Os retratos fora do “padrão” de Claudia Regina

Claudia Regina despreza ensaios com mulheres que, em sua opinião, as submetem a padrões de beleza “sexistas e heterocapitalistas”. Não condiciona a sensualidade ao uso de meias e cintas-ligas. Suas fotos, defende, celebram a mulher, não suas meias.

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“Todas as mulheres e pessoas são perfeitamente lindas e harmônicas independente de como é seu corpo, e é isso que tento defender com as minhas imagens”, diz a paranaense de 25 anos, cidadã do Rio de Janeiro há quase dois. Claudia fotografa quase que exclusivamente mulheres, e chama seus cliques de ensaio mulher. É também dona de um site popular, o Dicas de Fotografia, no qual conta o que foi aprendendo – “na marra” – ao longo de seus anos de fotografia.

Claudia começou editando imagens num estúdio. Zero interesse pela fotografia, “era só um emprego pelo salário mesmo”. Naturalmente, isso mudou e a moça passou a se dedicar ao retrato. “Também gosto muito do design e de desenvolvimento web, inclusive já montei uma empresa nessa área, mas depois de um tempo preferi me focar na fotografia. Só fotografo mulheres, com raras exceções”.

Seus ensaios são caracterizados pela supremacia do preto e branco. O motivo é que Claudia quer simplicidade nos retratos e, a seu ver, a cor serviria apenas para distrair. Manipulação também não é bem-vinda, nada que vá ao encontro do establishment na fotografia sensual lhe interessa.

Tampouco, acredita, interessa às mulheres que ela fotografa e partilham de sua visão de mundo: “As mulheres que fotografo já são pessoas que, ao ver minha proposta, se identificam com o processo de crítica. Muitas vezes são mulheres que também são feministas e a reação, pelo menos a que espero e vejo como resultado, é de se reconhecer no retrato. Aliás, se não é pra se reconhecer no retrato, pra quê um retrato?”

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Claudia criou o blogue após passar dois
anos aprendendo fotografia “na marra”

Em 2008, Claudia Regina começou a escrever um blogue, depois de dois anos batalhando para aprender fotografia. “Não tinha condições de fazer cursos. Como encontrara poucos sites com dicas em português, resolvi criar um para ir contando o que ia aprendendo”. Disso nasceu o Dicas de Fotografia, cuja fanpage ultrapassa 120 mil likes. A página pessoal tem um número quatro vezes menor, mas mais significativo, segundo seu conceito: “O Facebook é uma ferramenta esquisita, pois ele não dá muito valor para as páginas. Embora o blogue tenha tudo isso de curtidas, a interação mesmo acontece no meu perfil pessoal, onde tenho quase 30 mil seguidores. O número é bem menor, mas a interação é mais interessante, mais pessoal”.

Qualitativamente, a paranaense traça um perfil do público do Dicas. Para ela, a maior parte pode ser descrita como pessoas de classe média que buscam um hobby que forneça uma válvula de escape a um trabalho cansativo ou que veem na fotografia uma alternativa de trabalho mais prazerosa. “São pessoas que, ao chegarem no conforto material, começaram a notar o preço disso. A fotografia vem como uma opção para resolver esse conflito”, analisa.

Claudia admite que já viveu (ainda vive) tais dilemas, e talvez seja essa identificação uma razão do êxito do site. Ela detecta um lado ruim nisso: “Vejo que isso acaba sendo um problema quando as pessoas querem manter um alto padrão de vida trabalhando com a fotografia (o que cria esse mar de marqueteiros que vemos hoje) ou quando têm aquela teoria romântica de que trabalhar com a fotografia é lindo e um mar de rosas (o que cria esse mar de mensagenzinhas motivacionais de Facebook.) Eu admito que já saí bradando aos quatro ventos que amava fotografia, mas hoje a vejo como a ferramenta que realmente é. Não amo uma ferramenta”, afirma.

 Paralelo aos ensaios em artigos no site, Claudia Regina tem uma rotina de viagens, por conta dos cursos que ministra. Este ano, está levando seu workshop Direção Afetiva a todas as capitais do Brasil, um plano antigo, iniciado no final do ano passado, mas que não deve durar: ela pretende encerrar o projeto ao fim deste ano. “Os workshops são momentos lindos, saio sempre com uma esperança nova de cada um deles. Mas este ano já estou indo para todas as capitais, e é cansativo viajar tanto, o Brasil é muito grande! Se é pra fazer workshop só no Sudeste, prefiro nem fazer”, argumenta. Por outro lado, está com um livro em processo de finalização. O título irá pôr no papel alguns temas que ela discorre no blogue. Mas não há data de lançamento: “Se sair este ano, melhor ainda”.

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