acompanharão essa família por toda a vida!

Por último, como você visualiza o futuro da fotografia newborn por aqui? Acredita que se trate de um modismo ou deve perdurar por bastante tempo? Se chegou para ficar, qual caminho você espera que trilhe? Esse é um mercado muito maduro nos EUA, Canadá e Austrália. Acho que veio para ficar no Brasil. Daqui a algum tempo talvez haja uma certa saturação, porém isso serve para separar aqueles realmente talentosos e dedicados dos meramente oportunistas. Fotografia de recém-nascidos exige muita paciência, preparo e dedicação, não é para qualquer um praticá-la e por isso tende a ser um produto relativamente caro. E, lembre-se, só nesse último minuto nasceram pelo menos sete novos bebês no Brasil!  

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