O fotojornalista Sérgio Silva, 31, segue seu doloroso processo de adaptação à nova realidade. Cinco meses após ter sido ferido no olho esquerdo por uma bala de borracha durante a cobertura das manifestações contra o aumento das tarifas de ônibus em São Paulo, Sérgio passou pela segunda cirurgia. Apenas uma correção estética, no entanto. O dano é irreversível.
Diante do quadro desalentador, o paulistano, que teve a capacidade de exercer a profissão seriamente comprometida, não viu outra solução que não externar a agonia desses últimos meses numa lágrima sentida. Surpreendeu-o, porém, que a lágrima não fosse comum.
“Era a resposta do meu corpo que, em uma espécie de vida após a morte, dava ao meu olho ferido uma oportunidade de manifestar-se pela última vez. Assim, meu olho tristonho resolveu falar e contar sua história através de uma interminável lágrima de sangue. Lágrima que escorreu desenhando em meu rosto uma pergunta, da qual eu não sabia responder”, escreveu Sérgio em seu blogue.
A reação foi típica de repórter: pegar a câmera e registrar a cena numa série de autorretratos. “Foi a maneira que encontrei para dar voz ao meu corpo. Porém, talvez, essa não fosse a resposta que ele gostaria de ouvir. Mas eu sou fotógrafo, e a imagem transformo em palavras, aquela que meu corpo, completo por um olho cego, balbuciando frases e gestos, deseja expressar”, seguiu em seu depoimento.
“Esta é uma série fotográfica composta por cerca de dez imagens, que retrata o meu atual cotidiano. Cenas da minha vida, compartilhada como forma de expressão. Uma tentativa de transformar a dor em palavra. Dor em fotografia. Dor em arte. Porque agora é chegada a hora de levantar a cabeça e seguir em frente!”
Boa sorte, Sérgio.