Prêmio do World Press Photo sob suspeita

O “sniper” Shane Keller: má-fé ou engano? (foto: Paolo Pellegrin)

O World Press Photo está diante de uma situação embaraçosa. A edição 2013 desse respeitável concurso fotojornalístico, cujo resultado foi divulgado há algumas semanas, premiou um trabalho que, tudo indica, apresenta elementos de farsa. E de plágio. A situação é ainda mais delicada porque o autor é ninguém menos que Paolo Pellegrin, fotógrafo italiano da Magnum.

Pellegrin ficou em segundo lugar no WPP com o ensaio The Crescent, Rochester 2012. O mesmo trabalho conquistou o segundo lugar em outro importante certame, o Pictures of the Year, que conferiu a ele ainda o prêmio de Freelancer Photographer of the Year.

The Crescent é um local barra-pesada da cidade de Rochester, que foi sede da outrora poderosa Kodak. O fotojornalista retratou alguns personagens desse submundo. Um deles está no centro da controvérsia.

O homem que aparece armado na foto desta matéria foi apresentado no ensaio como sendo um ex-atirador de elite do exército norte-americano que vive hoje naquela região. Soube-se depois que o homem, cujo nome é Shane Keller, esteve mesmo no exército, mas não como atirador de elite. E que a foto foi tirada em sua casa, numa região bem distante – e infinitamente mais segura – do foco da reportagem.

Para piorar, afirma-se que Paolo Pellegrin, no texto de apresentação do ensaio, plagiou trechos de um artigo publicado há dez anos pelo New York Times.

Diante da repercussão negativa do caso, o fotógrafo da Magnum disse que talvez não tenha entendido corretamente o que Keller teria dito (sobre ser um “sniper”, atirador de elite) ou este talvez tenha se expressado mal. Para ele, a presença do ex-soldado no ensaio representa seu ponto de vista a respeito da cultura norte-americana relacionada às armas. “Shane acredita que ele e suas armas não têm nada a ver com a violência em The Crescent. Eu discordo”, justificou o italiano, acrescentando que não se apegou aos limites geográficos do lugar, mas sim a uma concepção mais conceitual, visto que não conhecia bem a região. Também afirmou que retirou as informações da internet, mas não pretendia que fossem publicadas, apenas serviriam de base para o trabalho.

Michiel Munneke, diretor do World Press Photo, divulgou nota a respeito da polêmica na última terça (26). Segundo ele, o júri do concurso considerou que, apesar de que uma introdução e legendas mais precisas fossem recomendáveis, não se sentiu “enganado pela imagem na história e nem pela legenda incluída na foto”.

Apesar disso, o episódio reacende velhas questões acerca do papel do jornalismo e a maneira como ele “vende” suas histórias ao público…

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