Vernaglia testa duas full-frame da Sony, A7 e A7S

Passei quase vinte dias deixando minhas câmeras da Canon guardadas e usando as novas câmeras da Sony, modelos A7 e A7S. E com base nesse tempo de uso escrevo este artigo, com opiniões sobre essas duas câmeras. Mas um ponto eu posso adiantar: gostei das duas. Vamos a mais detalhes, e mais adiante um vídeo e algumas fotos.

Sony A7, A7S e também a A7R (que não testei ainda), são câmeras mirrorless (sem espelho). São basicamente a mesma coisa que qualquer câmera fotográfica reflex digital, mas sem o mecanismo do espelho. No lugar do visor óptico de uma DSLR, existe um visor eletrônico, o EVF. Basicamente só muda isto: sai o espelho, e no lugar do visor óptico entra o EVF. Todo o resto é, em termos gerais, a mesma coisa.

A Sony A7 é uma mirrorless full-frame de 24 megapixels. Não existe no momento outra mirrorless full-frame em faixa de preço similar, o que a deixa sem competição nesse setor. Por outro lado, custando cerca de 1.700 dólares, ela oferece uma capacidade fotográfica semelhante a modelos DSLR full-frame de resolução similar. Nesse caso, ela custa menos que os modelos Canon EOS 5D Mark III (cerca de 3.400 dólares), EOS 6D (1.900 dólares), Nikon D750 (cerca de 2.300 dólares, recém-anunciada) e, finalmente, na mesma faixa da Nikon D610. Todas as citadas são full-frame, entre 20 e 30 megapixels, com capacidade de fotografar e gravar vídeos full-HD. Essas câmeras competem diretamente com a Sony A7.

Já a A7S não tem competidor no mercado. Oferecendo 12 megapixels, ela está abaixo do patamar de resolução fotográfica de todos os modelos citados. Por outro lado, oferece capacidade de gravação e fotografia em situações de pouca luz (com ISO alto) superior a todas as câmeras mencionadas. Em resolução fotográfica, a A7S é inferior a D610, D750, 5D MK III e 6D, mas nenhuma dessas câmeras consegue trabalhar tão bem com pouca luz.

No outro extremo dessa linha está a Sony A7R, com consideráveis 36 megapixels, com desempenho similar às Nikon D800 e D810.

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Foto da Igreja de Nossa Senhora Achiropita, na Bela Vista, feita com a Sony A7S em ISO 25600, redução de ruído de cor em 25, redução de ruído em luminância também em 25, aplicados no Lightroom na conversão do Raw

Então o que muda entre Sony A7, A7S e A7R é a resolução? Em termos gerais, sim. Há outras diferenças, mas a maior reside na resolução de imagem e, com isso, na aplicação dessas câmeras a áreas diversas de mercado. Veja os exemplos:

Fotografia de publicidade, moda e arquitetura precisa de resolução, de detalhes finos. Ruído de imagem é menos importante, pois trabalha geralmente abaixo de ISO 400. A A7R, assim como a Nikon D810, se encaixa melhor nesses mercados.

Fotografia de eventos, jornalismo e documentário não precisa tanto de resolução e geralmente precisa de alto desempenho em situações desfavoráveis de luz. Aqui é o terreno ideal para a Sony A7S.

Uso geral editorial (negócios, turismo, retratos etc.) não precisa de tanta resolução como moda e publicidade, ou de tanto desempenho em baixa luz como os eventos e jornalismo, então a A7 atende perfeitamente com seus 24 megapixels, o que a deixa bastante adequada para muitos trabalhos editoriais, retratos, famílias, turismo etc.

Para vídeo, a resolução máxima da câmera é um problema, pois o sensor terá que ter sua resolução reduzida para gravar vídeos, e quanto maior a redução, maiores são as perdas de qualidade de imagem. Graças a isso, a A7S se mostra a mais adequada para o mercado de vídeo, e somando o sensor de resolução menor com o alto desempenho em baixa luz, a A7S mostra-se uma câmera realmente acima da concorrência. A qualidade de imagem em vídeo dela é superior ao que se pode obter com as tradicionais DSLR que hoje dominam o mercado, como 5D MK II, 5D MK III, 6D, D810 etc.

A qualidade de imagem da A7 é ligeiramente melhor que a de câmeras como 7D e 70D e Panasonic GH4. Sendo uma full-frame, ela apresenta níveis de ruído mais baixos e oferece uma resolução ligeiramente mais alta. A A7S pode ser comparada a todas essas câmeras, assim como as full-frame citadas lá no alto, no que se refere a qualidade de cor e contraste, mas é um pouco inferior em resolução por ter apenas 12 megapixels. Em vídeo, a A7 só terá vantagem no aspecto do ruído de imagem quando comparada a câmeras do tipo APS-C. Já a A7S é consideravelmente superior a esses modelos em qualidade de imagem, desempenho de ISO e alcance dinâmico.

A Panasonic GH4 é provavelmente a maior pedra no sapato da Sony A7S para o mercado de vídeo. O sistema de foco da GH4 é mais eficiente, incluindo o touch screen no monitor LCD. A qualidade em termos de resolução de vídeo da GH4 é ligeiramente superior, ela tem modos de vídeo adicionais que incluem gravação 1080p em 90fps (contra 60fps da A7S) e gravação interna 4K, enquanto a A7S precisa de um gravador externo para o 4K (como o Atomos Shogun, de quase 2 mil dólares). De forma geral a GH4 supera a A7S em praticamente tudo, tem 16 megapixels contra 12, o que a deixa em ligeira vantagem na área de fotografia. O único senão sobre a GH4 é o fato de ela adotar o padrão micro 4/3 de tamanho de sensor, bem menor que o full-frame, menor inclusive que o APS-C, o que limita um pouco seu desempenho em termos de ISO e situações de baixa luz, o que é uma diferença significativa para profissionais da área de eventos.

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Estádio do Pacaembu, em São Paulo, foto feita com a A7S e sua lente do kit, uma 28-70mm f/3.5-5.6, em ISO 100

Vale mencionar que a ergonomia das duas Sony é muito boa, com um tamanho bem compacto, mas ainda assim com fartura de botões e comandos para acessar todas as funções importantes sem ter que entrar no menu toda hora. Há dois pontos negativos, por outro lado. O primeiro é o sistema de autofoco. Para a parte de fotografia, o foco se mostrou menos eficiente do que seus pares DSLR, tanto Canon como Nikon, bem como a Panasonic GH4. Todos os modelos que uso cotidianamente, o que inclui 5D Mark III, 70D, 7D e GH4, têm sistemas de foco mais rápidos e mais precisos para fotografia. Em vídeo, a coisa muda de figura: o foco de perseguição da Sony A7S é muito bom, acima do que existe (na verdade, mal existe) nas Canon 5D Mark III e 6D, estando apenas um pouco abaixo das Canon 70D e Panasonic GH4, pois estas duas têm uma facilidade imensa com o uso do touch screen. Dá para literalmente colocar o dedo onde você quiser que elas foquem.

Outro ponto não tão bom é a baixa disponibilidade de lentes para o sistema full-frame e-mount da Sony, mas isso vem mudando rápido: Sony e Zeiss anunciaram recentemente vários modelos de lentes e outros fabricantes, como Sigma, Tamron e Tokina, logo entrarão na dança, mas neste momento imediato não existem tantas lentes nativas desse sistema. Há vários adaptadores no mercado, inclusive da própria Sony, para usar lentes da baioneta A-mount. Pessoalmente, não gosto de adaptadores, é sempre uma peça a mais pelo caminho. Mas eles existem, inclusive para usar lentes Canon e Nikon nos modelos Sony com baioneta e-mount.

Com relação ao fato de serem, mirroless, acho que o maior ponto é a diferença entre trabalhar com um visor óptico e um EVF. Poder ver o histograma no EVF é muito positivo – afinal, numa DSLR isso só é possível no live view, e todo mundo sabe que ver o live view sob o Sol é quase impossível. Outro ponto é o focus peaking, recurso típico de câmeras de vídeo que marca com uma máscara a área focada e cobre com vermelho ou amarelo para você ver bem onde está o foco. Esses são bons recursos do EVF que não existem no visor óptico da DSLR. O ponto fraco é a sensação de cor e contraste, que não é igual ao olho. Você perde um pouco a referência de alguns contrastes, algumas nuances de sombras e brilhos. Fora esses aspectos, é a mesma coisa trabalhar com DSLR e mirrorless.

O vídeo teve trabalho de câmera e assistência de Cris Alencar. Algumas observações sobre ele: é lógico que tem ruído na imagem, mas o ISO está em 51200. Se eu gravasse com duas velas ao invés de uma, já conseguiria trabalhar com ISO 25600 e o ruído reduziria bastante apenas com isso. Ou se gravasse em f/4 ao invés de f/5.6, mas a ideia foi mostrar o limite do equipamento: 51200 é o limite aceitável, acima disso não dá para usar com boa qualidade, e abaixo disso é bastante bom em 25600, e ótimo em 12800. O vídeo foi reduzido de 1080p (como foi captado), para 720p apenas pela comodidade de tamanho do arquivo exportado. Além do ruído há a típica queda de qualidade pela codificação do vídeo feita pelo Youtube.

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Foto feita com a A7s, lente 70-200 f/4, abertura f/5.6, 1/40s, ISO 6400
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Foto feita com a A7s, lente 70-200 f/4, abertura f/5.6, 1/40s, ISO 12800
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Foto feita com a A7s, lente 70-200 f/4, abertura f/5.6, 1/40s, ISO 25600

Se você atua seriamente na área de vídeo, é impossível ignorar o bom desempenho da A7S para essa área, assim como é altamente recomendável checar a Panasonic GH4. Ambas são superiores por larga margem a todas as DSLR hoje no mercado.

Já para a área de fotografia temos um empate: a A7 oferece o mesmo que temos em câmeras como 6D, D750, 5D Mark III e D610, com isso a escolha pode depender de fatores como querer ou não um equipamento mais portátil (que dará ponto para a Sony A7), ou precisar de uma maior variedade de lentes e um melhor desempenho do autofoco para fotografia (o que dará ponto para as DSLR tradicionais da Canon e da Nikon).

Passou da hora do mercado sair dessa dualidade entre Canon e Nikon. Há outros fabricantes fazendo ótimos equipamentos, como Panasonic, Samsung e Sony. E não é que Canon e Nikon sejam ruins. Na verdade, todos esses fabricantes têm ótimos equipamentos, cada um com algum ponto de destaque específico. É papel do fotógrafo, do cinegrafista e do diretor de fotografia estudar os equipamentos e saber o que cada um pode fazer de melhor para seu trabalho. Achar que só uma marca resolve tudo ou abraçar marcas como se fosse o seu time do coração não são atitudes que trarão muitos benefícios para sua carreira. Pense nisso.

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