Exposição “Retrato popular” no Sesc Belenzinho

A tradição da fotografia popular está representada na exposição Retrato popular, que o Sesc Belenzinho, em São Paulo, abre para visitação nesta sexta-feira (6), com entrada gratuita. Com curadoria de Rosely Nakagawa, Valeria Laena e Titus Riedl, a mostra reúne obras do acervo do Memorial da Cultura Cearense – Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, de Fortaleza (CE), e de colecionadores particulares.

No montante das obras em exposição há espaço para coleções de monóculos, ex-votos fotográficos, câmeras de lambe-lambe, tradicionais cavalinhos e charretes para fotografias de crianças e moldes e retratos pintados por Mestre Julio, de Fortaleza, um dos maiores nomes da fotopintura brasileira, além de fotografias, gravuras, esculturas em madeira e argila e lonas pintadas por Santana e Tonho Ceará, ambos de Juazeiro do Norte, e por Luiz Santos, do Recife.

Retrato popular faz referência a uma tradição considerada patrimônio da história da fotografia regional: os retratos que eram tirados em feiras populares pelo interior do País, uma prática que acabou perdendo espaço como documento social e se inseriu no contexto da arte contemporânea, alcançando o status de cult.

Foto: Luiz Santos e Tonho Ceará
Foto: Luiz Santos e Tonho Ceará

“A fotografia popularizou o retrato nas camadas sociais que emergiram na Revolução Industrial e se retrataram para se perpetuar como a nova classe ascendente”, observa Rosely Nakagawa. “Até então, apenas os nobres podiam ser retratados por um pintor, que cobrava muito caro por seus serviços. Eram retratos que ostentavam a posição social e o poder do retratado por meio de roupas, adereços, objetos ao fundo (cortinas, tapetes, móveis, espelhos etc.). A partir da descoberta do daguerreótipo, fazer um retrato ficou mais simples, necessitando apenas de uma câmera fotográfica num estúdio com iluminação adequada e um laboratório”, completa.

No Nordeste é ainda muito comum a criação de um contexto em torno da pessoa fotografada que difere da realidade. Mestre Julio é um especialista nisso. Até os anos 1990, ele utilizou tintas para as suas obras, mas agora faz uso do Photoshop. Entre os retratos dele que serão exibidos estão o do médico identificado como Dr. Hermínio, que queria ter sido mecânico e pediu para ser retratado junto a alguns carros, e o de um menino que se veste como formando universitário e pede para que a família seja inserida na foto. Há também obras que marcam a questão da hegemonia branca e hierárquica na história brasileira, como a de Tercília da Silva, que pediu para que pintassem seus olhos na cor azul e fosse representada como uma rainha.

Foto: Tiago Santana
Foto: Tiago Santana

 

Tiago Santana é o responsável pelos flagrantes da área de peregrinação em Juazeiro do Norte, enquanto Tonho Ceará e Luiz Santos são coautores de retratos de povos nômades – indígenas, circenses, ciganos, sem-terra. As imagens tanto de Tiago quanto de Tonho e Luiz são em preto e branco.

Na programação ainda estão previstas oficinas, projeções e a interação do público por meio de autorretratos (as chamadas “selfies”) com o uso de celulares com câmeras, atualizando o conceito de retrato popular. Para isso, foi especialmente criado um cenário que reproduz o ambiente de uma praça de uma pequena cidade do Nordeste.

Também serão promovidos encontros e workshops com a participação dos curadores e fotógrafos participantes da mostra – com exceção de Mestre Julio que, por problemas de saúde, estará impossibilitado de comparecer ao evento.

Retrato popular fica em cartaz até 31 de julho, na Rua Padre Adelino, 1000, Belenzinho. Mais informações: (11) 2076-9700 ou  www.sescsp.org.br/belenzinho.

Artigos relacionados