Conhecendo a fotografia Fine Art brasileira: os autorretratos de Alan Uchoa

Essa série foi divida inicialmente em três partes, e você já podem conferir a primeira parte onde faço uma abordagem além da figura do fotógrafo e trazendo luz a uma pessoa que é de extrema importancia ao FineArt, a intérprete.

Fiz duas entrevistas com fotógrafos que eu tenho profunda admiração pelo nível de sensibilidade e lucidez na hora de tirar uma ideia do papel e por em prática. O grande prazer que a fotografia me trouxe foi poder ter proximidade com pessoas de talento riquíssimo, com uma vontade de ajudar e desenvolver a foto como forma de arte com a mesma paixão que eu falo e faço. De certa forma, todos nós nos entendemos quando explicamos todas as dificuldades e perrengues que passamos diariamente, mas no final do dia a recompensa é ver o trabalho finalizado e disponível para que todos o vejam.

Um sonho frágil, Alan Uchoa
Um sonho frágil, Alan Uchoa

Enfim, os fotógrafos que entrevistei, via Facebook, me atenderam prontamente no meio de toda a agitação diária, responderam as minhas perguntas com a maior boa vontade e alegria. A primeira entrevista transcrita será a que fiz com um fotógrafo incrível, o Alan Uchoa:

Pedro Antônio Heinrich – O que diferencia o Fine Art da fotografia convencional, na tua opinião?

Alan Uchoa: Bem, o que diferencia o estilo fine art dos demais é a liberdade na hora da criação, sem interferência do que os outros gostam ou gostariam de ver em um trabalho; é como escrever uma parte da sua biografia. Outra ambição dessa estética é converter uma simples fotografia ao status de obra de arte. Mas ela ainda vai além disso, muito além; fine art é o extrato da nossa alma, de quem nós somos. Eu costumo pensar que trabalhar com esse estilo é sempre trabalhar com autorretratos, pois é sempre uma visão de quem somos representada por algo, seja uma paisagem, um canto de parede, prédios, figuras abstratas etc.

A decadência do poder, por Alan Uchoa
A decadência do poder, por Alan Uchoa

Pedro Antônio Heinrich – Nesse meio já existem clichês?

Alan Uchoa: É difícil não encontrar clichês. Acontece que esse estilo é tão visceral, que acredito que a identificação das pessoas com as obras é muito forte, o que as leva a querer reproduzir os trabalhos de certos artistas ou fazer algo bem semelhante. Mas um artista que trabalha com fine art tem consciência da sinceridade que há entre ele e o seu trabalho, de sua originalidade. Quando foge dessa sinceridade, é como contar uma mentira sobre a sua vida ou sobre quem você é, ou ainda inventar sobre algum evento que aconteceu.

A vizinhança, por Alan Uchoa
A vizinhança, por Alan Uchoa

Pedro Antônio Heinrich – O que uma pessoa que ainda não faz Fine Art poderia estudar pra começar nesse mundo? Quais cursos? O que facilitaria?

Alan Uchoa: É difícil eu poder dar uma sugestão sobre isso, pois o material sobre esse tipo de assunto nas nossas bibliotecas é um tanto difícil de ser encontrado. Eu, particularmente, aprendi o que sei lendo alguns artigos em outras línguas sobre o assunto, mas o que mais me motivava e me fazia entender do que a fotografia fine art se tratava eram as palestras e workshops de artistas, como Brooke Shaden, Miss Aniela, Marwane Pallas, entre outros.

O que eu poderia sugerir, seria fazer o mesmo que fiz, além do que falei anteriormente, também seguir o trabalho de alguns artistas e acompanha-los nas redes sociais. Eles sempre estão dando workshops online, compartilhando a experiência deles conosco, e como ainda é um meio em crescimento, o acesso a esses artistas não é tão difícil, e muitos estão abertos a uma conversa.

O Poeta, Alan Uchoa
O Poeta, Alan Uchoa

Pedro Antônio Heinrich – Tu teria 3 dicas de como “pensar fora da caixa”?

Alan Uchoa: 

1, Observe o trabalho dos demais artistas, e então tente criar algo diferente de tudo aquilo ou procure ir além do que eles criaram;
2. Crie o que você quiser, ABSOLUTAMENTE sem se importar sobre o julgamento dos outros e descubra o que você ama produzir;
3. Muitas pessoas acabam se limitando à ideia de que nunca serão tão boas quanto alguém. Não se aprisionem nessa ideia, apenas sejam o melhor que puderem ser e nunca se sintam satisfeitas em continuar indo além.

Onde o céu está, Alan Uchoa
Onde o céu está, Alan Uchoa

Pedro Antônio Heinrich – O que te inspira?

Alan Uchoa: Existe um processo que ajuda na produção de ideias, isso inclui o trabalho de outros artistas, sonhos, filmes, mas minha maior motivação são minhas experiências, o que vivi/estou vivendo/quero viver, quem sou eu ou quem quero me tornar.

O pico das almas, Alan Uchoa
O pico das almas, Alan Uchoa

Pedro Antônio Heinrich – Quais foram as tuas maiores realizações nesse estilo? Quem tu considera uma referência?

Alan Uchoa: O fato de propriamente conseguir me expressar através da fotografia e manipulação de imagem é algo que me faz sentir realizado. Além disso, outro fato foi a aprovação do meu portfólio na PhotoVogue (Vogue Itália). De certa forma, a gente sempre está procurando algum tipo de aprovação, e esse meu trabalho às vezes não é bem visto em alguns meios, por haver muito Photoshop, por exemplo. Havia muita crítica negativa, e quando houve essa aprovação, eu senti que meu trabalho podia circular em diversos meios e estava sendo sim apreciado por um público que é especialista no assunto. Brooke Shaden é, sem dúvida, minha grande referência como fotógrafa, artista e mentora.

Onde os deuses se escondem, Alan Uchoa
Onde os deuses se escondem, Alan Uchoa

Pedro Antônio Heinrich – Ah, queria saber um breve resumo da tua historia na fotografia. Quando começou e o por que!

Alan Uchoa: Meu nome é Alan Uchoa II, tenho 24 anos, sou de Fortaleza/CE, e sou formado em Audiovisual e Novas Mídias. Como qualquer outro artista; sempre tive uma necessidade de me expressar, fosse na poesia, musica, canto… Porém, a fotografia nunca foi uma opção pra mim, pois sempre imaginei como uma ferramenta muito burocrática para criar o mundo que eu pretendia dar vida. Sempre imaginei que era preciso uma equipe grande, equipamento muito caro, cursos de Photoshop que não eram baratos, entre outros fatores.

Mas certa vez fiz amizade com um garoto que fazia trabalhos fotográficos incríveis e logo eu perguntei com ele fazia tudo aquilo, e então ele me respondeu que ele mesmo se fotografava, editava com ajuda dos tutoriais que tinham na internet
e não possuía câmera profissional nem equipamentos de iluminação. Foi daí em diante que consegui ver na fotografia uma oportunidade de poder tecer o mundo imaginário que eu tinha na minha mente. Me senti abraçado pela fotografia desde então.

O poema sobre um garoto que queria fugir, Alan Uchoa
O poema sobre um garoto que queria fugir, Alan Uchoa
Onde os segredos se escondem, Alan Uchoa
Onde os segredos se escondem, Alan Uchoa
O guardião da terra solitária, Alan Uchoa
O guardião da terra solitária, Alan Uchoa
Antes do amanhecer, por Alan Uchoa
Antes do amanhecer, por Alan Uchoa

Na próxima entrevista, na parte 3, vocês irão conhecer o trabalho da fotógrafa Tati Itat. Nos vemos!

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