Barbie, a modelo fotográfico de plástico

Ela figura no centro da produção artística de Patricia Kaufmann há um bom tempo. Protagonizou suas telas e objetos e agora povoa suas fotografias. Barbie, a bonequinha loura e magrela que toda criança adora, é a musa dessa artista natural de Guaratinguetá, interior de São Paulo, 50 anos de idade. Seu mais recente trabalho em “parceria” com o brinquedo é Sombra Negra, uma série que a galeria de arte paulistana Mônica Filgueiras & Eduardo Machado expõe a partir de 9 de agosto.

Filha de artista plástica e restauradora de artes, Patricia cresceu rodeada pelas tintas e pincéis, em contraste com uma vida de “caserna”: como o pai era da Aeronáutica, ela viveu numa base militar até os dezessete anos. Aos dezoito, foi para a capital paulista estudar. Terminou a faculdade, se casou e se mudou para o Rio de Janeiro.

No Rio, estudou durante três anos na importante Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Em 1990, se mudou para Porto Alegre (RS), e três anos depois voltou ao Rio. Finalmente, em 2000, “sossegou”: fixou-se em São Paulo, onde vive e trabalha.

Foto: Patricia Kaufmann

Nesse percurso todo, Patricia estudou História da Arte, gravura em metal, cologravura, serigrafia, aquarela e há três anos fotografa. Fez várias exposições individuais e participou de outras tantas, no Brasil e no exterior.

Foto: Beth Turkieniez
Patricia "matou" e "construiu" outra Barbie, mais humana (foto: Beth Turkieniez)

Em 2004, topou com a musa. Na época, a paulista lidava com as telas, pintava coisas abstratas e sentia falta de uma forma humana nas composições. Foi aí que o brinquedo, nas mãos da sobrinha, se insinuou. “Pensei: ‘Essa boneca, que não passa de uma personagem, que tem acesso a tudo de mais luxuoso, tem um corpo dito perfeito, tem poder, dinheiro, é uma profissional bem-sucedida. Ou seja, ela é tudo que uma mulher atual almeja’”, conta.

Mas essa Barbie “poderosa”, encarnação de um mundo rosa, não era bem a que a artista queria. “Aí pensei: ‘Vou fazer um caixão digno de uma superwoman!’ E fiz! Matei a Barbie e ‘construí’ outra, com tudo que ela não imaginou que fosse ou tivesse (puta, travesti, puxadora de carrocinha…)”. Essa primeira transformação da personagem foi personificada na série Máscara do Mito. Daí para diante, brinca Patricia, Barbie só evoluiu: “Deixou de ser essa persona de plástico, sem graça e inatingível, para se transformar numa mulher de verdade, cheia de conflitos e defeitos também”.

Foto: Patricia Kaufmann

Foto: Patricia Kaufmann

Sombras Negras é mais um passo no processo de “humanização” da boneca. As fotografias, 25 imagens em preto e branco, mostram-na em situações que sugerem isolamento e introspecção. Além disso, a boneca foi alijada de suas roupas e dos acessórios que aludem à sua boa “condição social”.

“Nas fotografias, mostro Barbie como uma mulher sem rosto, sem adornos e sem qualquer artifício, em poses que sugerem momentos de reflexão, sempre solitária e se vendo em sua própria sombra”, explica ela o título da série.

Foto: Patricia Kaufmann

Foto: Patricia Kaufmann

Para Patricia, esse contínuo processo de desconstrução do glamoroso brinquedo serve como um catalizador. Por meio dele, ela reflete sobre questões que a intrigam. Por exemplo, a obsessão pela felicidade que move as mulheres contemporâneas, isso entendido como ser bem-sucedida em tudo e ter muito dinheiro para serem aceitas socialmente.

“Ser Barbie é sofrer uma enorme pressão, mas ser a minha Barbie é ser muito mais leve e levar a vida com pé no chão e sem neurose”, garante a fotógrafa.

SERVIÇO: Sombra Negra (Patricia Kaufmann) \ Mônica Filgueiras & Eduardo Machado Galeria. End.: Rua Bela Cintra, 1533 \ Abertura: 9/08 (quinta-feira) às 20h \ Site: www.monicafilgueirasgaleriadearte.com.br

Foto: Patricia Kaufmann

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