Reflexão sobre o poder em exposição no MAM

Faculdade que emana das ruas ou das altas esferas administrativas, o poder exercido nos últimos 50 anos – e seus reflexos na sociedade brasileira – é analisado por meio de fotografias documentais e conceituais na mostra Poder provisório, em cartaz no Museu da Arte Moderna de São Paulo (MAM).

A exposição tem curadoria do jornalista Eder Chiodetto e reúne 86 obras do acervo do museu, de fotos históricas a algumas aquisições recentes. Exemplos dessa última categoria são as imagens da “primavera brasileira”, a série de manifestações que tomou o país a partir de julho do ano passado, registradas pelo coletivo Mídia Ninja.

Ao lado delas, há uma série de fotografias de Orlando Brito que mostram a trajetória de Lula, então metalúrgico, o mandato de João Figueiredo, a guerrilha do Araguaia e a campanha das Diretas.

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Lula reaparece, já presidente, nas fotos de Mauro Restiffe, de 2003. O 11 de Setembro também ganhou destaque na mostra, por meio das fotos do fotojornalista brasileiro Alcir da Silva, ao lado de diversas outras obras que têm a fotografia como suporte.

Inspirada no poema Cidade/City/Cité, de Augusto de Campos, a montagem da exposição segue uma linha contínua – não cronológica –, numa sucessão de imagens sem espaços entre si que se assemelha a uma “ladainha”, conforme explica o curador: “Uma aparente sucessão que na verdade é uma repetição enfadonha e um tanto sombria”, descreve Chiodetto.

Em seu texto de apresentação, Eder Chiodetto apresenta outras questões embutidas no conceito da exposição, entre as quais o próprio papel do museu em estabelecer o que se deve entender como arte: “Quem diz o que pode e o que não pode entrar no acervo do museu? Quem tem o poder de legitimar o que é ou não é arte? Quanto o mercado de arte pode lucrar com uma exposição que pontua doenças crônicas do capital? Quão legítima pode ser a crítica de um curador ao poder, se a própria curadoria é também um exercício de poder? Os bastidores da política podem ser fotografados até que ponto? Se o poder da representação se escora em pontos de vistas subjetivos, quem narra a história oficial?”, questiona o texto curatorial.

Poder provisório fica em cartaz até 15 de junho.

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