Vanessa Atalla: fotografia “fora da caixa”

Talvez para alguns profissionais que fazem fotos de família, fotografar fora do estúdio seja uma conveniência: saem os custos fixos do local, o desafio de compor tendo apenas o modelo diante de si (quando muito, um pufe), a dificuldade de montar o set de luz, e entra o cenário natural, cheio de possibilidades. Para Vanessa Atalla, foi uma questão de necessidade. Para ela, era trabalhar livre – “fora da caixa” – ou nada feito.

Sua busca pela liberdade começou cedo e isso influenciou suas escolhas desde então. Nascida em São Paulo, ainda menina, foi salva de uma rotina de brincadeiras no playground do prédio pela mudança da família para o Ceará. Lá, cresceu livre, teve uma infância feliz. Mas a família voltaria a São Paulo, depois de “escalas” na Bahia e no Rio de Janeiro.

“São Paulo me tirou aquilo que eu mais gostava: a liberdade. Mas isso a vida nos ensina a conquistar novamente”, diz Vanessa, que esperou recuperá-la depois da faculdade de hotelaria, trabalhando em algum hotel à beira-mar. Mas não gostou do curso, sequer trabalhou em hotel. Foi fazer eventos. Resolveu refazer os planos, arrumar um emprego de segunda a sexta: “Quando vi, estava trabalhando dentro de uma sala, setor administrativo, salto alto, calça social. E presa”.

Foram dois anos frustrantes. Aí, Vanessa foi trabalhar com artesanato. Deu certo, mas só por um tempo. Foi quando ela se deu conta de que a felicidade estava mais perto do que imaginava. E se lembrou de uma velha companheira: “Eu era uma das poucas crianças a andar com máquina de filme agarrada no braço em todas as excursões da escola. Quando adolescente, a fotografia estava lá também. De tanto pedir, meu avô me deu uma Polaroid de presente. Mas aí veio a fase adolescente-egocêntrica. Era tanta foto autorretrato insuportável que nem eu me aguentava. E aí, ufa! Passou!”, recorda.

Um dia, fazendo um curso de design, ela viu um pessoal fotografando os aros de uma bicicleta e decidiu cursar fotografia também. “E outros sinais apareceram. Vi uma matéria sobre ensaio de recém-nascido com a Danielle Hamilton. Vi uma negra com um turbante lindo vendendo pipoca na praia e pensei que aquilo daria uma bela imagem. Comecei a me ver como fotógrafa. E isso lá era profissão? Se era de verdade, eu não sabia. Mas uma certeza eu tinha: voltaria a ser livre novamente”.

Vanessa: “O retorno do que fazemos por amor é sempre positivo” (foto: Felipe Valério)

Vanessa completou sua formação em 2011 e foi trabalhar num estúdio com foco em ensaios de gestantes e crianças. O problema é que estava novamente “encaixotada”. Então, percebeu que havia pouca gente fazendo somente ensaios externos, coisa que já estava sendo praticada lá fora. “Resolvi criar a minha identidade visual, site, e sair em busca de amigos com filhos para serem fotografados sem custos. Assim, fiz meu portfolio e comecei a trabalhar usando a minha própria marca”.

Daí em diante, as coisas correram bem. O boca a boca funcionou e Vanessa Atalla se estabeleceu como fotógrafa de família, fazendo o que alguns profissionais da área chamam de “lifestyle”. Sua clientela atual, na maioria, é formada por futuras mães, público que, uma vez satisfeito, tem retorno certo, em ensaios de recém-nascido e acompanhamento do bebê. A paulistana tem apostado nisso e não vem se desapontando.

“O retorno de tudo que fazemos com amor, carinho e respeito é sempre positivo. E acredito que esse é o meu maior diferencial. Para fugir da concorrência, eu faço aquilo que eu acredito e que gosto de uma forma natural, que combine com a minha vida e a minha bagagem cultural. Com isso, consigo clientes que se identificam com o meu jeitinho. Hoje, posso dizer que estou no meu melhor momento profissional. Mas sei que ainda tenho muito para aprender e crescer”, avalia a profissional, atenta também aos ensaios com animais de estimação, mercado que vem se mostrando promissor. Ela ainda destaca o trabalho que fez após ter participado de uma capacitação do Special Kids – projeto que treina fotógrafos para atuar com crianças especiais. Ela fotografou Luana, uma criança que tem Síndrome de Down, junto da irmã, na feira de flores do Ceagesp, um dos seus ensaios mais populares.

Sua estrutura de trabalho é enxuta. Na própria casa, ela montou um escritório para atender aos pedidos de orçamento, tratar as fotos e cuidar do pós-venda – e, eventualmente, fotografar os recém-nascidos. Os ensaios, Vanessa executa sozinha. “No entanto, hoje já terceirizo os meus álbuns. Contratei uma empresa que faz a diagramação e é responsável pelas impressões. Nesse processo, eu sempre escolho as fotos e aprovo a diagramação que será enviada para o cliente”, revela.

Quanto à luz empregada, é sempre natural: “Gosto do conceito lifestyle. Ele resume bem o que eu busco em cada ensaio, a verdade e o amor entre as pessoas. Eu quero ver a vida. Eu desejo capturar a essência e as emoções de um jeitinho natural, contando uma história que só elas possuem”, justifica a fotógrafa, que procede de maneira peculiar nos contatos anteriores ao ensaio. “Não gosto de fazer reuniões antes – para mim, perde o encanto. Gosto de conhecê-los no dia do ensaio. As histórias vão surgindo, vamos conversando e nos soltando. Não há um planejamento do que será feito, pois eu quero que seja o mais natural possível e o mais fiel à realidade deles. O que planejo é o local do ensaio, definido junto com o cliente”.

Assim, as informações importantes são obtidas por e-mail ou telefonemas, e qualquer detalhe pode direcionar todo o ensaio: “Por exemplo, conversando com a mãe, fiquei sabendo que o pai era super apaixonado por aviões. O ensaio foi feito na casa deles para registrar o quartinho com a decoração de aviões – e olha que ainda tinha um avião de aeromodelismo enorme no meio da sala. Muito bom! Sugeri também finalizarmos o ensaio no Aeroclube de São Paulo. A criança adorou. O pai, mais ainda”, comenta, divertida.

Segundo Vanessa, as conquistas estão diretamente ligadas à satisfação de fazer algo que a faz feliz. Ela acha que isso é fundamental para prevalecer num mercado concorrido como o da fotografia de família. Assim, seu lema é: faça o que o coração mandar. “A fotografia de família não tem um roteiro definido. Quando você chegar no ensaio, tente entender e sentir como é aquela família. Observe bastante. Aproveite os momentos de descontração, pois rendem fotos verdadeiras e recheadas de emoção. Segundo, se deixe envolver. Mas saiba o momento de sair de cena e deixar que aquele momento aconteça. E claro, seja feliz”, recomenda a fotógrafa.

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