Ensaio sensual feminino é um tipo de fotografia que, ao menos no Brasil, estamos acostumamos a ver. Desde os ensaios mais tradicionais com modelos e atrizes, até o boudoir com mulheres comuns e o plus size, há o objetivo de mostrar a força daquela mulher, a intensidade.
E especialmente para a mulher no momento em que está frente à câmera, o que ela tem de melhor fica visível não só suas curvas e contornos, mas naquilo que ela é, na sua personalidade e sua coragem em se mostrar, em destilar o poder feminino.
No caso da modelo Pamela Beli, esta força é ainda mais intensa e visível, por quebrar padrões de representações sociais através do ensaio sensual. Fotografada por Marco Antonio Perna, Pamela sentiu a necessidade de realizar um ensaio fotográfico onde não existissem rótulos de gênero. Conversamos com a modelo, que nos contou detalhes sobre a experiência de seu ensaio.
iPhoto Channel – Como surgiu a vontade de fazer um ensaio sensual?
Pamela Beli – Eu sempre tive vontade de fazer um ensaio sensual, mas ficava com receio de como as pessoas reagiriam ao meu corpo. Era eu falar que sou transexual e muitos desistiam do trabalho pelo fato de eu não ser “operada” e não topar fazer ensaio nu pornográfico. Até que conheci o projeto do fotógrafo Marco Antônio Perna. Ele queria um ensaio que não me rotulasse como uma mulher trans e eu queria um que me empoderasse como uma mulher trans. Resolvi entrar em contato com ele, juntamos nossas ideias aí tudo fluiu.
iC – Qual foi a maior dificuldade em posar para um ensaio sensual?
Pamela B. – Como eu disse, a maior dificuldade foi pela falta de aceitação de outros profissionais que não toparam fazer pelo fato deu não ser uma trans que fez a redesignação sexual, “mudança de sexo” como dizem. Eu me perguntava se eles queriam me fotografar ou fotografar meu laudo médico (risos).
iC – E a melhor sensação após o ensaio?
Pamela B. – Fiquei muito grata de expor minha ideologia num ensaio, fotógrafo super profissional, fez conforme eu queria já há um tempo e saiu melhor do que eu esperava. Me senti as Divas Tops (risos).
iC – Existe uma banalização e desrespeito grande relacionado à representação da imagem da mulher transsexual na mídia brasileira, especialmente ligada a piadas de mal gosto. Qual sua opinião sobre isso? De que forma você gostaria de ver as transsexuais representadas pela mídia?
Pamela Beli – A transfobia não são só maus tratos físicos – isso é apenas uma forma visível. A transfobia está impregnada em nossa sociedade, e aprendemos a reproduzir essa violência psicológica desde a infância.
Estamos em um país que mais mata pessoas trans no mundo, no país em que lutamos pra sermos reconhecidas como seres humanos e também no país que mais consome pornografia trans no mundo. Os mesmos que banalizam, compartilham e se calam diante a essas chacotagens, são os mesmos que consomem pornografia trans.
Gostaria de ver as trans sendo representadas na mídia por trans, pois colocar pessoas cisgeneros (que não são trans) para fazer um papel de trans ou falar por nós na mídia é tipo Black Face pra mim, tirando visibilidade/lugar de fala de muitas artistas trans.