Paulo del Valle. Profissão: Instagrammer
Com mais de 200 milhões de usuários ativos por mês, mais de 20 bilhões de imagens compartilhadas até agora, o Instagram não é só uma mania de quem curte postar fotos na web. É negócio, e não apenas para os criadores do aplicativo, Kevin Systrom e Mark Krieger, este brasileiro, que faturaram 1 bilhão de dólares vendendo a ideia para o Facebook. Muitas companhias veem na rede social uma plataforma para alavancar suas marcas, em face da visibilidade que o Instagram oferece. E uma forma de fazer isso é investindo em usuários populares.
Usuários como Paulo del Valle, cujo perfil de trabalho é resultado da conjuntura acima: “Hoje sou um fotógrafo profissional e também um ‘instagrammer profissional’”, define o designer carioca de 25 anos, assíduo no Instagram desde janeiro de 2011, apenas três meses depois que o aplicativo apareceu. Ele conta que, antes disso, raramente apontava seu iPhone para alguma coisa, mas se viu rapidamente viciar em fotografia, o que o fez subir igualmente rápido na “hierarquia” da rede social.
“Com o tempo fui melhorando e todo lugar que eu olhava, eu via uma boa foto. Em agosto de 2012, me tornei um ‘usuário sugerido’ do Instagram e vi meu número de seguidores crescer de 1.400 para 243 mil em um ano e meio. A partir desse momento quis melhorar mais ainda e tornar a fotografia algo mais profissional na minha vida. Foi quando comprei minha primeira câmera, uma semiprofissional (Canon T2i) e comecei a estudar por conta própria”, diz Paulo, que atualmente maneja uma Canon 6D e fotografa principalmente paisagens – uma característica que impulsionou sua condição de instagrammer remunerado.
O setor turístico é um dos mais atentos às possibilidades do aplicativo, ele informa: “Empresas e organizações governamentais (ou não) têm focado em trabalhar com instagrammers do mundo todo, contratando-os para viajar para seus países e mostrar para seus seguidores tudo o que o país tem de melhor, despertando assim a vontade de todos de viajar para aquele lugar”, destaca. Bastante requisitado para a tarefa, nos últimos quatro meses Paulo esteve em lugares como Austrália e Israel, junto com colegas de outros países. Também assinou contrato com a Nike: é parte do time de fotógrafos da conta @nike.
Ele explica que o que torna um “instagrammer” interessante para essas empresas nem sempre é o número de seguidores, e sim a quantidade de “likes” (engagement) que recebe, assim como a qualidade do conteúdo postado. A diária paga, no seu caso, fica em torno dos duzentos dólares (R$ 450, aproximadamente), mas tem usuário que ganha mais, dependendo do desempenho na rede. “Existem também posts patrocinados, que às vezes mostram produtos, que podem ser a partir de US$ 400, mas é algo que eu não gosto de fazer e não fiz até o momento. Já ouvi de um caso em que uma amiga ganhou US$ 10 mil por apenas um post. Também tem casos em que se é convidado para fotografar durante todo o dia para outros meios de divulgação que não sejam as nossas próprias contas, em que uma diária pode ficar em torno de US$ 1.000”.
A perspectiva de lucro proporcionada pelo Instagram tem feito muita gente largar seus empregos para se tornar “instagrammer” em tempo integral. Paulo, porém, é mais cauteloso: “O que me preocupa é que o Instagram não estará por aqui por muito tempo. Acredito que toda rede social tem a sua vida útil e com o tempo as pessoas enjoam e querem buscar coisas novas. Por isso, acho arriscado as pessoas largarem seus empregos e se dedicarem full-time a isso. Por outro lado, se dedicando full-time, é possível aproveitar esse ótimo momento do Instagram e tirar o melhor proveito disso, conseguindo o maior número de projetos possíveis”, avalia.
Sua relação com o aplicativo, entretanto, é mais afetiva do que econômica. “O Instagram foi o motivo pelo qual comecei tudo isso e mudou a minha vida para sempre. É a razão pela qual sou fotógrafo e me trouxe incríveis oportunidades, como viajar pelo mundo e trabalhar para a Nike”. Por isso, ele se empenha em fazer a comunidade crescer, ajudando a organizar “instameets” (encontros de “instagrammers”) e criando projetos relacionados a ele, como a série de vídeos Instagrammers Stories, feita em parceria com o colega do Instagram, fotógrafo e designer Arthur Martins. “Tive a chance de mostrar o projeto ‘A Better Instagram’, que fiz com meu amigo Yugi Aragão, ao time do Instagram na Califórnia no final do ano passado. Eles amaram e hoje já implementaram duas das dezoito funções que pensamos no projeto”, comemora.
O mais incrível nessa comunidade, em sua opinião, é o fato de os envolvidos quererem realmente se encontrar. Daí a realização dos “instameets”, em que usuários de todo canto se reúnem para se conhecer, trocar experiências e – claro – fotografar. De quebra, os eventos podem render um bom contrato: “Hoje em dia se tornou a melhor forma de divulgar trabalhos de um fotógrafo, ainda mais com tantas empresas e organizações focando em campanhas criadas exclusivamente para o Instagram e também a oportunidade de se ter tantas pessoas acompanhando o seu trabalho e interagindo com você. Grande parte dos grandes amigos que tenho hoje, eu os conheci através do Instagram e espero levar essas amizades para a vida toda”, deseja Paulo.