Olhar da artista: Márcia Charnizon

No mês de outubro, tive a grande oportunidade de expor no Carrossel do Louvre. Para quem não conhece, é um espaço anexo ao museu do Louvre que abriga diferentes exposições durante o ano. A participação foi pequena, havia outros artistas, a grande maioria era de pintores e escultores; havia poucos fotógrafos.

Para começar, foi supercomplicado selecionar as fotos, não foi uma exposição pensada ou exclusiva – quando eu vi, estava diante das minhas fotos, me perguntando onde estariam as fotos ideais para uma exposição de arte.

Percebi que há um longo tempo eu não saía sem compromisso, com minha câmera na mão, para fotografar a magia das ruas, a natureza do cotidiano.

Lembrei também do último salão da foto que aconteceu aqui em Paris, no Grand Palais, onde estão os maiores fotógrafos do mundo. Nesse dia, saí de lá chocada! Pensei: “Acho que nunca vou expor aqui”. Eram basicamente cenas de violência, sexo, guerra, ou fotos sem nenhum sentido, de um pedaço de melancia, por exemplo. Crianças morrendo de fome, pessoas deformadas.

Ainda procurando as tais fotos para a exposição, percebi que nós, fotógrafos, às vezes estamos tão ligados nas tendências do mercado, Trash the dress, nos filtros, nas poses, e é isso também que nosso cliente espera de nós, que esquecemos que temos que manter nossa essência – afinal, somos também artistas. E mesmo sabendo disso, e tentando fugir dessa rotina, a missão não é fácil: você fica pensando o tempo todo no que todo mundo vai pensar das suas fotos e uma tendência a ir no mais cotidiano e certo se estabelece nessa hora.

Lembrei de uma das minhas fotógrafas prediletas. Para quem não conhece, eu apresento com prazer: o nome dela é Márcia Charnizon, ela é uma profissional de sucesso, premiada, reconhecida internacionalmente e, acima de tudo, uma artista.

Eu fotografo com frequência os clientes da Márcia, acho que ela nem sabe disso, e eles me revelam muito da sua personalidade, da sua forma de trabalhar, e até do seu estilo de se vestir. Você entra no site da Márcia e já vê que ela não se preocupa muito com o glamour: lá tem foto de gente normal, fazendo alguma coisa comum, que vira arte; ela mistura fotos de clientes com fotos do cotidiano no seu site.

Falei com ela sobre este artigo e ela me respondeu prontamente. Quando me descreveu como via o seu trabalho, fiquei surpresa. É incrível como cada profissional se vê de uma forma diferente, e como transmite isso nas suas fotos.

Como Márcia descreve seu trabalho: “Minha rotina na fotografia é pautada pelo desejo de ser afetada pelas pessoas. Pela reação do outro diante da minha presença e provocação. Mas afetada não no glamour, que nele eu não me reconheço. Mas nesses pequenos grandes sentimentos que todo mundo tem, como condição básica da nossa espécie. Um ciúme, a vaidade feminina, as briguinhas de família, a mulher vestida de noiva e a encarnação dessa personagem, a maternidade e o encontro da mulher com a sua situação de bicho, a liberdade das crianças, o olhar fixo das crianças, os momentos do nada, onde construo uma imagem a partir da luz. Para mim não é fato que interessa. Mas o recorte dele”.

Muito legal, né? Portanto, o artigo de hoje é para pensarmos sobre o que somos como fotógrafos e artistas, e o que conseguimos fazer com nossas câmeras, nossa identidade pessoal.

Depois de me lembrar da Márcia, ficou muito mais fácil escolher as fotos. A visão que eu tenho do meu trabalho é completamente diferente da dela, e é por isso que cada fotógrafo tem seu estilo, e seu caminho a trilhar.

 

 

 

 

FABIANA MARUNO cursou 3 anos de publicidade e propaganda na PUC-PR, onde teve seu primeiro contato com a fotografia, e é formada em administração pela UFPR. Atualmente ela é fotógrafa do Conexão Paris e correspondente do Photo Channel na capital francesa. Apaixonada por Paris, transformou essa paixão em fotografia e, através dela, eterniza os momentos mágicos vividos nessa cidade incrível.

 

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