Fotógrafo conta aventura de volta ao mundo com a Família Schurmann
Dar a volta ao mundo é algo que existe no imaginário da maioria de nós desde a infância. Nada mais incrível do que circum-navegar este grande globo suspenso que chamamos de lar. Porém é uma experiência reservada para poucos seres humanos no planeta Terra. Conversamos com o fotógrafo catarinense Klaus Schlickmann, que acaba de voltar da Expedição Oriente, viagem da Família Schurmann que deu a volta ao mundo a bordo do veleiro Kat.
“A câmera ficava em cima da mesa de trabalho amarrada em elásticos para não sair voando quando o barco balançava”, conta Schlickmann.
Na entrevista, Klaus conta como tudo começou, lembra de coisas que aconteceram durante o trajeto, além de dar detalhes específicos sobre a fotografia de viagem nessas condições, em alto mar e dentro de um veleiro. Confira a entrevista completa:
iPhoto Channel – Como surgiu o convite para fotografar a Expedição Oriente da Família Schurmann?
Klaus Schlickmann – Eu estava trabalhando como assistente do Walmor de Oliveira, e começando a sair da minha zona de conforto ao fotografar esportes de aventura e outdoor como freelancer. O Capitão Vilfredo Schurmann pediu indicações ao Walmor sobre fotógrafos que cabiam no perfil da expedição. Depois de enviar meu currículo, fiz algumas entrevistas via skype e em 10 dias estava voando para a Indonésia encontrar o veleiro Kat e a tripulação.
iC – Quais eram as suas expectativas no início da viagem?
Klaus S. – Tudo aconteceu tão rápido que eu não tive muito tempo pra pensar. A certeza era que seria uma incrível oportunidade de poder conhecer diversas culturas e viajar a bordo de um veleiro documentando tudo. O que me deixou muito excitado.
iC – Quais equipamentos você levou? O que pesou na escolha deles?
Klaus S. – Levei uns rolos de filme P&B, minha Nikon FM com a Nikkor 50mm f/1.8 (risos).
A expedição já tinha uma lista de equipamentos que eu deveria utilizar. A câmera era uma Canon 5D Mark III com as lentes 16-35mm f/2.8, 24-105mm f/4 e 50mm f/1.8 – todas Canon.
Nunca fotografei muito com lentes extremas, principalmente para o lado das grande-angulares, mas o espaço confinado do barco exigia a 16mm mais do que eu imaginava.
Foi um laboratório extensivo de grande-angular. Essa lente foi a que mais ficou na câmera, gosto muito do ângulo da 35mm e nesse combo eu tinha tudo o que precisava. A 50mm entrava para retratos e demandas de imprensa enquanto a 24-105mm só era utilizada quando precisava de uma tele. Se eu pudesse escolher trocaria essa última zoom por uma teleobjetiva zoom tipo a Canon 70-200mm f/2.8.
iC – Como era o manuseio dos equipamentos em alto mar, os cuidados e como você carregava a bateria das câmeras?
A câmera ficava em cima da mesa de trabalho, amarrada em elásticos para não sair voando quando o barco balançava. Tinha que ser assim porque as ações aconteciam muito rápido e a qualquer momento, então não dava tempo de abrir uma bolsa para pegá-la. Isso deixou o equipamento bem exposto à umidade, maresia e sol, mas sempre achei que esse tipo de equipamento fosse feito pra isso mesmo e aguentaria sem problemas.
A água salgada é o maior perigo para esses equipamentos, então sempre que eu tomava uma onda na cara ou julgava necessário, limpava tudo com calma e cuidado. O equipamento realmente aguenta o tranco. Já as baterias entrava em um processo sagrado no final do dia, fazer backup das fotos e carregar as baterias que haviam sido usadas. Quando a gente passava um bom tempo sem energia elétrica em algum lugar remoto, eu levava 5 baterias e tinha autonomia de sobra.
iC – Quais foram os principais desafios durante de fotografar a viagem?
Klaus S. – O maior desafio sem dúvida é morar em um barco com 8 pessoas e não poder dar uma voltinha de vez em quando. É um ambiente que não dá espaço para falta de disciplina ou problemas de relacionamento. E além de sermos profissionais nas áreas específicas, fazer parte da tripulação significa dividir todas as tarefas de navegação e limpeza com muita responsabilidade.
iC – Você poderia contar alguma história curiosa com relação à fotografia durante a viagem?
Klaus S. – Na ilha de Reunião, que pertence à França e fica no oceano Índico, fomos visitar um vulcão que tinha acabado de entrar em erupção. No primeiro dia, fizemos um trekking com passo acelerado para bater umas fotos e fazer um scouting do local antes do sol se pôr. Chegando no último ponto de vista, a cratera ainda estava bem longe e minha tele máxima era uma 105mm. Dava pra dividir a lente do cinegrafista, uma Nikkor 80-200mm e colocar um adaptador para a Canon, mas isso ia levar algum tempo que era bem importante para nós dois.
Foi aí que olhei para o lado e vi um fotógrafo com uma Canon 600mm branca brilhando e fui na maior cara de pau pedir a lente para fazer umas fotos. Tomei um belo “não” em francês! Alguns segundos depois uma mulher que ouviu a tentativa de conversa me pergunta o que eu precisava, e eu explicando o fato de que estava viajando de longe e queria levar uma foto boa da erupção para casa, o que motivou ela a intervir em francês convencendo o fotógrafo a me emprestar o canhão por alguns minutos.
Outra coisa interessante é que as pessoas reagem de forma muito diferente a uma câmera, dependendo da parte do mundo e o ambiente em que você está. Tem lugares que as pessoas te pediam para fazer retratos, bem exibidas, enquanto outros te mandavam embora com uma mão no rosto e outra na lente. Aprender a conversar com as pessoas e tentar a língua local antes de mostrar qualquer interesse em fotografa-la sempre ajuda. E a barreira da língua normalmente traz mais risadas que problemas!
iC – Você gostaria de falar sobre alguma foto em especial que você capturou durante este trajeto?
Klaus S. A foto abaixo foi feita quando ficamos 3 dias dentro da floresta de Sibeirut, na Indonésia com os nativos Mentawai. Levamos 2 dias de deslocamento para chegar até o local, subindo um rio de canoa em um dia e caminhando o outro dia inteiro com todo o equipamento nas costas em uma mata bem fechada, até o local onde eles vivem e tiram todo o sustento da floresta e dos animais que circulam na região, em sincronia perfeita com a natureza. A espiritualidade desses índios e o conhecimento que eles carregam sobre a floresta é muito além da nossa compreensão, e dividir aquele espaço com eles foi uma experiência bem profunda.