A Cegueira, a Memória e o Fotógrafo
Desde que nascemos o nosso mundo é formado pela simples e complexa capacidade de ver e memorizar as coisas. Sempre que conheço alguém que nasceu cego, surge uma inquietude dentro de mim, algo que me angustia, pois acabo me colocando no lugar daquela pessoa e penso que talvez eu, como fotógrafo, não conseguisse sobreviver em um mundo às escuras.
Eu não viveria e não vivo sem o brilho da luz, tudo o que eu faço e tudo o que eu pretendo ser depende da luz. Já tentei fechar os olhos e ficar algumas horas em casa sem enxergar pra tentar entender. Mas a minha memória automaticamente ativa as imagens do lugar e o exercício acaba por ser algo impossível.
Me intriga o fato de que muitos conseguem se locomover e saber exatamente onde as coisas estão; me intriga saber como a imagem do espaço se forma na cabeça deles sem nunca ter o visto.
Acredito que viver sem Ver não te proíbe de Enxergar!
Em um mundo entupido de fotógrafos, e eu me incluo entre esses, não consigo entender como alguns, por muitas vezes, não conseguem enxergar aquilo que fazem. Muitos se limitam por não terem o equipamento X ou Y, e não percebem que o que realmente importa é enxergar simplesmente.
Existem 2 coisas importantes nessa profissão/hobby: Ver e Enxergar. Você pode muito bem Ver algo, mas Enxergar as possibilidades é algo que vai muito além. É sensorial, é se colocar mentalmente em diversos ângulos e supostamente escolher o melhor.
“O verbo enxergar se refere ao ato de perceber com a visão ou de alcançar com a vista, ou seja, olhar, ver, avistar, observar e reparar. Refere-se também ao ato de ver antecipadamente, ou seja, prever, antever e pressentir. Pode significar ainda o ato de ter uma opinião sobre um assunto ou o ato de ter entendimento ou compreensão de algo, sendo sinônimo de considerar, achar, entender, aprender, compreender e assimilar”.
Faltou um Evgen Bavcar aí, hein.
Pedro, admiro muito seu trabalho.
Já leu “O enigma de Kaspar Hauser” ?