Social: a força de Zenilda Brasil

Quando recebeu o diagnóstico de linfoma de Hodgkin – um tipo de câncer que afeta o sistema linfático – em junho do ano passado, Zenilda Sarmenghi Brasil teve duas certezas imediatas e uma dúvida. Soube que teria de adiar uma viagem dos sonhos e os planos para engravidar. A dúvida era: o que fazer com os casamentos que ela tinha agendado e que culminariam com o período crítico do tratamento? Seu primeiro pensamento foi o de que não cumpriria os compromissos e teria que conseguir quem fizesse o trabalho por ela. Mas, como contar isso para seus noivos? Esse foi apenas um dos dilemas que Zenilda enfrentou nos últimos meses. O que ela não soube de início é que não apenas teria forças para honrar cada um de seus compromissos, como faria disso uma razão de luta.

Capixaba de Aracruz, 40 anos de idade, casada, Zenilda mora em Vitória (ES) há vinte anos. Formada em publicidade e propaganda, começou a fotografar profissionalmente em 2007. No início, seu objetivo era explorar o mercado de pets, inexistente na cidade, mas uma experiência no casamento de um amigo a fez mudar de ideia: “A fotógrafa gentilmente me permitiu que fotografasse com ela e me convidou para ir na sessão externa também. Pronto, me a-pai-xo-nei!”, garante.

Quando soube que tinha a doença, Zê – como gosta de ser chamada – começou a escrever um blogue, uma espécie de diário de bordo do tratamento. O último post, publicado no antepenúltimo dia do ano, ela dedicou a agradecer aos seus clientes. Pois nenhum deles quis trocar de fotógrafo. Não importa o que acontecesse, eles a estariam abraçando.

Zê brinca com sua peruca: agenda a ajudou a sair da “toca”

“Creio que os casamentos agendados me deram força para sair da ‘toca’, digamos assim”, avalia Zenilda, que vive os últimos dias do tratamento e já deixou o pior para trás. “O fato de ter esses compromissos me forçava a querer melhorar das reações dos medicamentos, que eram muitas e doloridas. Várias vezes tive que negociar com a minha médica a data da próxima quimioterapia para não cair muito próxima do evento”, recorda, ressaltando que, para não se arriscar, contratou fotógrafos auxiliares e principalmente contou com a ajuda do marido Ronald Brasil, que também é fotógrafo.

Zê lembra a dificuldade que foi o casamento após a primeira quimioterapia: “Fui para lá com 50% do meu cabelo, que continuava a cair sem parar. Consegui prendê-lo de forma a ficar quietinho, mas não gosto de ver fotos minhas desse dia, fiquei muito feia”, brinca.

Aliás, o bom humor foi uma das armas que usou para vencer essa provação. Isso, a fé e o apoio dos clientes, que, face às próprias aflições e expectativas em relação ao casamento, generosamente transformaram uma relação em última instância comercial num manifesto de carinho para com a fotógrafa que escolheram para seu grande dia: “Quando eu chegava nos eventos, pude ver que dá para ir além do que imaginamos. Que temos mais força do que imaginamos ter”, soube Zenilda Brasil. “Ouvir de algum parente do noivo ou da noiva ‘eu te admiro por você estar aqui, você é uma guerreira’ era muito emocionante e encorajador, porque realmente nem sempre estava 100% bem fisicamente para estar lá. Sou eternamente grata a Deus por permitir essa experiência em minha vida. Sei que em tudo há um propósito maior e hoje sou uma pessoa mais feliz e com ainda mais força”, diz, agradecida.

Sair da versão mobile