O assunto da dica de hoje é a relação de contraste, que também podemos chamar de razão de contraste, que é uma forma de relacionar as luzes que distribuímos em uma cena ou fotografia em termos de sua potência para obter um determinado efeito visual.
Num episódio passado das dicas falamos da luz de três pontos, uma sistematização da iluminação entre luz principal, luz de preenchimento e contraluz. Dentro desse sistema (e de outros) podemos definir padrões de intensidade entre as luzes. Definindo esses padrões, podemos repetir a fórmula sempre que precisarmos, pois saberemos o que foi feito em termos de distribuição de intensidade luminosa e qual efeito visual é obtido.
Imagine que você posiciona um sistema de luz de três pontos e a medição da luz principal apresenta uma abertura f/8, enquanto que a luz de preenchimento oferece uma medição de f/4 e, por fim, a contraluz esteja na casa de f/11.
Podemos dizer que as luzes estão distribuídas na razão de 4:1 (quatro para um) entre a principal e o preenchimento, visto que a principal está dois pontos de exposição mais forte que o preenchimento e, portanto, com quatro vezes mais luz. E podemos dizer também que a principal está numa razão de 1:2 (um para dois) em relação à contraluz, pois esta última apresenta um ponto de exposição acima, ou seja, duas vezes mais luz.
Vamos exemplificar com frames de vídeo:
Nesta imagem, temos a chamada relação de contraste de 1:1, ou seja, a luz que existe à direita tem a mesma intensidade da luz que se encontra à esquerda. Se imaginarmos uma distribuição entre luz principal e luz de preenchimento, podemos dizer que ambas estão com a mesma intensidade, ambas mediram f/5.6.
Nesta outra imagem (abaixo) temos uma relação de contraste de 2:1, na qual a luz principal, que está à direita, tem o dobro da intensidade da luz de preenchimento, que está à esquerda. A principal seguiu medindo f/5.6, enquanto que o preenchimento apresentou medição de f/4.
Por fim, temos (abaixo) uma relação de 8:1, com a luz principal medindo ainda f/5.6, mas com o preenchimento medindo apenas f/2, estando três pontos de exposição abaixo da principal e configurando dessa forma a razão de contraste de 8:1, da principal para o preenchimento.
Existem várias razões para que um fotógrafo ou diretor opte por dar atenção à relação de contraste. Entre elas, posso citar:
- Continuidade: manter uma relação de contraste faz com que haja uma identidade visual entre os vários esquemas de luz utilizados em um filme, seja ele curta ou longa-metragem, documentário ou de ficção, e o mesmo pode ser dito para ensaios fotográficos;
- Coordenação de equipe: se assistente, câmera, segundo fotógrafo ou qualquer outro membro da equipe que tenha responsabilidade por luz e/ou câmera souber a relação de contraste desejada, pode trabalhar simultaneamente ao fotógrafo principal ou diretor de fotografia e adiantar muito do trabalho mesmo sem sua presença, pois este pode estar ocupado discutindo outros pontos com a direção de arte ou direção de criação. Dessa forma, o trabalho fica mais ágil e econômico;
- Uso de múltiplos flashes TTL: na fotografia, muitos dos sistemas de controle de flash remoto utilizam a lógica da razão de contraste para determinar a potência dos flashes. A Canon usa essa lógica, seus transmissores trabalham com uma escala que começa em 8:1 e vai até 1:8 para distribuir a força entre os grupos de flash A e B. Compreender o funcionamento dessas razões de potência, ou relações de contraste, é fundamental para obter resultados previsíveis do sistema de múltiplos flashes da Canon.
Até breve.
- Fotógrafo e diretor de fotografia, ARMANDO VERNAGLIA JR. vive em São Paulo, mas atua em todo o Brasil. Com mais de 16 anos de experiência na fotografia, é também professor de fotografia e cinema, consultor de imagem e palestrante.
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