Mostra abre ‘Ano do Índio’ de Milton Guran

Digitalização e Tratamento Zeca Linhares

“O próximo ano, para mim, será um ano indígena”, afirma o fotógrafo e antropólogo carioca Milton Guran, 65 anos de idade e 40 de fotografia – metade dos quais ele passou documentando os índios. Numa prévia do que será seu 2014, Milton reviu o acervo até aqui construído para a exposição Filhos da Terra, que o Centro Cultural Correios, no Rio de Janeiro, inaugurou na noite de ontem (04).

A curadoria é do próprio Milton Guran, que, entre outras atividades, coordena o encontro internacional de fotografia do Rio de Janeiro (FotoRio). Ele selecionou 50 fotografias em preto e branco de dezesseis diferentes grupos indígenas, tomadas de uma ponta a outra do país. Segundo conta, seu envolvimento com o tema começou em 1978, ainda na “pele” de um fotojornalista. “Para entender melhor a problemática, fui ler antropologia, e daí acabei fazendo uma pós-graduação e depois um doutorado em antropologia (Ecole des Hautes Etudes en Scenes Sociales, França, 1996). Nesse percurso, parei de fotografar a questão indígena quando fui para a França, em 1992, e só retomei já nos anos 2000, quando voltei ao Brasil”.

Milton concebeu Filhos da Terra tendo em mente a diversidade cultural que cada uma das etnias retratadas representa. Seja ianomâmi, xavante, guarani ou pankararu, cada qual desenvolve um modo particular de vida e a exposição enaltece justamente esse aspecto, fugindo a leituras que sublinhem o caráter exótico da figura do índio. Algumas imagens, inclusive, possuem importância histórica, pois registram costumes e rituais que se perderam com o tempo.

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“Nesta exposição há fotos que foram feitas no decorrer de reportagens, de missões para estudos antropológicos, para exposições etnográficas e para projetos pessoais (Bolsa Vitae de Fotografia, 1989). O ponto comum a todos os trabalhos é sempre o respeito pelo outro, pelo espaço e pela cultura do indígena”, destaca o pesquisador, que durante esses contatos vivenciou conflitos dos índios com garimpeiros, grileiros e jagunços, ou entre diferentes etnias: “No entanto, nunca estive em uma situação em que ficasse oposto aos índios, ou ameaçado por eles”, garante.

Atualmente, as pesquisas de Milton Guran o têm conduzido ao continente africano. Ele anda interessado nos agudás, descendentes de escravos no Brasil que retornaram a seus países de origem. “Mas, ainda assim, estou trabalhando na redação final dos meus diários de campo entre quatro diferentes povos da Amazônia, e tenho um projeto com os Arara, do Rio Iriri, que pretendo efetivar ainda em 2014”. Esse grupo Milton documentou em 1988, quando do primeiro contato com uma equipe da Funai. Como ele bem falou, 2014 vai ser seu “Ano do Índio”. O pontapé inicial, Filhos da Terra, permanece no Centro Cultural Correios (R. Visconde de Taboraí, 20) até 19 de janeiro, com entrada gratuita.

Ph Milton Guran. Kayapo 1990

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