Retratos do imaginário infantil

Trajetórias diferentes que se cruzam, uma paixão em comum e uma pequenina, fotogênica, inspiração. E mais o desejo de explorar a fantasia e as brincadeiras do universo infantil. Eis em duas frases um pouco do que seja o Panoptes, um ateliê de fotografia com sede no Distrito Federal e clientes também no Rio de Janeiro. O foco não poderia ser outro: pequenos de todas as idades e gestantes – com um toque de humor, sabor e leveza, como bem exige a singeleza do assunto.

Irmina e Sávio respondem pelo ateliê de ideias, como classificam o Panoptes, nome tomado de empréstimo a uma criatura mitológica de cem olhos. “Era amigo de Hera [deusa grega do casamento] e a deusa o transformou em pavão. É um nome simbólico e, para nós, significa busca de uma capacidade de ver as coisas de uma maneira diferente, com mais sensibilidade e atenção”, explica Irmina.

De origem polonesa, 31 anos de idade, Irmina Wakczak conheceu o carioca Sávio Freire, 30, em Brasília (DF), há mais de dez anos. “Na época estava me formando em Estudos Culturais Latino-americanos. Sávio, por sua vez, estava frequentando o curso de administração”, lembra. Mochileiro, Sávio retornava ao país após viver três anos na França, onde fez seus primeiros cursos profissionalizantes de fotografia. Irmina ainda voltaria para a Polônia, depois viveria em Portugal e na Espanha até se fixar em definitivo no Distrito Federal cinco anos depois.

“Desde o nosso primeiro encontro a fotografia estava em pauta, assim como artes de modo geral e a estética. Durante anos fotografamos por puro prazer e foi com a chegada da nossa filha que decidimos atuar na fotografia como profissionais”, ela conta.

A experiência fotografando a pequena Yasmin, que está com um ano e quatro meses, traduzida no blogue dedicado a ela Retratos pra Yayá, não apenas indicou um caminho profissional, como estético: “Uma vez por semana, publicamos no nosso blogue uma foto ou uma série de fotos (às vezes é difícil decidir por uma foto só) e contamos sua história, as circunstâncias em que foi tirada. Esse compromisso semanal com os leitores não é somente a maneira que encontramos para, regularmente, retratar a infância da nossa filha, mas serve como um laboratório, uma prática criativa e de aperfeiçoamento da nossa fotografia”, confirma Irmina.

Assim, temos outro conceito intimamente ligado ao trabalho do casal, expresso no entendimento que fazem de seu ateliê: criatividade. Irmina e Sávio fotografam crianças, gestantes e famílias assumindo o compromisso de fugir ao óbvio. Tarefa que exige conhecer melhor cada cliente e formatar o ensaio o mais personalizado possível. Some-se a isso uma boa dose de inventividade, fantasia e compreensão do universo infantil e está pronta a receita.

“A busca pelo lúdico nos leva, às vezes, ao surreal. Procuramos retratar a espontaneidade e essa, no nosso entender, não se resume aos momentos de descontração e risos. A melancolia, a seriedade, a curiosidade também são emoções fortes e significativas e, apesar do que muitos pensam, muito próximas aos seres pequenos”, revela, com a experiência própria das mamães, Irmina Wakczak.