Os Estados Unidos – vá lá, o mundo – vivem dias de economia recessiva. A situação atual, porém, é refresco se comparada com a Grande Depressão que os EUA enfrentaram a partir do final do anos 1920. No começo daquela década, o país vivia momentos de euforia e crescimento acelerado. As ações subiram, todos investiam na bolsa, mas o cenário era ilusório. Isso culminou com uma quebradeira que levou os Estados Unidos – e, novamente, o mundo – à beira da falência. E milhares de trabalhadores ao olho da rua – situação, pensando bem, semelhante à vivida atualmente por alguns países europeus.
A reação à crise começa por volta de 1933, quando o governo lança uma série de projetos de obras públicas para recuperar a economia. É no contexto dessas ações que surge uma iniciativa que terá absoluta importância para a fotografia documental.
Entre as medidas que tomou, o recém-empossado presidente Franklin Roosevelt instituiu um programa para ajudar as arruinadas regiões agrícolas do interior do país. Denominado Farm Security Administration (FSA), o projeto contou com a participação de um grupo de fotógrafos, que ficou encarregado de documentar a situação e registrar as ações do governo.
Seria possivelmente o registro ordinário de um projeto governamental não fosse a excelência desses quinze fotógrafos, entre os quais se destacam os nomes de Walker Evans, Dorothea Lang, Jack Delano, Gordon Parks e Lewis Hine.
O caráter oficioso e propagandístico da missão não impediu que o grupo produzisse um material artístico de primeira, que lançaria as bases da fotografia social (não no sentido em que o termo é empregado atualmente) de caráter documental. Segundo o professor do Senac e curador João Kulcsár, que possui uma extensa pesquisa sobre o tema e foi responsável por trazer algumas dessas imagens para exposições no Brasil, as fotos sobretudo contribuíram para a construção da identidade norte-americana.
Desse grupo talentoso, talvez quem ganhou maior projeção foi Walker Evans. O fotógrafo do Missouri soube mover com maestria seu olhar para além da pauta oficial e evidenciar a dimensão humana da tragédia econômica, oferecendo um registro preciso da miséria da população rural do sul dos Estados Unidos, sua condição de atraso e de segregação racial.
Após o trabalho para a FSA, Evans foi contratado pela revista Fortune para fazer uma grande reportagem também sobre os efeitos da crise. O fotógrafo partiu para o Alabama junto com o escritor e jornalista James Agee. A dupla conviveu durante quatro semanas com agricultores e produziu um relato extremamente detalhado das condições de vida naquela região empobrecida, com o acréscimo mais do que eloquente das imagens de um realismo impactante de Evans. O relato e as fotos não saíram na revista, mas em livro, em 1941, considerado o mais corajoso documento sobre a Grande Depressão norte-americana. Em 2009, ele saiu no Brasil sob o título Elogiemos os Homens Ilustres (Companhia das Letras, 520 págs., R$ 69,50).