O altar é, sem dúvida, o espaço mais popular da fotografia. De veteranos em busca de novos ares a novatos querendo seu lugar ao sol, boa parte da comunidade que clica profissionalmente começa ou termina na fotografia de casamento.
Não há uma estatística confiável para o contingente de fotógrafos sociais em atividade no Brasil, mas sabe-se que ele é enorme. E muita oferta, ensinam as leis do mercado, significa concorrência. Mesmo com o casamento religioso sempre em alta, é preciso estar preparado para ganhar clientes e se manter no jogo.
André Soares, proprietário do Stúdio Paragem, em Tramandaí (RS), resume a situação da seguinte forma: “Alcançará o sucesso quem se diferenciar”. Ele é um dos profissionais a quem consultamos justamente sobre este assunto: como produzir um trabalho diferenciado e se sobressair no mercado?
“Difícil definir onde é o início do ciclo, mas podemos dizer que o ambiente de atendimento já é um bom começo para impressionar nossos futuros clientes, apresentando-lhes um portfolio cuidadosamente selecionado de acordo com o perfil do casal”, observa André. Segundo o gaúcho, estabelecer um bom contato com os noivos é decisivo para o sucesso do trabalho, e o chamado pré-wedding – aquele ensaio feito antes mesmo da cerimônia – é o melhor momento para construir essa relação. “É a oportunidade que temos de saber do que gostam e principalmente do que não gostam para canalizarmos nossa atenção no que realmente interessa a eles”, pontua.
A mineira Vanessa Freire, por outro lado, alerta contra o marketing excessivo. “Esse é o primeiro erro, pois, mesmo investindo pesado no marketing para ser conhecido, a ausência de um diferencial vai torná-lo famoso por fazer o que qualquer outro faria, além de qualificá-lo como marqueteiro”, avisa a fotógrafa.
Ainda no quesito da postura pessoal, Vanessa receita alguns procedimentos que ela considera importantes: “No dia do evento, para não se estressar, evite atender telefonemas ou fazer atividades fora do seu costume. O resultado do seu trabalho dependerá do seu humor. Chegar cedo à igreja ajudará no percurso do seu trabalho com imagens pré-montadas. Aproveite o tempo para pedir benção e conversar com o sacerdote. Essa pequena cortesia mostra seu respeito pelo templo e previne repreensões desnecessárias. Procure não se destacar mais do que os donos da festa: evite chicletes, sentar ou deitar no chão. Movimente-se devagar e cautelosamente para não provocar acidentes”, relaciona.
“A decisão de contratar o fotógrafo passa por nossa postura no evento, aparência, segurança, discrição e principalmente afinidade com os noivos”, reforça André Soares. “Tenho a sensação de que estou sendo observado o tempo todo e já pude comprovar algumas vezes, como quando um casal de padrinhos me contratou para o seu casamento e, na reunião que antecederia o evento, elogiou nossa postura durante o trabalho”, ele complementa.
Após saber como se portar dentro da igreja, o fotógrafo precisa se preocupar, naturalmente, em fotografar. Isso implica captar aqueles momentos que os noivos querem ver no álbum, como a entrada da noiva, a benção, a troca de alianças, o buquê voando etc., mais o registro de parentes e convidados importantes para o casal, e aliar tudo isso a cliques que os surpreendam. Não é pouca coisa.
Fotógrafo de Joinville, com estúdio em Florianópolis (SC), Jared Windmüller não foge ao roteiro ditado pela cerimônia. Mas, depois de garantir as fotos que os clientes querem, ele parte para criar “a foto”: “Garantir a foto é literalmente fazer a foto padrão que agrade aos noivos, essa não posso perder, mas, feito a padronizada, é comum eu mudar de ângulo rapidamente e buscar uma foto completamente diferente. Assim tenho certeza que no final de cada casamento eu terei um diferencial para apresentar ao casal e me satisfazer”, explica o catarinense.
Em seu roteiro, Jared inclui o making-of, a decoração, a cerimônia, fotos na saída da igreja e a recepção. Porém, ele se mantém atento e receptivo ao inesperado, conforme relata neste pequeno “causo”: “Mesmo tendo criado algumas fotos diferentes, vi que ainda poderia ter umas a mais. Então, quando vi que a recepção iria acabar cedo, perguntei aos noivos se eles iriam naquele momento para o hotel. E o convite partiu deles, de imediato: Vamos até o hotel finalizar com algumas fotos? Como recusar? Adorei a ideia, afinal eu teria algumas fotos diferenciadas, tanto para mim quanto para o casal. Mas sei que muitos profissionais já estariam com as bolsas de fotos no carro, saindo para ir para casa”, cutuca.
Para que nada escape aos olhos, André recomenda atuar, pelo menos, com outro fotógrafo. Sua definição de uma boa cobertura é a seguinte: “É preciso haver equilíbrio entre fotojornalismo, poses e em alguns momentos promover cenas dirigindo o casal de forma dinâmica, buscando imagens espontâneas e com estética agradável, bem ao estilo Trash the dress”, afirma, acrescentando que o profissional deve dispor de equipamento full-frame e utilizar lentes claras, no mínimo 2.8: “Um bom equipamento faz toda a diferença. Não podemos contar apenas com nosso talento, é preciso investir”, destaca.
“Costumo dizer aos meus alunos para filmarem com a câmera fotográfica. Ou seja, mantê-la sempre preparada para um clique certeiro de uma boa gargalhada ou um olhar carregado de emoção com uma lágrima prestes a desabar”, diz Vanessa Freire. No seu entender, esse tipo de percepção exige uma preparação. “Antes de sair para fotografar, procure ver bons livros, revistas ou mesmo acessar sites de imagens interessantes sobre o tema. Essa bagagem vai ajudá-lo a ter boas ideias e, quem sabe, melhorar algo que serviu de inspiração”, recomenda.
À guisa de script, Vanessa sugere ficar de olho nas crianças (“a espontaneidade delas sempre rende boas fotos!”) e não esquecer os músicos, a decoração, os convidados e demais profissionais envolvidos. “O mesmo vale na hora da recepção: registre o local, a decoração da festa, a comida que está sendo oferecida, as lembranças que os noivos fizeram e qualquer outro detalhe. Não se esqueça das alianças! Pegue-as emprestadas por alguns minutos e aproveite a decoração para realizar belas imagens”, aconselha a mineira, lembrando de um item que não pode faltar: os cartões de visita – “Já pararam para pensar na quantidade de indicações que se pode conseguir fotografando apenas um casamento?”
Jared: “Observe mais à sua volta sem estar tanto focado nos próprios noivos. Eles são o seu foco principal, mas não o único. Vejo que tem fotógrafos que fazem apenas closes do casal, sem ao menos olhar ou compor com todo o cenário do local escolhido pelo casal, isso é uma falha fatal. Compor com o cenário, incluir o casal nisso, é a base da minha fotografia. Usar e abusar da grande-angular é o mínimo”.
André: “Costumamos usar muito pouco ou quase nada de flash, garantindo a atmosfera do ambiente e facilitando a tomada de fotos espontâneas, pois flash denuncia a presença do fotógrafo”.
Vanessa: “Tire a câmera da mira dos olhos. Treine fotografar colocando-a entre o véu ou flores, acima da cabeça dos convidados ou mesmo no chão! Os resultados são surpreendentes!”
É curioso como algo tão “engessado” pela tradição, como é a cobertura de um casamento, permita tantas variáveis. Tudo depende de técnica, disposição e criatividade. Em resumo, essa é a fórmula. Sua apreensão resulta em reconhecimentos dos clientes, indicações e uma carreira bem encaminhada. Fácil? Sem dúvida que não, mas você pode contar com essas excelentes dicas de quem já chegou lá.