Casamento: hora de fotografar o noivo!
De pé ao lado do altar, nervoso e se sentindo desconfortável dentro do terno feito sob medida, o noivo olha lá para a entrada principal da igreja. Os convidados fazem o mesmo, tão logo a marcha nupcial começa a tocar. A protagonista da noite está chegando.
É claro que o casamento é um evento formatado para duas pessoas. E que o noivo muitas vezes se envolve tanto ou mais que a futura esposa nos longos meses de preparação da cerimônia, festa e lua de mel. Mas não dá para negar que o “sonho de casar na igreja” embala somente o sono das mulheres. Também não se pode deixar de notar que tudo no “grande dia” parece apenas servir para evidenciar o quanto elas ficam deslumbrantes com aquela carinha chorosa e naquele lindo vestido branco.
Num contexto assim, é de se pensar que, se o fotógrafo escorregar na cobertura, passando mais tempo a clicar a noiva, tudo bem. Ninguém está aí para o noivo mesmo… Não é bem assim. Profissional que se preze sabe que um bom álbum é composto de um pouquinho de tudo o que ocorreu no casório. E o noivo, sim, vai querer se ver – muito bem – na foto. Conversamos com três fotógrafas que se ocupam (ou não) “do cara” nas diversas etapas do trabalho para saber como tudo acontece.
NO PRINCÍPIO, O MAKING-OF
Quem se sai melhor fotografando o making-of do noivo (aquele momento de preparação que antecede a cerimônia), o homem ou a mulher? “Eu gosto de fotografar o making-of da noiva, pois sinto que ela se sente mais à vontade com uma fotógrafa mulher num momento íntimo como esse. E a mesma coisa imagino eu que aconteça com o noivo. Essa é uma das razões porque prefiro que um fotógrafo homem vá realizar essa tarefa”, diz Maíra Erlich, 27, fotógrafa do Recife, que conta com o fiel escudeiro Hugo Sá para cuidar da festinha dos marmanjos. “Já cheguei a fotografar alguns noivos se arrumando, quando trabalhei como segunda fotógrafa, ajudando colegas de outros estados (é sempre boa essa troca de experiências, recomendo!). Nessas ocasiões, eu não me senti tão à vontade como me sinto com a noiva. Geralmente é um quarto cheio de homens e só eu lá de mulher. Acho que, se fosse um homem fotografando, eles iam ficar mais soltos”, argumenta a pernambucana.
No caso da empresa de Beth Esquinatti e Nei Bernardes, em Rolante, município da região metropolitana de Porto Alegre (RS), a relação se inverte. “O Nei trabalha com o atendimento à noiva no momento da contratação, então, por já criar uma afinidade com ela antes do casamento, ele prefere fazer a cobertura do making-of dela”, explica Aline Evelin, 26, fotógrafa auxiliar do casal. São ela e a colega Monique Colombo, 21, quem acompanham o noivo. “A Beth está com um bebê pequeno, por isso está afastada dos eventos, mas ela também faz fotos de making de noivos”, acrescenta a gaúcha, fotógrafa de casamento há três anos, mesmo tempo de estrada de Monique.
Ana Corrêa, 32, fotógrafa de Lages, radicada em Florianópolis (SC), também passa a bola para o assistente – com o detalhe de que pode bem ser uma assistente, pois Ana varia sua companhia. “A não ser que eles estejam se arrumando no mesmo hotel, por exemplo, daí eu consigo dar uma fugida para fotografar o noivo. Já o trabalho durante a cerimônia é sempre dividido entre eu e o segundo fotógrafo”, ressalva a catarinense, o que nos leva ao segundo tópico desta reportagem:
A CERIMÔNIA
“Como eu gosto de estar junto com a noiva na hora da entrada, nesse momento fico mais com ela (saída do carro, abrir as portas e entrada na igreja) e meu segundo fotógrafo foca no noivo nessa hora tão esperada. Mas eu sempre consigo correr até o altar na hora e também pego a reação do noivo. É um trabalho bem dividido”, garante Ana.
Postura semelhante adota a equipe de Beth Esquinatti. Aline diz que não há uma hierarquia, os dois profissionais escalados para o evento assumem igual importância na cerimônia. O que equivale dizer que tanto o noivo quanto a noiva receberão atenção igual de ambos. “Acabamos criando uma sintonia trabalhando dessa forma. Sabemos que os dois fotógrafos se complementam e que os dois podem ser criativos e ao mesmo tempo ter fotos mais tradicionais”, justifica ela.
Maíra adota um critério um pouco diferente. Hugo tem algumas atribuições na festa, como tirar fotos da decoração e retratar as poses do pessoal. “E, se precisar, ele também me ajuda com a luz. De resto, fica livre pra fazer o que quiser”. Mas ela concorda que não dá para ter dois pesos e duas medidas. “Os dois são, juntos, os protagonistas daquela história e, sem o noivo, a noiva seria apenas uma mulher vestida de branco”, ressalta Maíra, que entrou no segmento social em 2010, depois de trabalhar em outras áreas da fotografia.
O que ela nota, entretanto, é que o noivo às vezes se sente um mero figurante nessa história. E isso talvez ocorra em função da própria cultura do casamento: “Sempre tento reverter esse sentimento dele e por isso o making-of do noivo está sempre incluso em todos os meus contratos. Acho um pouco estranho quando, no álbum, aparecem várias páginas da noiva se arrumando, os últimos momentos com os pais, e depois já aparece o noivo pronto, na igreja. É como se estivesse faltando alguma coisa”, observa.
Talvez isso tenha a ver com o mito de que o homem não é muito chegado a ser fotografado, fica arredio ou sem jeito diante de uma câmera. Bobagem: “Às vezes a noiva é mais quieta e o noivo mais animado, então ele termina aparecendo mais na festa. Às vezes é o contrário. Mas tudo isso reflete quem cada um é, e não depende do gênero daquela pessoa”, destaca Maíra. Porém, isso merece um capítulo à parte.
O NOIVO DIANTE DA CÂMERA
Aline Evelin já pegou uma boa cancha clicando noivos. Para ela, não tem mesmo essa de eles não gostarem de tirar foto. Tudo depende da abordagem na hora de combinar como será o trabalho, lá no início. Uma diferença, entretanto, existe – no jeito de fotografar: “Realmente, o noivo é fotografado de forma ainda mais espontânea. Geralmente as mulheres são mais dispostas e gostam de fazer alguma foto que contenha direção, já com os homens temos um maior cuidado para deixar tudo acontecer ao natural, registrando o máximo do que está acontecendo naqueles momentos”. Com “ao natural” ela quer dizer: fotografar sua rotina, seja em família, com os amigos, tomando uma cerveja ou assistindo à tevê. “Já aconteceu casos de termos mais assuntos a serem retratados no making-of do noivo do que no da noiva, por exemplo”, ilustra.
“Claro que existem noivos que realmente não curtem fotos e não querem perder muito tempo fotografando. Mas tem noivos que adoram (a maioria dos meus clientes) e entram na brincadeira! Acho que o principal segredo é tentar se colocar no lugar do outro. Se ele é mais tímido, não dá para pedir para sair correndo pela praia! Mas, se ele for mais brincalhão, daí não tem limite para a criatividade! Não podemos tirar nada além daquilo que as pessoas podem nos dar, e a fotografia é um reflexo da personalidade de cada um”, reforça Ana Corrêa, que gosta de ter uma revista de moda masculina por perto para pegar umas ideias de pose na hora dos retratos, ocasião em que o noivo se apresenta menos disposto a se deixar fotografar: “Uma boa dica é chamar os amigos para fazer um certo movimento e ter mais descontração”, sugere.
O RETRATO
Aproveitando a deixa de Ana, falemos do retrato. “A melhor forma de conseguir bons retratos do noivo é deixá-lo o máximo à vontade”, propõe Aline. “Sugerir anteriormente ao casamento que ele esteja com pessoas que sejam do seu convívio e que provavelmente estariam com ele mesmo que não houvesse fotos. E tentar deixar as fotografias dele também atrativas, o próprio blog e portfolio ajudam muito, pois eles já percebem o que haverá esse momento e até fazem planos para o seu making-of. Outra forma de conseguir um bom resultado é mostrando algo diferente na câmera que você tenha criado durante o próprio making-of dele. Isso os deixa mais confiantes e cria uma proximidade bem legal. Alguns noivos já saíram nos apresentando para outras pessoas durante o casamento, com orgulho”, revela.
“Nos retratos também tento fazer os dois terem a mesma importância. Um depende do outro. Na verdade, naquele momento, é como se os dois fossem um só. É o momento deles. Eles se complementam e é isso que tento passar nas fotos: o amor e o carinho de um pelo outro”, conta Maíra. Mas caso o cliente seja realmente refratário a fotos, ela não força a barra. Isso ocorre em 10% dos casos, no entanto. A maioria topa, e a noiva sempre curte vê-los tendo seu momento. Inclusive, a pernambucana acha que uma dose de vaidade não seria ruim: “De vez em quando, um inofensivo corretivo pra tirar as olheiras ou uma espinha no rosto do noivo não ia cair mal. Ajudaria bastante nas fotos”.
MOMENTOS IMPERDÍVEIS
Nos ensaios da noiva, umas fotos “obrigatórias” são aquelas do vestido pendurado no cabide. Não pense, porém, em fazer uma coisa assim com o terno do cara. Pelo menos é o que recomenda Aline, embora, segundo sua estimativa, grande parte dos fotógrafos não resista a um clique de sapato. “Essa fotos são as menos importantes em nossa opinião. A dica é: fotografe as emoções, a espontaneidade. Faça muitos cliques!”
Para Maíra, a coisa começa a ficar interessante quando o noivo (a noiva também) se desliga da câmera e ela pode assumir seu “modo invisibilidade”. “É quando surgem as oportunidades de fotos mais legais. Ele vai prestar mais atenção a ela e a seus convidados do que a mim, e ela a mesma coisa. No momento em que nos tornamos invisíveis como fotógrafos, temos um poder maravilhoso nas nossas mãos”, afirma a “maquiavélica” fotógrafa.
E o que ela faz com esse poder? “Um momento que gosto bastante é quando ele está vendo sua noiva pela primeira vez. Algumas vezes eles choram, já em outras ficam mais tensos com o nervosismo. Cada um tem uma forma diferente de reagir àquela emoção. No mais, acho que momentos tanto da noiva quanto do noivo com seus pais são sempre bem importantes e emocionantes de serem fotografados. Meu conselho é tratar o casal de forma mais equilibrada possível. Ambos merecem atenção equivalente. Fotos dos noivos com seus amigos são bem legais, assim como fotos da noiva com suas amigas”, aponta.
Ana arremata: “As fotos do noivo se arrumando (geralmente com pai, mãe e amigos) antes da cerimônia (pode-se incluir alguns retratos formais nessa hora dele pronto, igual fazemos com a noiva), a entrada dele na igreja e, pra mim, a reação naquele primeiro segundo que ele vê a sua amada. Esses segundos são lindos! E, para se fazer justiça, uma ideia bacana é começar o álbum com as fotos do making-of do noivo e sempre pedir que ele aceite ser fotografado nessa hora!”
Agora você já sabe: noivo não é um acessório da festa. Então, capriche no clique e deixe o cara orgulhoso!
Sou um dos noivos fotografados e queria tornar público meu agradecimento à Maira (uma maga das fotos),que me presenteou não só com fotos do casamento e desse momento tão especial junto à minha esposa, mas com registros de sentimento que representam uma vida inteira. Digo a todos que Maíra consegue capturar sentimentos e nos entregar um presente eterno….A foto com minha mãe é um desses “milagres fotográficos” de Maíra, que conseguiu me fazer ter pra sempre o abraço da minha amada mãe, que se foi, três meses após o casamento, vítima de um câncer terrível. Parabéns ao profissionais envolvidos e à matéria publicada, que, afinal de contas, trata do registro do amor, em todas as suas formas e horas…É disso que o Mundo precisa…
Excelente texto.
Depois de 37 anos de casada, fica uma pontinha e remorso,por no passado,em janeiro de 1979,não ter sido Maíra Erlich e sua “turma” a cuidar do meu noivo! Dá até vontade de casar de novo,com o mesmo noivo, é claro!
Parabéns!
O que vi e li revela uma grande sensibilidade de sua parte, Maíra. Poucos, profissionais e convidados lembram de considerar as emoções vividas pelo noivo. Eles expressam pouco, mas vivem um turbilhão de emoções ao tomar uma decisão como o casamento.Belo momento, bela foto. Belo registro: o noivo, entre o cuidadoso e amoroso gesto da mãe e a expressão reflexiva e feliz da noiva. Parabéns!