Conhecendo a fotografia Fine Art brasileira: a interprete Amanda Gatti
O FineArt é um dos estilos que eu mais gosto dentro da fotografia e assim como a fotografia de rua, é um estilo muito livre, que te permite criar da forma que você quiser. ilimitadamente. Porém, fazer Fine Art é algo que exige além do habitual da técnica fotográfica, vai muito mais além do que o simples snapshot.
Entrevistei 2 excelentes fotógrafos e 1 intérprete incrível. Sim, no Fine Art a modelo é a intérprete, pois ela não vai posar como em outros estilos fotográficos. A intérprete tem que ter uma conexão com o fotógrafo para poder transmitir na íntegra os sentimentos que o fotógrafo quer em suas fotos. Por experiência própria, as melhores intérpretes que eu já tive foram atrizes e bailarinas.
Abaixo a intérprete Amanda Gatti me conta como é ser intérprete e dá dicas:
“Pra mim, na fotografia, ser intérprete é ser livre! Livre de padrões, de receitas e de um mercado que te obriga um físico e
certo estilo de vida. Modelos profissionais ou até mesmo pessoas que sempre foram acostumadas com o padrão de beleza já possuem uma ‘cara pronta’.
Digamos que você coloque uma câmera na frente desses modelos, eles com certeza apresentarão poses prontas, ângulos corporais, barriga pra dentro, peito pra fora e outras regras que os foram ensinadas. De fato, há um mercado para eles e por isso é preciso esse padrão. Já uma intérprete está livre de um mercado, porque seu trabalho é artístico e essa fotografia não é valorizada.
O intérprete raramente vai ganhar dinheiro e não creio que se sustentará. Friso que muitos intérpretes não são atores/atrizes, mas quando são, aí sim a qualidade e sensibilidade da fotografia só tem a crescer. Primeiro, porque um ator consegue improvisar, já passou por toda uma formação em teatro e é mais desprendido de vaidade física, timidez e pudores.
Vale frisar que não é porque se é ator que se fará qualquer coisa, todas as pessoas tem seus limites particulares e é preciso haver respeito por parte do fotógrafo. Quando se é ator, a entrega e verdade deve ser plena. Você coloca tudo de si no trabalho – não precisa necessariamente haver uma personagem – e entra na atmosfera da proposta. Na fotografia, quando há saídas em locações, muitas vezes será o intérprete o grande criador da fotografia. Claro, a fotografia é feita a partir do olhar do fotógrafo e mecanismos de uma câmera, mas se não houver uma proposta estabelecida boa parte da criação passa a ser de quem está na frente das câmeras.
Me sinto um pouco intimidada em falar sobre modelos, porque de fato nunca estive em mercado da moda – e confesso que queria, já mandei portfolio para agências, mas nem ao menos recebi um ‘não’. Essa falta de resposta já me causou frenesi e já me passou pela cabeça fazer dietas e academia – algo frequente exposto em redes sociais de modelos. Mesmo assim não tenho altura, é preciso ser muito alto e muito magro.
Além de intérpretes-atores, fico encantadíssima com intérpretes bailarinos. É de extrema intensidade o que conseguem explorar do físico nas fotos. Agora: o que espero de um fotógrafo? Ele estará encarregado de proteger, respeitar e não desmerecer o trabalho dos intérpretes. Por que falo isso? Porque já passei por vários fotógrafos e cada um tem um
jeito distinto de trabalhar. Alguns não saberão o que querem do intérprete, então se o intérprete está confuso, é como se ele estivesse errado e não fosse bom.
Outros vão querer fazer fotografias com nu artístico e que possa haver algum risco – subir em árvores, pilares, arquiteturas antigas, etc – e não irão te ajudar. É de extrema importância que o fotógrafo se ponha no lugar do intérprete e pense ‘será que eu faria isso?’, também perguntando se há possibilidade de uma criação mais arriscada. Jamais um fotógrafo deve apontar algo negativo nos intérpretes e é positivo que haja um acordo na postagens de fotos. Também há um jeito de se comunicar com um intérprete, alguns fotógrafos acabam não sabendo gesticular e os tratam como objetos, infelizmente”
E também dicas para quem quer ser intérprete de fotografia artística:
– Passe por experiências em teatro e dança;
– Pegue uma câmera e explore as extensões de seu corpo! Você descobrirá que ele é uma geografia incrível cheia de possibilidades;
– Explore sons, movimentos, personagens e lugares;
– Saia da banalização e não se preocupe com a beleza enquanto estiver sendo fotografada, até porque, “o que é a beleza?”;
– Dialogue sempre com o fotógrafo;
Na parte 2, uma entrevista com um dos melhores fotógrafos de Fine Art do Brasil, Alan Uchoa.
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