Centenário de Robert Capa, o mito

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“O soldado caído”, foto mais famosa (e controversa) de Robert Capa

Robert Capa faria cem anos hoje. O húngaro, nascido Endre Erno Friedmann, incorporou como ninguém o ideal romântico do fotógrafo intrépido e sedutor e levou ao extremo a lição expressa em suas próprias palavras: “Se a foto não ficou suficientemente boa, é porque você não chegou perto o suficiente” – o mito do fotojornalismo de guerra morreu em 1954, na Indochina, ao pisar numa mina.

Mas não sem antes se tornar uma lenda. Capa cobriu cinco guerras ao redor do mundo. Esteve presente no dramático desembarque das tropas aliadas na Normandia, momento crucial para o desfecho da 2ª Guerra Mundial, e documentou a guerra civil espanhola, onde perdeu a esposa e também fotógrafa Gerda Taro, morta em Madri em 1937. De lá, trouxe uma de suas fotos mais famosas (e contestadas): o flagrante de um soldado republicano sendo alvejado.

Capa também colecionou histórias fora dos campos de batalha. O escritor norte-americano William Faulkner diria que o húngaro era um “fotógrafo nas horas vagas”. Na maior parte do tempo, sua ocupação eram as cartas e a boemia. Também foi amigo de Pablo Picasso e Ernest Hemingway e namorou a atriz sueca Ingrid Bergman. Sobrou tempo ainda para, junto com Henri Cartier-Bresson e David “Chim” Seymour, fundar a prestigiada agência Magnum.

No momento em completaria cem anos, pipocam homenagens ao grande nome do fotojornalismo de guerra. Dois filmes sobre sua vida estão em produção: Close enough, que tem Tom Hiddleston (o Loki de Os Vingadores) no papel do fotógrafo e direção de Paul Andrew Williams, e Capa, de Michael Mann, com Andrew Garfield (O Espetacular Homem-Aranha) no papel principal.

Robert Capa, Ed Regan Veteran of Omaha Beach D-Day Landing
Uma das poucas fotos que sobraram do Dia D, o desembarque na Normandia. As outras se perderam, diz-se, por conta de um erro do laboratório que revelou o filme
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Robert Capa: fotos que não eram “nenhuma obra de arte”

Também foi lançada recentemente por aqui uma biografia. Sangue e Champanhe – A Vida de Robert Capa (Record, 340 págs., R$ 42,90) foi escrita por Alex Kershaw e procura dar conta de todas as contradições da personalidade do fotógrafo. Nos Estados Unidos, a obra recebeu críticas tanto de admiradores do biografado quanto de seus detratores, o que, como observa Luciano Trigo, na coluna “Máquina de Escrever”, no site G1, não deixa de ser um bom sinal.

Mas, quem preferir ler as impressões do próprio Robert Capa, pode optar por Ligeiramente fora de foco (Cosac Naify, 296 págs., R$ 69), relato pessoal das aventuras do fotojornalista. O título faz referência à maneira como ele via sua fotografia: “Ligeiramente fora de foco, um pouco subexpostas e a composição não é nenhuma obra de arte”.

Outra oportunidade de saber mais sobre esse mito será proporcionada pela Fundação Joaquim Nabuco, no Recife (PE), que promove amanhã e quinta (23 e 24) a exibição de dois filmes seguida de palestras e debates.

Serão exibidos os documentários A maleta mexicana (México, Espanha, Alemanha, 2011, 86min, direção de Trista Ziff), que trata da descoberta no México, em 2008, de 3.500 negativos que Robert Capa havia perdido durante o cerco nazista em 1944, e A sombra do iceberg (Espanha, 2008, 76min, direção de Hugo Doménech e Raúl M. Riebenbauer). Após a exibição, serão realizadas palestras que discutirão os métodos de trabalho e o legado do fotógrafo húngaro. Mais informações pelos fones (81) 3073.6691 e 3073.6692.

 

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