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A história por trás da última foto de John Lennon

A última foto de John Lennon vivo por si só já seria um registro histórico muito importante. Mas a imagem se tornou ainda mais emblemática porque registrou o ex-líder dos Beatles ao lado de seu futuro assassino, Mark David Chapman, dando-lhe um autógrafo. A imagem, ao contrário do que se imagina, não foi feita por nenhum fotógrafo profissional, mas sim por um fotógrafo amador e fã do cantor, Paul Goresh, na época com 21 anos, que frequentemente ficava de plantão em frente do apartamento que Lennon vivia em Central Park West, na cidade de Nova York, no famoso edifício Dakota. Por isso, além daquele dia fatídico, Goresh já tinha encontrado com John Lennon outras vezes na porta do edifício e até tinha uma foto ao seu lado.

Paul Goresh, fã e autor da última foto de John Lennon vivo, posa ao lado do cantor


John Lennon gostava muito de viver em Nova York porque, diferente de outros lugares, podia andar tranquilo pela cidade sem ser incomodado. Lennon, frequentemente, era visto passeando pelo Central Park, fazendo compras em lojas ou fazendo refeições em restaurantes, coisas impossíveis de fazer na Inglaterra, sua terra natal, por causa do assédio gigantesco dos seus fãs. Em Nova York, ao contrário, apenas alguns fãs iam na entrada do seu edifício pedindo para tirar fotos e autógrafos com o cantor. Lennon sempre atendia todos e nunca teve problema ou incidente com eles até o dia 08 de dezembro de 1980.

Naquele dia, Lennon ficou em seu apartamento, no sétimo andar do Dakota, dando uma entrevista à rádio RKO. Pouco depois do almoço, Paul Goresh se dirigiu à entrada do edifício que Lennon morava com a finalidade de, mais uma vez, ver o ídolo. Assim que chegou ao local, outro fã se aproximou dele com uma cópia de um álbum (LP) de Lennon em mãos. Era Mark Chapman, na época com 25 anos, o futuro assassino de Lennon, que já estava há dois dias tentando encontrar o cantor na frente do seu edifício. “Ele disse: ‘Oi, meu nome é… Vim do Havaí para assinar meu álbum”, contou Goresh. “Mas quando perguntei onde ele estava hospedado, ele ficou muito agressivo, então eu disse: ‘volte para onde você estava e me deixe em paz'”, relembrou Goresh.


Às 16 horas do dia 08 de dezembro, John Lennon desceu do seu apartamento com destino ao estúdio de gravação Record Plant, onde ele e Yoko Ono, sua esposa, preparavam um novo disco. Quando Goresh e Chapman viram Lennon saindo da portaria do edifício, se aproximaram para conseguir um autógrafo. Primeiro, Goresh cumprimentou Lennon e pediu que autografasse um livro. Quando Lennon terminou de assinar o livro para Goresh, Chapman apenas estendeu-lhe o LP sem falar absolutamente nada. Então, Lennon perguntou a Chapman: “Você quer que eu assine isso?”. Chapman sacudiu positivamente com a cabeça. Enquanto Lennon dava o autógrafo, Goresh sacou uma câmera fotográfica e fez a foto com o músico em primeiro plano e seu futuro assassino em segundo plano.

A foto do John Lennon, feita por Paul Goresh, dando o autógrafo para David Chapman, seu futuro assassino. 5 horas depois dessa foto, Chapman matou Lennon com 4 tiros

Como não podia ser diferente, Goresh priorizou Lennon na composição da foto e Chapman aparece cortado ao meio na imagem e levemente desfocado. Ao todo Goresh tirou mais quatro fotos daquele momento: uma em que Lennon olha diretamente para a câmera, mas que, infelizmente, o flash falhou e a foto ficou bem escura, “fantasmagórica”, e outras duas com Lennon esperando o carro que ia levá-lo para o estúdio de gravação. Porém, o carro não chegou, então a equipe da rádio RKO, que Lennon havia concedido uma entrevista pouco antes em seu apartamento, lhe ofereceu uma carona. Lennon aceitou e Goresh também registrou músico entrando no carro e indo embora (Veja as fotos abaixo). E estas foram as últimas fotos de John Lennon vivo.


Às 22h30, Lennon e Yoko Ono voltam do estúdio de gravação em uma limousine. Yoko desceu primeiro do carro e logo se encaminhou para dentro do edifício, Lennon estava andando um pouco mais atrás, quando Mark Chapman se aproximou com um revólver 38 nas mãos e deu quatro tiros à queima roupa. Lennon foi socorrido 3 minutos depois, mas não resistiu e já chegou morto ao hospital. Mark Chapman foi condenado a prisão perpétua e cumpre até hoje a sentença numa prisão em Nova York.

Logo após ser noticiado o assassinato de John Lennon, por sugestão de um sargento do Departamento de Polícia de Nova York, Goresh vendeu a foto por US$ 10 mil (dez mil dólares) para o jornal Daily News com a manutenção de seus direitos autorais sobre a imagem para outras publicações, que lhe rendeu milhões nas últimas décadas. Em 2020, as últimas fotos de John Lenno vivo tiradas por Paul Goresh foram vendidas definitivamente em um leilão por US$ 100 mil (cem mil dólares). A câmera fotográfica, uma Minolta XG1, que Paul usou para tirar as fotos também foi leiloada por US$ 5.900 (cinco mil e novecentos dólares).

Como Paul Goresh também tinha feito outras fotos de Lennon antes de seu assassinato mostrando o ex-Beatle fora de sua casa em Nova York, Yoko Ono pediu as imagens de seu marido, ao todo 19 fotos, para usar em um documentário sobre a vida do cantor. Paul Goresh morreu em janeiro de 2018, aos 58 anos, e seu nome ficou marcado na história da fotografia.

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