Especial: mãe e filho, duas visões da fotografia

Max tem 26 anos e é um legítimo representante da nova geração. Diretor de fotografia e designer gráfico, sua produção lida com intervenção digital e vídeo. Jusselen tem 55 e representa a tradição. Com formação em tecnologia em fotografia, elegeu como suporte o filme fotográfico e a rudimentar técnica pinhole.

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A fotografia segundo Max Yan: intervenção digital e apropriação de linguagens

Apesar de olharem para lados diametralmente opostos, ambos têm mais em comum do que o gosto pelas imagens: são mãe e filho. E também testemunham o poder agregador da fotografia, invenção que ganhou como data natal o dia 19 de agosto de 1939, quando Louis Daguerre tornou pública a sua invenção, o daguerreótipo. Por isso, o 19 de agosto se tornou o Dia Mundial da Fotografia.

Apesar de amplamente dominada pelos modernos dispositivos de captura e compartilhamento instantâneo, de transitar pelas redes sociais e de ter se divorciado do papel, o seu principal veículo de antes do advento do digital, a fotografia não esquece seu passado. Algumas pessoas não a deixam esquecer. Daí a possibilidade de Jusselen fazer florescer sua arte ainda em meio às emulsões químicas. Mas o curioso da história desse pacto familiar é que não foi ela quem encaminhou o filho, como seria de se esperar. Max foi quem a “recuperou” de volta para a fotografia.

“Sempre gostei muito de fotografar”, diz a porto-alegrense Jusselen Maria Nunes. “Ganhei minha primeira máquina no meu aniversário de quinze anos. E sempre fotografei. Nos passeios de escola eu era a fotógrafa, confirmei isso recentemente ao reencontrar minhas colegas pelo Facebook, pois nas fotografias desses passeios de segundo grau eu nunca apareço, e todas estão nelas, menos eu. Chegamos à conclusão de que eu é quem fotografava, até porque nunca gostei de ser fotografada”, reconhece.

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Trabalho de Jusselen, representante da “velha escola”

Jusselen mudou-se para Balneário Camboriú (SC) há 35 anos. E foi aqui que nasceu Max Yan Scoz. Ele teve seu “despertar” em 2009, quando ganhou de presente uma câmera semiprofissional de seu avô. “Fui criado em um ambiente onde a criatividade rolava solta [sua mãe é apaixonada por artes e teatro]: brincadeiras de criança, cores, tintas, livros, desenhos, filmes… Tudo isso sempre absorvi facilmente. Tendo toda essa bagagem e a liberdade de criar as coisas e fazer acontecer, isso foi um grande estímulo! Faço isso até hoje!”

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Mãe e filho: colaboração e
respeito pela criação do outro

Em 2009, Max foi cursar design gráfico na Universidade do Vale do Itajaí, em Balneário. “Acompanhei alguns trabalhos que ele realizava na disciplina de fotografia e me ‘reencantei’ pelo ambiente de estúdio, de máquinas fotográficas, pelos processos de revelação analógicos, principalmente a fotografia pinhole. Eu também estava cursando design gráfico. Nesse momento, fiquei sabendo que no campus de Itajaí havia o curso superior de tecnologia em fotografia. Não pensei duas vezes: fiz minha transferência e me formei em 2012”, lembra Jusselen.

Ela conduziu seu trabalho para a vertente autoral, documental e experimental. Em 2011, realizou a primeira exposição, Simplesmente pescar, sobre a pesca artesanal no litoral-norte catarinense. Uma das fotos foi premiada num concurso da Federação Catarinense de Municípios. “Atualmente, estou realizando um projeto fotográfico com alunos da rede pública municipal e estadual, que foi contemplado com a Lei de Incentivo à Cultura de Balneário Camboriú, onde foram realizadas fotografias pinhole, analógicas (filme) e digitais. Dia 6 de outubro abre nossa exposição na Galeria Municipal de Arte, com 80 fotografias resultantes desse projeto. Fui contemplada também com um projeto fotográfico no programa Mais Cultura nas Escolas, do Ministério da Cultura, e que deverá começar em setembro”.

Assim que se formou, Max conseguiu emprego num estúdio de design gráfico e comunicação em moda e ficou por lá quase dois anos. Depois, passou um tempo viajando e absorvendo novas possibilidades fotográficas. Assimilou influências do russo Alexander Rodchenko, um dos fundadores do construtivismo, de László Moholy-Nagy, pintor e fotógrafo húngaro, e de Katarzyna Konieczka, “com suas loucas ‘fantasias’ de metal e plástico. Salvador Dalí ajudou em algumas coisas”, completa.

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Max Yan: influências de Rodchenko e do surrealismo de Dalí
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Jusselen: opção pelo desafio da fotografia pinhole e analógica

O catarinense se estabeleceu nas áreas de moda, produtos, ensaios pessoais e de sensualidade, identidade visual e imagem artística/decorativa. “Nesses últimos dois meses venho trabalhando em projetos pessoais, direcionados para exposições e venda de quadros. Também estou em fase de desenvolvimento de um documentário sobre meus avós, na faixa de 86 anos e totalmente ativos, conhecem o Brasil inteiro de carro e tenho certeza que a parte artística da família veio da minha vó, que faz trabalhos com bordados muito coloridos, frigolitê. O resultado será muito bacana!”

iPhoto Channel_Dia da Fotografia_Max Yan (11)Embora compreendam a distância conceitual e técnica que separa a produção de cada um, há espaço para o diálogo e a colaboração, como reza a boa tradição familiar: “Quando há necessidade de trabalharmos juntos, nós o fazemos. Normalmente realizo toda a produção executiva de trabalhos dele e essa é uma área que gosto muito na fotografia autoral”, explica a mãe, que conta com a ajuda do filho em questões de tratamento e edição de imagens – “não sou muito tecnológica, venho de uma geração onde tudo era feito à mão e não em teclas”, brinca.

“Não afirmo que trabalhamos juntos, mas também não nego! Cada um ajuda o outro quando necessário! Ela me ajuda muito em partes de produção executiva, e eu ajudo ela com pós-produção das imagens”, concorda Max, para quem a mãe é, de fato, uma artista “old school”.

“Optei pela velha escola, o analógico, porque me encanta o fator-surpresa que essa fotografia traz consigo. Na fotografia pinhole, por mais que você calcule a sua fotografia, ela sempre te traz uma surpresa, nos filmes também: você compõe, mas a captação da sua imagem depende de muitos fatores, não é só o clique. A magia da fotografia analógica me desafia, e o desafio é que você tem que pensar a fotografia, você não pode refazê-la, como acontece na fotografia digital. Por isso ela é tão desafiadora. E eu gosto de desafios”.

iPhoto Channel_Dia da Fotografia_Jusselen Maria Nunes (2)Por outro lado, a gaúcha não deixa de “corujar” seu garoto. “Ele tem uma pegada muito particular, até porque ele só expõe seu mundo interior através dos seus trabalhos. É um profissional extremamente ético e responsável. Trata suas criações com muita estética e perfeccionismo. Escolhe muito os projetos a serem realizados. Temos a liberdade de opinar em nossos trabalhos, tecnicamente e artisticamente. E, como temos produções diferentes, um respeita a criação e o trabalho do outro com muita facilidade, além de termos a oportunidade de nos encantarmos com o trabalho de um e do outro”.

Um pouco da produção da dupla está em cartaz na Galeria Municipal de Arte de Balneário Camboriú, parte de uma exposição coletiva selecionada por edital da secretaria de cultura do município. O material não poderia ser mais emblemático dessa associação familiar que anda junta, ainda que por caminhos tão diversos: Max com um trabalho de colagem digital, Jusselen com duas cianotipias. Ao mesmo tempo, reforça a capacidade da fotografia de dispor de qualquer recurso: tudo sempre leva à arte.

“Passa lá e dá uma conferida nos trabalhos”, convida ela. “Não é por nada, mas ficaram muito bons”.

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3 Comentários

  1. Parabéns a esses talentos queridos. Vi os trabalhos e apreciei o belo, não sei interpretá-las, mas senti um grande orgulho de ter convivido com os artistas. Sucesso!