Dimitri Lee cria rostos para questionar a autoria

O fotógrafo paulistano Dimitri Lee estará com dois instigantes trabalhos em exposição no Madalena Centro de Estudos da Imagem, em São Paulo, a partir desta quarta (4). Major Tom to Ground Control, título tirado de uma música de David Bowie, apresenta duas séries em que foram usados recursos inusitados: o programa da polícia para fazer retratos falados e uma caixa de Sedex. O resultado pode ser verificado até 15 de agosto na Rua Faisão, 75, na Vila Madalena. A entrada é gratuita.

Acha-se é o nome da série de retratos falados. São apresentadas dez imagens feitas a partir de um banco de dados usado pela polícia para compor rostos de suspeitos. Dimitri diz que sempre considerou esse tipo de coisa algo grotesco, mas que tinha interesse em “brincar” com a possibilidade de criar rostos que não existem: “Fiz um chinês e adorei. Imaginei o filho dele com uma brasileira e criei outra imagem. São possibilidades que a fotografia eletrônica nos abre”, afirma o artista, que acrescentou às suas criações os recursos de um programa que simula características de filmes fotográficos. Segundo Iatã Cannabrava, que faz a curadoria da mostra, “não por acaso o autor escolheu um filtro que emula o Kodachrome, filme que fez mais de 50 anos de sucesso, virou hit parade e deixou de ser fabricado há três anos. O filme que não existe se tornou parte final do processo, ou seja, está tudo fora do eixo. Ou entrando em um novo eixo”, destaca.

A outra série chama-se A busca infrutífera de mim mesmo. No carnaval de 2012, Dimitri transformou uma caixa de Sedex em câmera fotográfica e a enviou pelos correios, desde a cidade de Óbidos, no Pará, até São Paulo, endereçada a ele próprio. Como não o encontrou, a encomenda retornou ao destino, realizando no percurso em torno de 10 mil imagens, das quais 150 estão em exposição.

“Adaptei uma lente de observação de vida selvagem na caixa, impossível de ser vista, programada para fotografar a cada cinco minutos”, conta Dimitri, que estabeleceu um conceito para aproximar as duas séries: “Meu objetivo nos dois trabalhos é discutir a questão da autoria, da fotografia sem fotógrafo, com pessoas que não existem, com um filme já extinto”.

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