Da ideia ao papel: publicar um livro de fotografia

O fotógrafo gaúcho José Luiz Martins Paiva, 51 anos de idade, encerrou 2012 com mais um acréscimo no seu currículo de fotógrafo-viajante: o livro Expedição Natureza – Tocantins, um apanhado de imagens da biodiversidade do jovem estado brasileiro, que fisgou Zé Paiva – que é como ele assina seus trabalhos – em 2005, durante uma visita de férias.

O trabalho dá sequência à série Expedição Natureza, que já contemplou os estados de Santa Catarina, com livro lançado em 2005, e Rio Grande do Sul, em 2008. Editado pela FM Editorial, Expedição Natureza – Tocantins segue o padrão das edições anteriores: belas imagens, edição cuidadosa, pesquisa e muitos causos. Duas das imagens que estão no livro, inclusive, foram finalistas do prestigiado Veolia Wildlife Photographer of the Year, o que atesta a excelência do olhar desse experiente fotógrafo de natureza.

Muito antes, porém, de chegar às mãos ávidas do leitor, bastante esforço foi necessário para que a ideia, surgida lá em 2005, se materializasse em 144 páginas bem impressas em papel couchê. E nem estamos falando ainda dos 62 dias de trabalho de campo, durante os quais Zé Paiva percorreu as oito unidades de conservação ambiental do estado amazônico.

Berçário de tartarugas-da-amazônia, Parque Nacional do Araguaia, imagem finalista no Wildlife Photographer of the Year
Zé Paiva: “Uma ideia em si não é um projeto”

“Uma ideia em si não é um projeto, tem muita confusão sobre isso. Um projeto é a ideia desenvolvida e escrita: objetivos, justificativa, metodologia, cronograma, orçamento. Ou seja, em bom português: o que você quer fazer, por que, como, quanto custa e quando”, avisa o gaúcho, cidadão de Florianópolis (SC) desde 1985.

Zé explica que, antes de tudo, é preciso ter um “conceito redondo”, uma ideia que funcione e seja viável. Saber disso exige alguma pesquisa. O mercado editorial brasileiro tem acolhido uma boa leva de livros dedicados à fotografia, a maioria patrocinada com recursos de leis de incentivo à cultura. Quanto mais original for a sua proposta, maiores as chances de ela vingar.

Uma vez posta a ideia no papel, vem a fase dureza do financiamento. Zé cita alguns caminhos, como a Lei Rouanet, os editais de cultura, crowd funding (doações) e as verbas de marketing. “Cada maneira tem o seu caminho das pedras”. Se optar por alguma lei de incentivo, uma vez aceita a proposta, é preciso captar os recursos. Para Zé Paiva, é o maior “gargalo” do processo. “Lei Rouanet, por exemplo, são milhares de projetos e poucos captam e realizam. Eu cansei de esperar os captadores e captei sozinho os meus patrocínios”, afirma.

Outra imagem finalista do Veolia Wildlife Photographer of the Year 2012

Se você pensa em seguir os passos do mestre em alguma expedição de fotografia de natureza, vai gostar de saber que o trabalho de campo não apresenta muito segredo. “Tem que pesquisar bastante os locais a serem fotografados, conversar com pessoas
do lugar, especialistas, pesquisadores, pesquisar a infraestrutura, pois quanto melhor você planejar as expedições, mais vai aproveitar o seu tempo no campo. No Tocantins, eu dividi em duas viagens de aproximadamente 30 dias, pois mais do que isso complica o planejamento”.

Saber o que levar também conta. “Eu sempre levo coisa demais (para o meu padrão), mas sei que tem fotógrafo que leva muito mais”, brinca Zé Paiva, que recheia a bagagem com dois corpos de câmera, cinco ou seis lentes, muitas baterias e cartões, laptop, barraca, saco de dormir, colchonete, mantimentos, lanternas, remédios, roupas apropriadas, cantil, boas botas, chapéu e segue a lista. De vez em quando, algum item prosaico pode salvar o dia, como ele bem pode testemunhar: “No Tocantins levei um chapéu muito engraçado, camuflado e com uma tela tipo mosquiteiro na frente. Quando provei, achei o maior mico, mas ele foi de extrema utilidade no Rio Javaés, pois as muriçocas de lá são criadas”, diverte-se.

Nada disso adianta, no entanto, se você não souber o que fotografar. Na dúvida, não faz sentido economizar nos cliques. Zé Paiva disparou sua Nikon D300 umas dez mil vezes. Só que isso cria outro problema: editar o material. Zé não sofreu muito para chegar às mil e poucas, mas daí às míseras 156 que entraram na edição, foi um parto. “Nessa fase é interessante discutir com outras pessoas a seleção – no meu caso, o designer. Outra solução é ter um editor ou um curador, alguém com experiência e que não tem o apego às fotos que o fotógrafo tem”, recomenda.

Mas, superada essa provação, a jornada praticamente está vencida. Restam a impressão e a distribuição do material, lançamentos e divulgação. E já dá para começar a pensar na próxima aventura…

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4 Comentários

  1. Boa noite.
    Fotos formidáveis e encantadoras!!!
    Trabalho inspirador!!!
    Tenho uma dúvida… má verdade, duas (risos): tenho pensado em fazer um trabalho na Índia, sendo meu próprio patrocinador desse trabalho; no entanto, quando se fala em “projeto”, não sei por onde começar. Será que vocês poderiam me dar dicas, de como montar meu projeto?
    Desejo-lhe um excelente final de semana.
    Forte Abraço.

    1. Fabio, oi sou Eleonora. E tenho a mesma dúvida, além de não ter o patrocinador… e nem ser eu mesma ( bem que eu adoraria!…) Só tenho o projeto junto com um amigo, e ele também não pode patrocinar…
      Você conseguiu algum resultado às suas dúvidas? Achei bárbaro o seu projeto! Esta semana, quando fui matricular minha filha mais nova na Cultura Inglesa da Granja Viana, vi na Biblioteca um maravilhoso livro de fotografias, de capa dura, lindo chamado INDIA.
      Vc devia vê-lo!…
      Bem, que nós cheguemos onde queremos e precisamos, certo?
      Abraço!
      Eleonora Lins

  2. Olá, me chamo Francine Canto e gostaria de pedir para que vcs arrumem o crédito da foto do perfil do Zé Paiva nesta matéria, que não é de minha autoria. Grata desde já.