Galeria Lume exibe série de Gabriel Wickbold

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A Galeria Lume está com a exposição Sans Tache (Sem Marcas), com fotos de Gabriel Wickbold e curadoria de Diógenes Moura, até o dia 20 de setembro. A série inédita com 15 fotografias questiona o homem e sua relação com o envelhecimento, com o intuito de criticar a estética “supermanipulada” ditada pela mídia em fotografias que não transmitem a real aparência dos personagens.

Inspirado na luz lateral e sombria de Caravaggio e na arte barroca renascentista, Gabriel Wickbold fotografou diversas pessoas que “emprestam” seus corpos para esse ensaio, cujo resultado nos deixa com a sensação de estarem embalsamados, submersos ou, em outros momentos, em estado de levitação. Livres de toda e qualquer marca ou mancha em suas peles, por meio de tratamento de imagem, as fotografias são impressas e submetidas a “grilagem” (prática muito antiga de colocar um papel, contendo um tipo de “comprovação” de propriedade, dentro de uma gaveta junto com alguns grilos. O papel, após algumas semanas, passa a ter uma aparência envelhecida em razão dos dejetos daqueles insetos. Com esse papel envelhecido pela ação dos grilos, a pessoa visa comprovar a antiguidade de sua ocupação). A partir disso, os excrementos e movimentos frenéticos dos insetos passam a agir nos retratos, dando uma aparência de papel envelhecido e revelando a questão corpo/tempo/marcas. Cada foto recebe essa ação à sua maneira: assim como na vida, o tempo age de forma distinta para cada um.

Em algumas imagens, o corpo se apresenta como em posição fetal, sem formas claras. Em outro momento, em pé, quase como um espelho em tamanho real. Um casal, como Adão e Eva, mostra que o tempo passou até para quem foi o início da “criação divina”. Em outra fotografia, o menino de cabelo ruivo parece Peter Pan em voo livre – como na “Terra do Nunca”, onde não se envelhece jamais.

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Os novos trabalhos de Gabriel Wickbold criticam a estética artificial e distorcida dos corpos exibidos em revistas ou pela internet: eles não apresentam manchas ou rugas, como se envelhecer fosse feio, como se fosse errado ou negativo ter os sinais da passagem do tempo impressos na pele das pessoas retratadas. Sobre o questionamento, Diógenes Moura comenta: “Todos nós queremos ser belos, adorados, inesquecíveis, material de consumo. Gabriel Wickbold pensou uma série para entregá-la à passagem do tempo. Sugere, como resultado final para ‘corpos perfeitos’ o destino que só o tempo será capaz de desvendar. Possibilita que sua fotografia corroída invente um outro corpo – dessa vez nada renascentista – diante do espelho/simulacro que enfrentamos diariamente em nossa fragilidade cotidiana”.

 Nesta série, a intervenção dos grilos se dá ao comerem o papel onde a imagem de um corpo, em tamanho real, aparece de forma sutil. Metaforicamente, o corpo nada mais é do que o homem sendo comido pelo bicho. O fim que todos nós teremos. “Sans Tache trata da relação humana com as marcas das quais nós mesmos queremos fugir, ao invés de acreditar que elas são parte do nosso aprendizado e da forma mais pura do homem, que é ser feito de carne e osso”, diz o fotógrafo.

Exposição: Sans Tache (Sem Marcas)

Artista: Gabriel Wickbold
Curadoria e expografia: Diógenes Moura
Período: até 20 de setembro
Local: Galeria Lume – www.galerialume.com
Rua Joaquim Floriano, 711 – 2º andar – Itaim Bibi – São Paulo, SP
Horário: sgunda a sexta-feira, das 10 às 19h. Sábado, das 11 às 14h
Tel.: (11) 3168-0351

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