Propaganda da Leica Brasil gera problemas com a China e marca é banida das redes sociais
O último vídeo promocional da Leica tem gerado muita confusão internacional. “The Hunt” mostra cenas de um fotógrafo fugindo de policiais chineses dentro de um hotel, escondendo sua câmera e fotografando pela janela o protesto de Tiananmen, em Pequim. Duas questões rondam o vídeo; primeiro que esta fotografia não foi feita com uma Leica e segundo que a China não gostou nenhum pouco dessa história.
A fotografia “Tank Man” foi capturada durante um protesto pela democracia na Praça da Paz Celestial no dia 4 de junho de 1989 que deixou inúmeros mortos. Hoje qualquer menção a data é extremamente censurada na China. A repressão ocorrida na Praça Tiananmen deixou inúmeros mortos e os números nunca foram revelados. A fotografia de um manifestante em pé na frente de um comboio de tanques é icônica, e a partir dessa análise podemos perceber a importância da menção no vídeo.
A repercussão na China foi extremamente negativa e logo a menção da palavra Leica foi censurada nas redes sociais do país. Um grande problema para a Leica já que a China possui um dos maiores mercados em crescimento. A cereja do bolo ficou por conta da data, o lançamento foi realizado no mês em que o massacre na Praça de Tiananmen completa 30 anos.
O vídeo foi desenvolvido pela agência brasileira F/ Nazca Saatchi & Saatchi que trabalha com a Leica no Brasil há alguns anos, essa mesma agência foi a responsável pelo histórico vídeo promocional em comemoração aos cem anos da Leica intitulado “100” que segue a mesma concepção de “The Hunt” e foi um grande sucesso. A agência se pronunciou sobre o ocorrido após o porta-voz da Leica, Dirk Große-Leege comunicar que “o vídeo não foi encomendado, financiado ou aprovado por nenhuma empresa do Grupo Leica. Nós expressamente lamentamos qualquer confusão e tomaremos outras medidas legais para impedir o uso não autorizado de nossa marca.”
Em comunicado a agência diz:
“F/ Nazca Saatchi & Saatchi trabalha para o representante da Leica no Brasil desde 2012, desenvolvendo conteúdo para diversas plataformas de mídia para o cliente durante esse tempo. A agência criou peças que fizeram história em publicidade e se tornaram casos de comunicação, como o comercial “100”, criado e produzido para comemorar os 100 anos da marca, uma obra aclamada em todo o mundo e premiada com o Grand Prix no Festival de Cannes de 2015. O comercial “The Hunt”, lançado no Brasil nesta semana, é outro desses trabalhos que desenvolvemos junto a este cliente e pelos quais temos imenso orgulho e com certeza entregamos uma peça notável. A F/ Nazca, uma agência de 25 anos concluída exatamente nesta semana, nunca prejudicaria sua enorme reputação ao criar, produzir e veicular um trabalho sem a devida aprovação de seu cliente. Em relação ao pronunciamento da Leica Europe, uma vez que nosso relacionamento com a marca está restrito ao mercado brasileiro, não podemos comentar ”.
O segundo ponto é que a foto não foi feita com uma Leica, mas com uma Nikon. A agência de notícias alemã Spiegel Online trouxe informações muito relevantes. O fotógrafo da AP, Jeff Widener, é o autor da imagem mais famosa, porém havia outros três fotógrafos nas janelas do hotel cobrindo o protesto.
Os correspondentes Charlie Cole, da Newsweek, Stuart Franklin, da Magnum e Arthur Tsang, da Reuters, estavam se afastando quando um homem entrou em frente aos tanques de guerra. A Spiegel conversou com eles e descobriu que os três usavam uma câmera Nikon e nenhum deles foi abordado pela agência F/ Nazca Saatchi & Saatchi para a produção do vídeo.
Uma frase marcante é apresentada ao final “Este filme é dedicado à aqueles que emprestam seus olhos para nos fazer ver”. A fotografia acontece independente de uma câmera e uma marca, ela é viva e vai muito além de um conceito comercial. A logo da Leica aparece apenas no final o que torna o vídeo uma homenagem aos fotógrafos, não se tratando necessariamente da Leica. O que é bem traduzido no nome do próprio vídeo “The Hunt” em tradução “O Caçador” uma definição poética de fotógrafo.
Fonte: Leica Rumors , Reuters
Intenso o vídeo, porém além da polêmica envolvendo a marca, a agência e câmera utilizada na foto original há um detalhe grosseiro que me chamou a atenção neste comercial: o reflexo da cena do homem que para a coluna de tanques na objetiva do fotógrafo “The Hunt”. Ele, o reflexo, deveria estar invertido lateralmente, pois a foto original simplesmente foi aplicada como se a cena fosse projetada pela objetiva e não refletida. A foto original trás o homem no canto inferior esquerdo da cena e os tanques no canto superior direito, logo um reflexo dessa cena deveria necessariamente estar invertido lateralmente ou seja, homem no canto inferior direto, coluna de tanques no canto esquerdo superior da cena refletida. Abraço a todos! Cláudio Cunha – Fotógrafo.
Eliza Doré, são pessoas como você que fazem eu me apaixonar mais ainda pela fotografia. Aos meus 68 anos e apaixonado desde meus 6 aninhos, vê sua contribuição por essa postagem, vem ao meu entendimento o anseio de me aprofundar em temas de contextos, subjetivos, denotativos e que buscam situar as imagens (fotográfica, videográfica e cinematográfica), com sentido, e pretensão, de aprofundar o entendimento dessa maravilhosa arte, aplicada a históricos comportamentos antropológicos. Pena que a “cúpula” do regime chinês não tenha entendido a verdadeira mensagem dessa obra prima.