Still: compromisso com a realidade

Se há um segmento da fotografia publicitária no qual o profissional exerce seu ofício na plena solidão do estúdio, este é o de produtos – ou still. Via de regra, não há modelos envolvidos, a escala da produção cai ao tamanho de uma garrafa de vinho, uma joia, um rótulo, dispensam-se grandes equipes de produção. Para Fred Vianna, que tem experiência no assunto, a responsabilidade de quem está ao obturador aumenta, pois ele não a divide com mais ninguém.

“O still é mais desafiador”, sustenta o mineiro de Belo Horizonte, 31 anos de idade. Publicitário, Fred desempenhou diversas funções na área, de diretor de arte a designer. Era sócio de uma agência de propaganda quando resolveu investir no hobby que manteve desde aos dezoito. Faz uns dois anos, vendeu sua parte no negócio e foi fazer fotografia publicitária e de moda. Entre os trabalhos que desempenha, estão as imagens de produtos.

Fred Vianna: “Still é mais desafiador” (foto: autorretrato)

“Se tratarmos um job padrão de moda e um job padrão de produto, a fotografia de moda possui uma equipe por trás. Ou seja, a equipe faz a foto, não apenas o fotógrafo”, continua Fred. “Já no still, em um job padrão, a responsabilidade é muito mais em cima do fotógrafo, pois ele controla praticamente todo o processo. Por outro lado, o retrato, beauty, moda etc. é mais flexível que o still, que na maioria das vezes já chega com um briefing mais definido e o apelo é sempre muito comercial”, compara.

Mais difícil que isso, em sua opinião, é exercer uma boa presença no mercado e conquistar os clientes. Isso porque, ainda segundo o profissional, em BH as coisas são um pouco “peculiares”: “Os clientes que já investem em foto publicitária são bastante resistentes em conhecer o trabalho de novos fotógrafos e fornecedores. Atualmente, tenho clientes apenas em Belo Horizonte, ou através de agências de publicidade de Belo Horizonte. Mas, no geral, a lição é que o fotógrafo precisa realmente caçar o cliente, com todos os recursos disponíveis”, afirma o mineiro, que vê concorrência apenas nos colegas cuja estrutura se equivale à sua própria: empresa legalizada, estúdio, investimento em equipamentos e em qualificação. “Então, para o fotógrafo concorrer nesse ramo, é um pouco mais complicado, pois é difícil apenas com uma câmera na mão ele pegar um job legal de produto, ao contrário do que acontece com eventos”, destaca.

Voltando ao still, outra característica apontada por ele é o compromisso com a realidade (ou a realidade que o cliente precisa passar). Isso reduz bastante a capacidade de abstração do fotógrafo, sua condição de intervir no resultado da produção: “Dá pra inovar, sim, quando o cliente dá abertura, e o briefing permite, mas tudo sem tirar a característica do produto, como cor, forma, tamanho etc., o que acaba por limitar as inovações. Nenhum cliente quer o rótulo de outra cor, ou com um corte, por mais harmônico que seja, então, a inovação é possível, sim, mas como um extra depois de entregar o básico”, explica.

O que nenhum cliente dispensa é a precisão do clique, o que torna a preocupação com equipamentos importante. Fred diz que esse quesito varia muito em relação ao objeto a ser fotografado. Por exemplo, se for para capturar imagens de splash, com o produto mergulhando e líquido espirrando para todo lado, é necessário pensar em velocidades altas: “Quanto mais rápido o relâmpago [do flash], mais ‘congelada’ a imagem fica. Paciência, tentativa e erro também são acessórios indispensáveis”. Sua relação de ferramentas conta com flashes de estúdio, lentes macro, tripé (é essencial) e um monte de acessórios para trabalhar a luz. “Hoje, a fotografia de still, para ser considerada com uma qualidade legal, precisa seguir um padrão de pós-produção e tratamento que o mercado já apresenta e já fez o público se acostumar. Ou seja, luz impecável, nitidez impecável, tratamento impecável”, traduz o fotógrafo.

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