Nem fotógrafo, nem cabeleireiro: os dois

O fotógrafo Sidney Angelo, autor da ótima série Invisible Man, não é apenas fotógrafo. Na verdade, ele possui uma habilidade que muitos fotógrafos por aí certamente gostariam de ter quando o assunto é fotografar modelos: Sidney sabe domar cabelos. “Quando faço um editorial de moda ou um book, eu mesmo crio a produção de cabelo e maquiagem a ser usadas. Quando vejo que algo não está bom na modelo, não chamo o maquiador ou cabeleireiro para arrumar, vou lá e faço sozinho”, conta o profissional.

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Primeiro ele se tornou cabeleireiro e, anos depois, graças a um cliente fotógrafo, se tornou fotógrafo também. “Por volta do ano de 2002, conheci um fotógrafo chamado Celso Roberto Tidon. Além de cliente, viramos amigos e, depois de tanto encher sua paciência, ele me vendeu uma Canon AE-1. Foi minha primeira câmera, meu primeiro contato real com o mundo da fotografia”, conta Angelo.

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O fotógrafo/cabeleireiro deu uma entrevista exclusiva para o iPhoto Channel contando a relação entre as duas profissões, curiosidades sobre o fazer fotográfico aliado à vida de cabeleireiro e mais. Confira a entrevista.

Foto: Sidney Angelo
Imagem da série Invisible Man | Foto: Sidney Angelo

iPhoto Channel – Como você entrou na fotografia?

 Sidney Angelo – Em 1995, fui apresentado ao mundo fashion dos cabelos, comecei a trabalhar como cabeleireiro no salão da minha irmã em Blumenau. Aos poucos comecei a ganhar experiência e a bater asas, como todo passarinho faz. Me mudei para São Paulo em 200, onde ganhei muita experiência e conheci muita gente do mundo da moda. Por volta de 2002, conheci um fotógrafo chamado Celso Roberto Tidon. Além de cliente, viramos amigos e, depois de tanto encher sua paciência, ele me vendeu uma Canon AE-1. Foi minha primeira câmera, meu primeiro contato real com o mundo da fotografia.

Sidney num momento "cabeleireiro" preparando o modelo Diego Jader, Mister Blumenau 2015.
Sidney num momento cabeleireiro preparando o modelo Diego Jader, Mister Blumenau 2015.

iC – Como foi o início da fotografia como profissão pra você?

SA – Entre um corte de cabelo e outro, comecei a fotografar minhas próprias clientes no salão. E percebi que era hora de aprender mais sobre técnicas de estúdio, me aprofundar no mundo da moda. Em 2008, voltei para Blumenau, minha cidade natal, onde montei meu salão. Até então eu não tinha estúdio fotográfico físico montado. Demorou algum tempo até conseguir entrar no mercado fotográfico local, fui fazendo freelances para conhecer o pessoal. O tempo foi passando e consegui um bom reconhecimento com fotografia de casamento. Mas o que eu realmente queria era poder unir o útil ao agradável, ou seja, trabalhar com cabelo e fotografia em um só local. Como, além de fotografar casamentos, também fotografava em estúdio, comecei a procurar um local onde pudesse conseguir tudo isso. E em janeiro de 2014, consegui. Hoje, não preciso mais montar meu equipamento na sala de casa quando quero fazer um book. Ou sair correndo do salão onde eu trabalhava para atender o cliente em sua casa. Faço isso tudo em um único lugar.

O fotógrafo Sidney Angelo em seu estúdio.
O fotógrafo Sidney Angelo em seu estúdio.

 iC – A fotografia já foi em algum momento sua única profissão?

 SA – Não, sempre trabalhei e conciliei as duas profissões. Confesso que já pensei em largar uma ou outra em alguns momentos difíceis, mas até hoje somente a profissão de cabeleireiro é a que foi por um tempo minha única profissão. Quando entrei na fotografia sobrevivi das duas.

iC – De que forma você concilia a fotografia com a profissão de cabeleireiro?

 SA – Essa é a pergunta que todo mundo me faz. Quem me conhece, convive ou é meu cliente sabe que minha vida é uma loucura. Começo às 8 horas da manhã e geralmente vou até 23h trabalhando tanto com cabelo como com fotografia. Isso praticamente de segunda a segunda. Todo mundo me chama de louco, diz que uma hora eu posso entrar em parafusos… E de vez em quando isso acontece, mas é o preço que eu pago por amar tanto o que eu faço.

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Sempre trabalho com hora marcada, tanto pra cabelo quanto pra foto, então dificilmente as coisas dão erradas. Tem vezes que eu corto cabelo e produzo um book no mesmo dia, ou atendo um cliente que quer fechar um casamento enquanto, lá no lavatório, minha assistente está hidratando um cabelo para eu em seguida cortar. Então é assim que vou levando.

Tem dias que tenho que fechar o salão para produzir um editorial de moda. Tem dias que as edições das fotografias tem que esperar um pouco até eu terminar tudo no salão de beleza. E sei que é muito puxada essa minha vida dupla de trabalho, mas enquanto eu der conta de tudo isso, vou levando numa boa. Por quê?  Porque eu amo o que eu faço.

 iC – Hoje, qual sua principal atividade econômica: o salão de beleza ou a fotografia?

 SA – Sobrevivo das duas. Tem mês que uma dá mais dinheiro, tem mês que é a outra, mas é exercendo as duas que sobrevivo e sustento minha família.
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iC – Como você vê o mercado da fotografia hoje em dia em relação a viver somente neste ramo?

SA – Pra falar a verdade, não está fácil. Quando comecei foi bem difícil encontrar equipamento fotográfico a disposição, hoje na minha cidade há várias lojas em vários shoppings centers vendendo equipamentos completos para quem quiser. Claro, não é proibido comprar uma câmera, mas com tanta facilidade de compra, surgiram muitas pessoas oferecendo serviços fotográficos. E alguns são ou muito baratos ou, na maioria das vezes, sem nenhuma qualidade ou experiência.

Tenho alguns amigos fotógrafos que reclamam muito sobre isso e entendo, pois gastamos muito em cursos e formação, equipamentos e muito mais; e observamos varias pessoas comprando uma câmera amadora e vendendo fotografia nas redes sociais a preço de banana. Mas em tempos de dificuldade, a nossa criatividade tem que fazer a diferença. No meu caso, eu não sinto muito essa dificuldade como alguns sentem e me falam. Eu tenho esse nicho de trabalho onde conquisto meus clientes de fotografia na minha própria cadeira de corte de cabelo.
iPhotoChannel-sidney-angelo-fotografia-cabelereiro-fotografoEnquanto corto um cabelo ou faço uma tintura, ofereço meus serviços de fotografia de books e de casamento. Até editoriais de moda já foram fechados em minha cadeira de corte. Portanto, sei que não está fácil, mas conheço vários fotógrafos que vivem, sustentam sua família, passeiam, compram seus bens somente com a fotografia.

iC – Quais as maiores vantagens em se trabalhar com fotografia?

 SA – No meu caso, as maiores vantagens são que posso unir o útil ao agradável, posso criar um visual moderno para uma cliente, posso transformar seu visual, e depois registrar isso sem ter que se locomover muito. Tudo em um só lugar. Hoje faço o que realmente amo, fotografia e cabelo. Faço moda, crio, invento, recrio, desmonto e depois registro tudo com minhas lentes.

Quando faço um editorial de moda ou um book, eu mesmo crio a produção de cabelo e maquiagem a ser usadas. Quando vejo que algo não está bom na modelo, não chamo o maquiador ou cabeleireiro para arrumar, vou lá e faço sozinho.

E um detalhe muito importante, que nunca falei a ninguém, é que toda noiva que fecha um casamento comigo tem o privilégio de poder mudar o penteado de casamento no meio da festa quando quiser. Geralmente levo um kit de materiais, pente, grampo e spray, para mudar o cabelo da noiva entre a cerimonia e a festa.

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Algumas  vezes eu fiz isto no meio da pista de dança, elas amam e os convidados deliram. Muitos casamentos que eu fiz foram fechados apenas por este detalhe das minhas duas profissões. Esse é o meu outro grande nicho de mercado, já que eu sou o único cabeleireiro e fotografo da minha região. Até pouco tempo atrás, eu tinha notícia que eu e o Fernando Torquato, maquiador e fotógrafo, eram uns dos poucos neste mesmo caso. Hoje sei que já existem mais pessoas que tem essas duas profissões.

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