Quando se trata de cobrir casamentos, a opção pelo “do it yourself” (ou “design yourself”) nem sempre é a mais indicada. Considerando as intermináveis horas clicando o grande dia, mais o tempo que vai para guardar todos os arquivos com segurança, mais a eternidade diante do PC editando e tratando fotos, tudo isso redunda em o profissional perder mais tempo em atividades acessórias que fazendo o principal, que é fotografar. Com isso, a decisão de delegar certas etapas do processo, como a diagramação do álbum – em alguns casos, até mesmo a edição e o tratamento –, se torna uma alternativa em favor do tempo e da organização. Mas economizar esse bem precioso é apenas um aspecto importante da terceirização. O outro diz respeito ao velho lema: “Cada macaco no seu galho”.
“Eu sou fotógrafo e não designer. Prefiro deixar essa parte pra quem realmente entende”, resume o paulistano Alexandre Borges, de 31 anos, fotógrafo de casamento há quase seis e parceiro de primeira hora da designer Vanuza Amarante, que é quem cuida dos seus álbuns. Ambos trabalharam juntos em uma agência de design e branding antes de se lançarem nas atuais carreiras, o que estabeleceu uma sintonia que deixa o fotógrafo absolutamente seguro do resultado: “Por isso eu dou poucos pitacos nas diagramações dela”, afirma Ale, que é como ele costuma assinar seus trabalhos.
Fotógrafa em Florianópolis (SC), Ana Corrêa, 31, segue a mesma lógica. “Nunca tive paciência ou dom para ficar horas na frente do computador diagramando álbuns”, reconhece a catarinense nascida em Lages, fotógrafa social desde 2009. “Por isso, sempre tive uma designer gráfica trabalhando comigo. Elas estudaram para isso, têm uma noção de estética que nós, leigos, não temos – ou até temos, mas não sabemos como expressar”. Ana trabalha com a mesma designer (Maira Stange Fey) há quatro anos e, em média, encomenda quatro álbuns por mês. Quando ela está sobrecarregada, a lageana tem uma segunda opção na manga: Vanuza, a mesma que faz os álbuns de Ale Borges. “Ter um designer de confiança traz agilidade ao processo. É mais caro do que ter um funcionário fixo interno que só faça isso, mas compensa demais”, acredita a fotógrafa.
Confiando nesse raciocínio, Hayaks Winter, 19, apostou na Picmaker, empresa de diagramação com sede em Porto Alegre (RS). Jovem empreendedor, aos treze anos ele já fotografava eventos e se encarregava dos próprios álbuns. Foi convidado a entrar como sócio na empresa em outubro de 2011. Nove meses depois, comprou a outra parte do negócio e se tornou o único proprietário, deixando a fotografia para se dedicar integralmente à diagramação. No último mês de abril, divulgou a marca em uma feira de fotografia em São Paulo e, aos poucos, colhe os dividendos. Possui clientes em diversos estados e diagrama uma média de 30 álbuns por mês (seu objetivo é chegar a cem). Por sugestão de um deles, incluiu na pauta a pós-produção e a edição das fotos.
“Eu acho que a terceirização é o futuro da fotografia”, diz Hayaks, para quem o volume excessivo de trabalho está deixando os profissionais “enrolados”: “Eles perdem umas duas ou três manhãs, ou tardes, diagramando. Ficam mais tempo na frente do computador que fotografando. Não tem lógica”, argumenta.
Sem falar que nem sempre o resultado desse esforço agrada aos noivos. Tanto é verdade que Marcelo Caetano, 30, designer de álbuns em São José do Rio Preto (SP), vem sendo bastante acionado por noivos descontentes: “Recebo umas quatro solicitações por semana com pedidos de orçamento e o valor que eu cobro é o mesmo que para fotógrafos”, informa o paulista de Votuporanga, formado em publicidade e propaganda e responsável pelos álbuns do fotógrafo rio-pretense Evandro Rocha desde 2008 (também atua como seu fotógrafo assistente nos casamentos e ensaios e está iniciando carreira-solo).
“Tem também aquela noiva que contratou somente o trabalho do fotógrafo para fazer as fotos e entregar o material em CD e depois percebeu que o álbum impresso faz falta”, acrescenta. E, claro, há os profissionais, cuja demanda igualmente aumentou: “Tanto o fotógrafo que está começando e não sabe fazer a diagramação quanto aquele que já tem vários clientes, é mais experiente e quer ter mais tempo livre para exercer as tantas outras atividades que tomam tempo do fotógrafo”, explica Marcelo, que, por seu turno, acha mais barato para um fotógrafo com pouco volume de trabalho terceirizar do que manter um designer dentro do estúdio. E destaca ainda que há pouca mão de obra especializada disponível, o que também favorece a opção.
“Os álbuns estão evoluindo bem no Brasil, mas ainda tem muita coisa a ser melhorada. Vejo muita coisa por aí feita por pessoas que não têm nenhum conhecimento de design e os clientes estão percebendo cada vez mais a diferença entre um álbum bem feito e um feito de qualquer forma”, acredita Marcelo, que prefere tratar ele mesmo as imagens que recebe. Segundo observa, os ajustes devem ser pontuais, sem exageros. Correção de cor, brilho, contraste, exposição, algum filtro na pele dos noivos para atenuar. Ou então a retirada de objetos que estão sobrando na cena, como extintores, ventiladores ou interruptores. “Isso faz toda a diferença. Um simples detalhe pode tornar a foto muito mais atraente e um retoque ou um ajuste de cor pode tornar o álbum mais bonito”, garante o especialista, que faz poucos álbuns por semana e pretende diminuir ainda mais o ritmo para se dedicar à carreira de fotógrafo. Mas não cogita parar: “Gosto muito de fazer o que faço”, justifica.